13.06.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sinto sauda<strong>de</strong>s do que nunca fui,<br />

do que <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> ser, do que sonhei<br />

e se escon<strong>de</strong>u <strong>de</strong> mim atrás da porta. (p. 1043)<br />

Trata-se <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> profunda dimensão existencial-ontológica. Versa<br />

o tema da dispersão. E Ivan Junqueira aproxima-o acertadamente do<br />

Sá-Carneiro que alu<strong>de</strong> ao “labirinto” 2 que é, e que está justamente no poema<br />

“Dispersão”. 3 A primeira estrofe apresenta o poeta confessando escon<strong>de</strong>r-se<br />

diante daquele que o busca. A segunda estrofe mostra que a essência do poeta<br />

está “além” <strong>de</strong> si mesmo. E surgem as belas metáforas dos dois <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iros versos<br />

da estância. Parece construir-se nesta, ainda, um modo altivo <strong>de</strong> quem não<br />

se quer entregar. Mas na estrofe seguinte aparece o verso chave, em que <strong>de</strong>clara<br />

o poeta não se encontrar a si mesmo: “Sempre an<strong>de</strong>i me buscando e não me<br />

achei.” A “luz perdida <strong>de</strong> uma estrela morta” po<strong>de</strong> referir-se à perda da amada.<br />

O primeiro verso da última estrofe constitui o processo da “presença da ausência”,<br />

próprio da poesia pura <strong>de</strong> Mallarmé, além <strong>de</strong> lembrar as sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inexistências<br />

<strong>de</strong> Sá-Carneiro. 4 Os dois versos finais sugerem a essência do poético,<br />

a qual coinci<strong>de</strong> com o sentido <strong>de</strong> ser e da realização humana, e que ficou<br />

talvez latente no menino e acaso brincava com este <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong> “atrás<br />

da porta”, repercutindo isso no adulto.<br />

Observemos “O Vencedor”:<br />

Quero tudo a que tenho direito,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o laivo que arroxeia o pôr-do-sol<br />

ao peixe que se <strong>de</strong>bate com o anzol<br />

na minha pescaria imaginária.<br />

86<br />

Linhares Filho<br />

2<br />

Cf. JUNQUEIRA, Ivan. Quem tem medo <strong>de</strong> Lêdo Ivo? In: IVO, Lêdo. Ibi<strong>de</strong>m, p. 42.<br />

3<br />

SÁ-CARNEIRO, Mário <strong>de</strong>. Poesias. Estudo crítico <strong>de</strong> João Gaspar Simões. Lisboa: Ática, 1973, pp.<br />

61-65.<br />

4<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 64.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!