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GRANDE ENTREVISTA<br />

046<br />

“FIQUEI FELIZ E<br />

ESPERANÇADO COM A<br />

VITÓRIA ELEITORAL DO PSD”<br />

Escreveu, há algum tempo: “Já não cantam<br />

os amanhãs, embora ainda haja luar”. Poderá<br />

ser esta, ainda, uma legenda possível<br />

que o leve, em alguma destas noites solsticiais,<br />

a caracterizar o seu esta<strong>do</strong> de alma<br />

perante a situação actual <strong>do</strong> país?<br />

Os tempos actuais não são de moderação<br />

mas, sim, de mudança, de viragem, de desafio,<br />

em que o futuro é um processo radicalmente<br />

aberto e in-determina<strong>do</strong> em permanente<br />

movimento de auto-superação.<br />

Bem sei (até porque algumas coisas tenho<br />

escrito sobre o tema) que os “signos <strong>do</strong> nosso<br />

tempo” são os da “crise <strong>do</strong> futuro”. Mas é preciso<br />

que nos libertemos de uma dupla ilusão<br />

que <strong>do</strong>minou a “intelligentzia” desde há décadas:<br />

a nostalgia de um passa<strong>do</strong> fin<strong>do</strong> assim<br />

como a esperança de um futuro radioso.<br />

É que se, ontem, tínhamos o direito de<br />

ser fatalistas por optimismo, <strong>do</strong>ravante<br />

devemos ser audaciosos por pessimismo.<br />

Nesta consciência crítica perpassa<br />

um optimismo pessimista, corrijo, um<br />

pessimismo optimista (enganei-me de<br />

propósito), uma visão desola<strong>do</strong>ra com<br />

um mínimo de esperança.<br />

Mas é neste desfasamento entre a idealidade<br />

e a realidade que radica o nó-górdio<br />

da condição humana. Viver o tempo como<br />

uma enriquece<strong>do</strong>ra tensão entre a memória<br />

<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e a pulsão das saudades <strong>do</strong><br />

futuro, com a lucidez de quem está avisa<strong>do</strong><br />

de que a mesma luz que ilumina é também<br />

a luz que cega e sabe, como única certeza,<br />

que os conceitos de realidade, de senti<strong>do</strong> e<br />

até de destino têm de ser constantemente<br />

interroga<strong>do</strong>s. Fiel à verdade que a vida nos<br />

concede: a nossa razão humana.<br />

Já não haverá, portanto, lugar a certezas<br />

imutáveis e definitivas…<br />

No meu pessimismo optimista trago mais<br />

interrogações, dúvidas e perplexidades,<br />

<strong>do</strong> que certezas e caminhos. Porventura,<br />

alguns da<strong>do</strong>s, algumas pistas, alguns,<br />

poucos, trilhos. Problematizar e procurar<br />

respostas, ainda que parciais e fragmentárias,<br />

atenden<strong>do</strong> unicamente ao seu interesse<br />

informativo, <strong>do</strong>cumental e polémico.<br />

A verdade deixou de ser um conceito<br />

hegemónico. Quero dizer. Uma abordagem<br />

que se caracteriza, antes de mais, pelo seu<br />

próprio movimento, pela mobilidade <strong>do</strong><br />

pensamento, <strong>do</strong> pensar em contraban<strong>do</strong>,<br />

desse mo<strong>do</strong>, talvez filosofante, de perpétuo<br />

afirmativo embora continue a pecar pela falta<br />

de organização das suas elites, embora as<br />

tenha e das melhores mas infelizmente em<br />

perda perante o <strong>do</strong>mínio centralista da capital.<br />

Eça é que é Eça! O país lamentavelmente<br />

continua a ser Lisboa e o resto é paisagem…<br />

“TENHO SEMPRE, DESDE<br />

SEMPRE E ATÉ SEMPRE, UM<br />

SENTIMENTO DE PERTENÇA<br />

AO PORTO”<br />

Falemos um pouco da sua cidade e da<br />

sua “relação estreita e íntima»”que com<br />

ela afirma manter. Como é que a vê hoje<br />

e que aspecto mais destacaria na sua<br />

evolução recente?<br />

O <strong>Porto</strong>, para mim, na clareza lapidar e<br />

fulgurante de Sophia, é “a pátria dentro<br />

da pátria”. Aliás, a mim, basta-me ser <strong>do</strong><br />

<strong>Porto</strong> para ser português. Relação pessoal<br />

e íntima esta minha com o <strong>Porto</strong>, de tão<br />

antiga, amorosa e tormentosa, como a de<br />

um velho casal, atravessada de memórias<br />

e afectos, de cumplicidades e partilhas, de<br />

exaltações e desilusões, de encantos e desencantos.<br />

Tenho sempre, desde sempre e<br />

até sempre, um sentimento de pertença ao<br />

<strong>Porto</strong>, sustento da minha identidade, vinca<strong>do</strong><br />

pelas razões <strong>do</strong> coração e que a razão<br />

reconhece. A identidade, por vezes, terá de<br />

ser convulsiva ou não será. A identidade é<br />

a história e esta, sobre ser uma continuidade,<br />

é uma impaciência. E o <strong>Porto</strong> é o lugar<br />

primeiro e cimeiro da “minha aparição<br />

a mim próprio”. (Vergílio Ferreira).<br />

E <strong>do</strong> ponto de vista social, como o vê?<br />

O <strong>Porto</strong> actualmente está mais justo socialmente,<br />

mais conti<strong>do</strong> na construção faraónica<br />

de prédios gigantescamente odiosos, mais<br />

limpo e assea<strong>do</strong>, mais cuida<strong>do</strong>, mais transitável,<br />

menos poluí<strong>do</strong>, esteticamente mais<br />

decente, cultural e cientificamente mais<br />

Além da Foz, que outros locais <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />

mais gosta de fruir, capazes de lhe despertarem<br />

esse tal sentimento de que lhe “basta<br />

ser <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> para ser português”?<br />

“RUI RIO FIRMOU NO PORTO O<br />

SEU DESTINO COMO POLÍTICO<br />

E GOVERNANTE DE PRIMEIRA<br />

ÁGUA”<br />

Vislumbra algum aspecto identitário<br />

entre o mo<strong>do</strong> como o <strong>Porto</strong> hoje “respira”<br />

com o mo<strong>do</strong> como politicamente<br />

tem si<strong>do</strong> geri<strong>do</strong> pelo actual Presidente<br />

da Câmara, de cujas candidaturas o<br />

senhor assumiu a responsabilidade de<br />

ser mandatário?<br />

O Presidente Rui Rio não é só um genuíno<br />

social-democrata mas tem-se<br />

comporta<strong>do</strong> fielmente como tal de<br />

acor<strong>do</strong> com as suas convicções. Honra<br />

que seja, que lhe é devida! “A tout<br />

Seigneur tout honneur”! A inclinação

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