Corpo e Hibridação na Atualidade Tecnológica - Instituto de ...
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estaria o espaço on<strong>de</strong> se daria a produção <strong>de</strong> “objetos”, um espaço <strong>de</strong> mediação em que<br />
proliferam os híbridos – mistos <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza e cultura.<br />
A constituição mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> 2 produz, assim, uma separação entre o mundo das coisas<br />
e dos sujeitos, ou, <strong>de</strong> outro modo, dos humanos e não-humanos, e tenta, através do<br />
processo <strong>de</strong> purificação – encaixando o objeto num pólo ou em outro – reparar estas<br />
entida<strong>de</strong>s híbridas. Só que, paradoxalmente, são produzidas mais entida<strong>de</strong>s híbridas,<br />
misturas <strong>de</strong> humanos e não-humanos, <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza e cultura. Apesar da gran<strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> híbridos que são produzidos <strong>de</strong>sta mistura, os mo<strong>de</strong>rnos se esforçam para<br />
conseguir purificar estes híbridos. Então, para sustentar esta separação completa do<br />
mundo dos humanos e não-humanos, também tem que existir uma separação entre o<br />
mundo dos híbridos e o processo <strong>de</strong> purificação, a fim <strong>de</strong> não aparecer a simetria entre<br />
os humanos e não-humanos.<br />
A Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tenta negar, então, a figura do híbrido, por consi<strong>de</strong>rá-lo<br />
vertiginoso, e procura encaixá-lo em categorias <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza ou cultura. Para Latour,<br />
2 Segundo Latour, a constituição mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> é um regimento implícito a envolver a atitu<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />
separação, em pólos, do propriamente humano e do propriamente não-humano. Sendo assim, funda-se<br />
uma dicotomia entre a <strong>na</strong>tureza e a cultura. De um lado, focaliza-se a <strong>na</strong>tureza como exterior ao humano,<br />
e <strong>de</strong> outro, um soberano campo político, cultural, dos humanos entre si a construir <strong>na</strong>turezas. Esta<br />
constituição apresenta garantias contraditórias, fazendo apelo à imanência e a transcendência<br />
concomitantemente. Depen<strong>de</strong>ndo do pólo em que nos situamos, “a <strong>na</strong>tureza não é uma construção<br />
nossa: é transcen<strong>de</strong>nte” (Latour, 1994: 37) e a “socieda<strong>de</strong> é uma construção nossa: ela é imanente”<br />
(Latour, 1994: 37). Este é o primeiro paradoxo constitucio<strong>na</strong>l mo<strong>de</strong>rno. O segundo paradoxo é que“nós<br />
construímos artificialmente a <strong>na</strong>tureza no laboratório: ela é imanente” (Latour, 1994: 37) e “não<br />
construímos a socieda<strong>de</strong>, ela é transcen<strong>de</strong>nte e nos ultrapassa” (Latour, 1994: 37). Por fim, a<br />
constituição mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> se configura com três garantias:<br />
• “1 ª garantia: ainda que sejamos nós que construímos a <strong>na</strong>tureza, ela funcio<strong>na</strong> como se nós não<br />
a construíssemos”.<br />
• “2 ª garantia: ainda que não sejamos nós que construímos a socieda<strong>de</strong>, ela funcio<strong>na</strong> como se<br />
nós a construíssemos”.<br />
• “3 ª garantia: a <strong>na</strong>tureza e a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem permanecer absolutamente distintas; o trabalho<br />
<strong>de</strong> purificação <strong>de</strong>ve permanecer absolutamente distinto do trabalho <strong>de</strong> mediação” (Latour,<br />
1994: 37).<br />
Às três garantias anteriores, Latour acrescenta mais uma: o Deus suprimido. A simetria entre os pólos<br />
seria evitada através da figura <strong>de</strong> um Deus transcen<strong>de</strong>nte trazido para o campo da imanência, a fim <strong>de</strong><br />
justificar a predominância <strong>de</strong> um pólo ou <strong>de</strong> outro.