Corpo e Hibridação na Atualidade Tecnológica - Instituto de ...
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“O homem senhor e dono da <strong>na</strong>tureza não é uma <strong>de</strong>finição<br />
oci<strong>de</strong>ntal que se contraporia a todas as outras, é uma figura<br />
provisória que <strong>de</strong>fine por um tempo esta cultura entre outras, <strong>na</strong><br />
qual viveram nossos pais, e <strong>na</strong> qual não viverão nossos filhos”<br />
(Latour, 1998: 99-100).<br />
A metáfora da caixa-preta nos parece, portanto, bastante interessante para<br />
compreen<strong>de</strong>r o modo como o corpo é concebido <strong>na</strong> Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: Um corpo dado,<br />
<strong>na</strong>tural que não po<strong>de</strong>ria ser violado, nos parece configurar, <strong>na</strong> Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, uma caixapreta.<br />
E que, <strong>na</strong> <strong>Atualida<strong>de</strong></strong>, parece ser ponto <strong>de</strong> controvérsias, o que implica <strong>na</strong> abertura<br />
<strong>de</strong>sta caixa-preta. A invasão por drogas psicofarmacológicas, braços mecânicos,<br />
marcapassos, sondas, órgãos transplantados, ultra-sonografia, câmeras fotográficas –<br />
engolidas como pílulas – oferecem um panorama interno do corpo, transformamdo-o. O<br />
mundo inva<strong>de</strong> o interior do humano, enquanto ele se conecta com o fora. A mistura, a<br />
hibridação, cria um objeto novo, que não po<strong>de</strong> mais ser totalmente encaixado em<br />
estruturas conhecidas, dadas.<br />
Com a abertura da caixa-preta “corpo”, acreditamos que também a caixa-preta<br />
humano começou a ser aberta e temos que <strong>de</strong>batê-la incessantemente, tentando enten<strong>de</strong>r<br />
os seus processos, buscando sua compreensão. Trata-se aqui <strong>de</strong>, a partir da dinâmica <strong>de</strong><br />
perseguir o fato duro “corpo” <strong>na</strong> re<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>r as transformações do humano:<br />
“A nuvem que nos pare é a artificialização generalizada, que ao<br />
diluir as fronteiras tradicio<strong>na</strong>is entre <strong>na</strong>tureza e cultura, sujeito e<br />
objeto, interiorida<strong>de</strong> e exteriorida<strong>de</strong>, começa a nos converter em<br />
híbridos <strong>de</strong> humano e inumano. A exemplo da <strong>na</strong>notecnologia, as<br />
<strong>de</strong>mais novíssimas tecnologias que <strong>de</strong>verão entrar em ce<strong>na</strong> <strong>na</strong>s<br />
primeiras décadas do novo milênio – a robótica e as biotécnicas<br />
– têm como fundamento a crescente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipular<br />
objetos infinitesimais, contudo seu campo <strong>de</strong> aplicações inclui,<br />
<strong>de</strong>cididamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a partida, nossos corpos e espíritos.<br />
Estamos a caminho <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r re<strong>de</strong>senhar a forma huma<strong>na</strong>”<br />
(Oliveira, 2002:212, grifo nosso).