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o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público

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Também é tributária de Baudelaire a crítica benjaminiana ao progresso, em que o<br />

poeta começa a tecer as primeiras considerações que buscam afastar o progresso material do<br />

espiritual. Para Berman: “Esse dualismo tem alguma semelhança com a dissociação kantiana<br />

entre âmbito numênico e fenomênico, porém vai muito mais longe do que Kant, para quem as<br />

experiências e atividades numênicas – arte, religião, ética – ainda operam no mundo material<br />

do <strong>tempo</strong> e do espaço. 127 ”.<br />

Para Baudelaire, o progresso indefinido proposto como meta no horizonte de<br />

expectativas da humanidade não passaria de uma tortura contínua, uma forma de suicídio<br />

renovada de maneira permanente. Nos termos de Benjamin: “A modernidade deve estar sob o<br />

signo do suicídio que sela uma vantagem heróica que nada concede à atitude que lhe é hostil.<br />

Esse suicídio não é renúncia, mas paixão heróica. É a conquista da modernidade no campo<br />

<strong>das</strong> paixões. 128 ”.<br />

Em Baudelaire, o homem moderno é heróico, ainda que desprovido dos instrumentos<br />

heróicos tradicionais, pois segue a tendência de transformar tudo aquilo que é seu, sua<br />

propriedade, em objeto novo (ou renovado). A vida e as relações modernas são flui<strong>das</strong>, e a<br />

fluidez é a marca do homem moderno que tem seu heroísmo posto a prova em situações de<br />

conflito que permeiam sua vida cotidiana. A modernização não abraçou apenas as<br />

subjetividades, as mudanças ocorri<strong>das</strong> nas cidades produziram reflexos profundos no modo de<br />

vida dos citoyens, como no caso <strong>das</strong> reformas de Haussmann, o “artista demolidor”, urbanista,<br />

prefeito nomeado de Paris responsável por uma profunda transformação da cidade sob o<br />

governo de Napoleão III.<br />

Benjamin relata que Haussmann começou sua obra em 1859, pois Paris estava na<br />

iminência de se tornar inabitável, as pessoas sufocavam nas velhas ruas estreitas, sujas,<br />

confusas e, no início dos anos cinquenta, “... a população de Paris começou a resignar-se à<br />

idéia de uma inevitável e grande purificação da imagem da cidade. 129 ”, que foi acompanhada<br />

de desapropriações e deslocamentos da população – as quais foram as bases para a formação<br />

de fortunas advin<strong>das</strong> da especulação imobiliária. A purificação se estabeleceu, portanto, como<br />

um combate contra a miséria e a revolução, na qual a chegada do ar puro se relacionava com<br />

a entrada do exército na cidade.<br />

Outra característica de Haussmann era o caráter arbitrário, determinado por medi<strong>das</strong><br />

de ordem econômica e militar, que transformaram Paris em um grande mercado de consumo,<br />

127 BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar. p. 136.<br />

128 BENJAMIN, W. A modernidade e os modernos. p. 13.<br />

129 BENJAMIN, W. A modernidade e os modernos. p. 21.<br />

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