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Untitled - Novafapi

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Cardoso, J. C.; Carvalho, T. A.; Fernandes, M. A.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Desde os tempos mais remotos, os transtornos mentais fazem<br />

parte da história da humanidade, sendo vistos como algo demoníaco, de<br />

bruxaria ou dos deuses. Nas sociedades pré-capitalistas os loucos eram<br />

bem tolerados, quando calmos ficavam a vagar pelas ruas e mercados das<br />

cidades, sobrevivendo da caridade pública e de pequenos serviços. Já os<br />

loucos de famílias mais abastadas ficavam em casa sobre os cuidados da<br />

família. Nessa época, as formas de tratamento eram muito rudimentares<br />

com alto grau de brutalidade (SOARES, 2005).<br />

Nesse contexto o Transtorno Bipolar de Humor (TBH) é um transtorno<br />

psiquiátrico que se caracteriza, entre outros, por mudanças consideráveis<br />

do humor entre euforia (mania) e depressão, podendo interferir<br />

na vida do paciente ocasionando prejuízos funcionais expressivos, dificuldades<br />

para o autocuidado, comportamentos inadequados e problemas<br />

de relacionamento interpessoal (MIASSO, MONTRSHI, GIACCHERO, 2009).<br />

Almeida (2002) afirma que o TBH é um tipo de enfermidade em<br />

que existe uma alteração do humor, da energia (ânimo) e do jeito de sentir,<br />

pensar e se comportar. Acontecem como crises únicas ou cíclicas, oscilando<br />

ao longo da vida. Na depressão a pessoa sente tristeza exagerada e desânimo<br />

e na mania um aumento da energia e euforia anormal. A maioria<br />

dos pacientes sofre apenas de depressão e alguns também têm manias. O<br />

termo mania não significa “mania de fazer alguma coisa” ou algum tique -<br />

é simplesmente o nome que o médico dá para a fase de euforia da doença<br />

maníaco-depressiva. Às vezes surgem sintomas depressivos e maníacos<br />

simultaneamente, os chamados estados mistos. Os sintomas de euforia e<br />

depressão podem variar de um paciente a outro e no mesmo paciente ao<br />

longo do tempo, muitas vezes confundindo a ele e seus familiares.<br />

As características clínicas do TBH conduzem muitas vezes os familiares<br />

a direcionarem, inicialmente, a outras causas como estresse e problemas<br />

espirituais (SOARES, 2005).<br />

Apesar da importante prevalência e gravidade do TBH, sua relação<br />

com a religiosidade ou espiritualidade ainda é pouco conhecida. Os estudos<br />

obtidos apontam maior ocorrência de relatos de conversão religiosa e<br />

experiências de salvação entre pacientes bipolares do que entre pacientes<br />

com outros transtornos mentais, além de maior freqüência de delírios de<br />

conteúdo místico na vigência de mania (STROPPA, MOREIRA-ALMEIDA,<br />

2009).<br />

Nota-se que o TBH é uma doença crônica que afeta cerca de 1%<br />

da população e representa uma das principais causas de incapacitação no<br />

mundo. Nos últimos 10 anos, tem-se demonstrado que o TBH é um transtorno<br />

heterogêneo, com uma ampla variação de sintomatologia e curso.<br />

Apesar dos avanços dos métodos de pesquisa em psiquiatria biológica e<br />

do atual conhecimento sobre os mecanismos de ação dos estabilizadores<br />

de humor, a fisiopatologia do TBH está ainda distante de ser completamente<br />

entendida (KAPCZINSKI, FREY, ZANNATTO, 2004).<br />

A família pode ser definida como uma organização da sociedade<br />

que vem sofrendo mudanças ao longo da história e possui várias funções<br />

numa mesma época e lugar. Mesmo apresentando algumas desavenças a<br />

família é única em seu predominante desenvolvimento da sociabilidade,<br />

da afetividade e do bem-estar físico dos seus seres, principalmente durante<br />

a infância e a adolescência (NAVARINI, HIRDES, 2008).<br />

Quando um familiar apresenta sintomas de TBH, a família experimenta<br />

vários sentimentos em relação ao doente e à doença. Surgem,<br />

em geral, conflitos familiares, problemas financeiros, isolamento e falta de<br />

suporte (SOUZA, 2008).<br />

Desta forma, a família deve adaptar-se com vistas a manter um<br />

equilíbrio que propicie uma melhor qualidade de vida tanto para o doente<br />

quanto para os familiares. A falta de adaptação pode contribuir negativamente<br />

para a evolução da doença e aquelas famílias que experimentam<br />

dificuldades de adaptação para incorporar o gerenciamento da doença<br />

no seu cotidiano, permanece como um foco desagradável na vida familiar<br />

(SOUZA, 2008).<br />

Nesse sentido discutir essa temática é de extrema relevância, pois<br />

partimos do entendimento de que os portadores de transtornos mentais<br />

que não são acompanhados e envolvidos com seus familiares têm dificuldades<br />

no seu cotidiano, no âmbito social, sentindo-se solitário, com maior<br />

possibilidade de desenvolver crises tendo como conseqüência internações<br />

em hospitais psiquiátricos.<br />

A partir dessas considerações, este estudo teve como objetivo<br />

compreender a percepção da família frente ao diagnóstico de Transtorno<br />

Bipolar de Humor.<br />

2 METODOLOGIA<br />

Trata-se de um estudo descritivo construído na abordagem qualitativa.<br />

Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva caracteriza-se por observar,<br />

registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipular variáveis.<br />

Para o autor esse tipo de pesquisa procura descobrir a freqüência com<br />

que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros fenômenos,<br />

sua natureza e características e tem como objetivo principal das características<br />

de dadas populações ou fenômenos.<br />

Gil (2002) acrescenta ainda, que esse tipo de estudo visa proporcionar<br />

um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim<br />

de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses<br />

que possam ser pesquisadas por estudos posteriores.<br />

O cenário da pesquisa foi um Hospital Público Psiquiátrico de Teresina-PI,<br />

o Hospital Areolino de Abreu (HAA), localizado à Rua José Soares<br />

Ferry, número 2420, bairro Primavera, zona norte da cidade, no Estado de<br />

Piauí/Brasil. Os sujeitos do estudo foram um grupo de 12 indivíduos, familiares<br />

de pessoas portadoras de TBH que estavam em tratamento no<br />

referido hospital durante o mês de outubro de 2010.<br />

O campo foi escolhido por ser uma instituição psiquiátrica pública<br />

estadual, considerada como o serviço de referência no Estado na área de<br />

saúde mental, além de ser uma instituição conhecida pelos pesquisadores<br />

que a utilizaram como campo de estágio nas disciplinas Enfermagem em<br />

Saúde Mental, Psicologia Aplicada a Enfermagem e Enfermagem Psiquiátrica.<br />

O HAA é um hospital de ensino e conta com 160 leitos destinados<br />

a internação integral pelo SUS, 30 leitos de semi-internação (Hospital-Dia)<br />

e 12 apartamentos reservados a atendimentos particulares e conveniados.<br />

São realizados mensalmente de 3 a 4 mil atendimentos ambulatoriais,<br />

cerca de 400 atendimentos de urgência e emergência e 200 internações<br />

integrais.<br />

O ambulatório do HAA conta com uma equipe multiprofissional<br />

26 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.25-29, Jan-Fev-Mar. 2011.

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