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o silêncio das sereias: tempo, direito e violência ... - Domínio Público

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Para José Carlos Reis, o <strong>tempo</strong> é descrito ainda como transcurso, passagem do ser ao<br />

nada e do nada ao ser: “... ele é reduzido à noção de „devir‟, por oposição à de eternidade [...]<br />

Como „devir‟, o ser do <strong>tempo</strong> se confunde com o nada, isto é, ele aparece como o contrário do<br />

ser, ou melhor, ele seria um processo de „nadificação‟. O <strong>tempo</strong> seria a constante reprodução<br />

do ser ao nada, pela sucessão e descontinuação do ser. 34 ”.<br />

2.1 – A linha e o círculo<br />

As reflexões sobre o <strong>tempo</strong>, compreendido como uma manifestação cultural e não<br />

limitado à sua noção física, antecede o nascimento da historiografia, pois pode-se observar,<br />

segundo Dobroruka, nos mitos que falam da origem da morte, explicações acerca da<br />

degeneração do <strong>tempo</strong> 35 . O caráter cultural do <strong>tempo</strong> se explicita de diversas maneiras, e isto<br />

pode ser percebido no tocante à forma como o <strong>tempo</strong> é compreendido pelas culturas distintas.<br />

Como afirma Whitrow: “... nossas idéias de <strong>tempo</strong> não são inatas nem automaticamente<br />

aprendi<strong>das</strong>, e sim construções intelectuais que resultam da experiência e da ação. 36 ”.<br />

A partir da noção de que o conceito de <strong>tempo</strong> não se produz no singular, mas que<br />

existe uma polifonia de conceitos de <strong>tempo</strong>ralidade, que articula sistemas simbólicos diversos,<br />

aproxima-se da inter-relação necessária entre <strong>tempo</strong> e cultura, pois, a experiência do <strong>tempo</strong><br />

(em sentido amplo), como afirma Reis, pressupõe: “... uma representação anterior de uma<br />

„linha do <strong>tempo</strong>‟ – circular, linear, ramificada ou uma combinação delas. 37 ”. Assim, esta<br />

representação do <strong>tempo</strong> se esboça em um plano intermediário entre o <strong>tempo</strong> em que se vive e<br />

o <strong>tempo</strong> como conceito. Não há um, o conceito de <strong>tempo</strong>, as várias concepções formula<strong>das</strong><br />

sobre o <strong>tempo</strong> contribuíram no sentido de produzir uma heterogeneidade conceitual que,<br />

longe de uma unanimidade, enredam uma singela síntese linguística, a dos referenciais que se<br />

colocam em debate 38 .<br />

Atribui-se aos gregos, de maneira genérica, uma noção circular do <strong>tempo</strong>, enquanto<br />

caberia ao judeus a concepção linear. Para Dobroruka, contudo, “... entre os filósofos gregos,<br />

nunca houve acordo quanto à ciclicidade do <strong>tempo</strong>... 39 ”, pois Anaxágoras a teria rejeitado,<br />

assim como Epicuro, ao passo que Aristóteles considerava tal questão de maneira limitada.<br />

34<br />

REIS, J. C. Tempo, história e evasão. p. 10.<br />

35<br />

DOBRORUKA, V. História e milenarismo: ensaios sobre <strong>tempo</strong>, história e o milênio. Brasília: Editora<br />

Universidade de Brasília, 2004. p. 195.<br />

36<br />

WHITROW, G. J. O <strong>tempo</strong> na história: concepções de <strong>tempo</strong> da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar Ed., 1993. p. 18.<br />

37<br />

REIS, J. C. Tempo, história e evasão. p. 13.<br />

38<br />

REIS, J. C. Tempo, história e evasão. p. 15.<br />

39<br />

DOBRORUKA, V. História e milenarismo. p. 197.<br />

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