Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Evanildo Bechara<br />
Assim, o latim penetrou como língua do conquistador na Hispania, noano<br />
197 a.C., e daí em diante outras regiões passaram a engrossar o império romano,<br />
a tal ponto que a História não conheceu outro povo <strong>de</strong> tão larga e profunda<br />
dominação: Illyricum, em 167; Africae Achaia (nome da Grécia), em 146; Asia<br />
(isto é, Ásia Menor), em 129; Gallia Narbonensis (isto é, a antiga Provença, nome<br />
originado <strong>de</strong> província, por ser a província por excelência), em 118; Gallia Cisalpina,em81;Gallia<br />
Transalpina, em 51, <strong>de</strong>pois da campanha <strong>de</strong> Júlio César, a<br />
respeito da qual escreveu o De bello Gallico; Aegyptus, em 30; Rhaetia e Noricum,em<br />
15; Pannonia, em 10 d.C.; Cappadocia, em17;Britannia, em 43; e finalmente a<br />
Dacia (região on<strong>de</strong> hoje se situa a Romênia), em 107.<br />
Por este quadro, vê-se que a atual língua portuguesa, <strong>de</strong> procedência originariamente<br />
galega, não po<strong>de</strong>ria ser, com toda certeza, a “última” flor do Lácio,<br />
embora a romanização da Península Ibérica tivesse levado dois séculos para<br />
completar-se <strong>de</strong>finitivamente.<br />
Cabe lembrar, para concluir este comentário, que algumas províncias<br />
conquistadas, especialmente as mais longínquas e as <strong>de</strong> menor interesse comercial<br />
ou estratégico, nunca foram totalmente romanizadas, enquanto<br />
outras, como a Britannia (= Inglaterra), conheceram um domínio muito<br />
curto, mas <strong>de</strong> penetrante influência cultural. Assim, chegamos a po<strong>de</strong>r afirmar<br />
que a língua portuguesa foi das primeiras a se formar no quadro das<br />
línguas românicas; como afirmou o notável romanista Gustavo Gröber, o<br />
início <strong>de</strong> cada língua românica teve lugar no momento que o latim foi<br />
transplantado para as regiões conquistadas e aí entrou em contacto com o<br />
substrato cultural <strong>de</strong> diferentes povos e, ora mais rígidos, ora mais lassos os<br />
cordões ligados ao po<strong>de</strong>r central <strong>de</strong> Roma, os conquistadores se foram diferençando<br />
do primitivo latim.<br />
Esta presença muito cedo do latim na Península Ibérica é responsável por<br />
certas características lingüísticas arcaicas do chamado latim hispânico, <strong>de</strong> que<br />
resultaram o galego-português e o espanhol, quer na fonologia, quer na gramática<br />
(morfologia e sintaxe), quer no léxico. Assim nesse latim hispânico ocorrem<br />
os seguintes fatos, <strong>de</strong>sconhecidos <strong>de</strong> outras línguas românicas:<br />
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