Uso racional de medicamentos: temas selecionados, 2012.
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Medicamentos indicados no controle<br />
da crise asmática<br />
Evidências sobre a eficácia <strong>de</strong> broncodilatadores<br />
em adultos e crianças<br />
Agonistas beta-2 adrenérgicos <strong>de</strong> ação<br />
curta são agentes <strong>de</strong> inalação e constituem a<br />
primeira opção para alívio <strong>de</strong> crises instaladas<br />
em todos os estágios da asma, por terem rápido<br />
início <strong>de</strong> ação (5 minutos ou menos), pico entre<br />
30 e 60 minutos e duração <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> 4 a 6<br />
horas. <strong>Uso</strong> por <strong>de</strong>manda, ou seja, para alívio<br />
<strong>de</strong> crise <strong>de</strong> dispneia ou tosse, é a única terapia<br />
recomendada para casos <strong>de</strong> asma intermitente,<br />
uma vez que o uso contínuo não acrescenta<br />
benefícios e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>letério em pacientes<br />
com variações genotípicas do receptor beta. O<br />
uso crônico tem-se associado à perda do controle<br />
da asma e mesmo a aumento <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>. 19<br />
Esses fármacos são os mais eficazes<br />
broncodilatadores conhecidos. A inalação<br />
propicia comodida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administração,<br />
mais rápido início <strong>de</strong> ação, atingimento direto<br />
e imediato do tecido suscetível, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
eficácia com uso <strong>de</strong> menores doses e menores<br />
efeitos adversos sistêmicos em comparação a<br />
formulações orais. Resposta broncodilatadora<br />
a agonistas beta-2 é, inclusive, padrão-ouro<br />
para diagnóstico <strong>de</strong> obstrução brônquica<br />
reversível em laboratórios <strong>de</strong> espirometria.<br />
Salbutamol inalado é consi<strong>de</strong>rado a primeira<br />
escolha nessa situação.<br />
Agonistas beta-2 inalados po<strong>de</strong>m ser administrados<br />
por meio <strong>de</strong> dispositivos: nebulizador pressurizado<br />
(nebulímetro, aerossol dosificador ou aerossol<br />
dosimetrado); micronebulizador ultrassônico;<br />
micronebulizador com pressão positiva intermitente;<br />
micronebulizador com compressão <strong>de</strong> ar ou gás;<br />
micronebulizador manual e inalador <strong>de</strong> pó. Não<br />
há vantagens inequívocas <strong>de</strong> nenhum dispositivo,<br />
<strong>de</strong>vendo-se, sempre que possível, respeitar a escolha<br />
pessoal do paciente, com o intuito <strong>de</strong> facilitar a a<strong>de</strong>são. O<br />
uso <strong>de</strong> aerossol dosimetrado requer treinamento para<br />
administrar corretamente. Para lactentes e crianças<br />
com 4-6 anos, recomenda-se espaçador. Apesar <strong>de</strong><br />
custo unitário maior, o aerossol libera 200 doses, com<br />
cobertura <strong>de</strong> 60 dias <strong>de</strong> tratamento, ao passo que um<br />
vidro <strong>de</strong> xarope <strong>de</strong> salbutamol é consumido em cinco<br />
dias. No tratamento <strong>de</strong> manutenção, os aerossois<br />
po<strong>de</strong>m ser custo-efetivos.<br />
Formoterol, embora seja um agonista beta-<br />
2 <strong>de</strong> longa duração, tem sido usado como<br />
medicamento sintomático na crise por ter rápido<br />
início <strong>de</strong> ação. Revisão sistemática Cochrane <strong>de</strong><br />
oito estudos (22.604 adultos) comparou formoterol<br />
“se necessário” à terbutalina (seis estudos) e<br />
a salbutamol “se necessário” (dois estudos).<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong><br />
140<br />
Formoterol só mostrou benefício significativo sobre<br />
exacerbações que requeriam corticoi<strong>de</strong>s orais.<br />
Diante do mo<strong>de</strong>sto benefício, <strong>de</strong>ve ser pesado o<br />
risco potencial <strong>de</strong> uso prolongado <strong>de</strong> agonistas<br />
beta-2 que só <strong>de</strong>veriam ser cogitados em pacientes<br />
já em uso <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong> inalado. 20<br />
Brometo <strong>de</strong> ipratrópio, associado à beta<br />
2-gonista por inalação, oxigênio e corticoi<strong>de</strong><br />
sistêmico, foi recomendado pelas diretrizes do<br />
National Asthma Education and Prevention Program<br />
(NAEPP) Expert Panel Report 3 for the Management<br />
of Asthma Exacerbations para tratamento <strong>de</strong> crises<br />
graves <strong>de</strong> asma aguda em crianças e adultos<br />
recebidos nos serviços <strong>de</strong> emergência. 21<br />
Em revisão sistemática 22 <strong>de</strong> 32 estudos<br />
(n= 3.611 pacientes), a adição <strong>de</strong> múltiplas doses<br />
<strong>de</strong> ipratrópio ao agonista beta-2, seja por aerossol<br />
ou nebulização, reduziu admissão hospitalar tanto<br />
em crianças (RR = 0,73; IC95%: 0,63-0,85; P =<br />
0,0001) como em adultos (RR = 0,68; IC95%: 0,53-<br />
0,86; P = 0,002), além <strong>de</strong> melhorar parâmetros<br />
espirométricos 60 a 120 minutos <strong>de</strong>pois da última<br />
dose. Em revisão Cochrane 23 <strong>de</strong> estudos realizados<br />
em crianças, tal intervenção apresentou NNT <strong>de</strong> 12<br />
(IC95%: 8-32) para reduzir uma internação, ou <strong>de</strong><br />
apenas 7 (IC95%: 5-20) nos casos mais graves.<br />
Porém não há evidência <strong>de</strong> que múltiplas doses<br />
<strong>de</strong> anticolinérgico <strong>de</strong>vam ser usadas em crianças<br />
com exacerbações leves e mo<strong>de</strong>radas. Em casos<br />
extremamente graves, a ausência <strong>de</strong> benefício da<br />
associação foi atribuída à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso<br />
ao tecido-alvo. Ensaio clínico randomizado e<br />
duplo-cego (n=141) comparou levalbuterol mais<br />
ipratrópio a levalbuterol sozinho nessa condição.<br />
A combinação dos fármacos não foi superior à<br />
monoterapia em alívio da obstrução ou redução<br />
da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hospitalização em pacientes<br />
atendidos na emergência. 24<br />
Evidências sobre a segurança <strong>de</strong><br />
broncodilatadores em adultos e crianças<br />
Efeitos adversos <strong>de</strong> salbutamol são dose<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
e dose-limitados. Doses orais altas<br />
induzem taquicardia, palpitações, diminuição<br />
da saturação <strong>de</strong> oxigênio, rubicun<strong>de</strong>z,<br />
hiperativida<strong>de</strong>, tosse prolongada e tremores. A<br />
correta frequência <strong>de</strong> uso por inalação diminui a<br />
incidência <strong>de</strong>sses efeitos.<br />
A adição <strong>de</strong> ipratrópio a levalbuterol induziu<br />
1,5 vezes mais palpitações do que em pacientes<br />
tratados somente com o agonista beta-2 (RR= 1,5;<br />
IC95%: 1,2-1,9).24<br />
O emprego correto <strong>de</strong> simpaticomiméticos<br />
inalados apresenta comumente ampla margem <strong>de</strong><br />
segurança. Tremor, principalmente nas mãos (20%),<br />
é o efeito adverso mais frequente. Palpitações