Semanário Angolense 360 edição - Falambora-Chat
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24 Sábado, 27 de Março de 2010.<br />
The Wall Street Journal<br />
Prada opera ao ritmo de um relacionamento vulcânico<br />
Patrizio Bertelli é a cabeça e Miuccia Prada, os braços<br />
Patrizio Bertelli e Miuccia Prada, o casal de maior sucesso da indústria de artigos de luxo, estão juntos<br />
desde os anos 70<br />
Bertelli e uma escultura do artista Michael Heizer na Fundação Prada<br />
Por Alessandra Galloni,<br />
com fotos de Brigitte<br />
Lacombe<br />
Patrizio Bertelli, o diretor-presidente<br />
da casa de moda italiana Prada,<br />
é um homem grisalho de 1,80<br />
m de altura que grita bastante, e<br />
naquela tarde os gritos estavam<br />
dirigidos à rede americana de lojas<br />
de departamento Neiman Marcus.<br />
Bertelli havia acabado de se reunir<br />
com o presidente do conselho<br />
da Neiman, Burton Tansky, de 72<br />
anos, que voou de Dallas a Milão<br />
para tentar aparar as diferenças<br />
sobre como a cadeia expõe roupas,<br />
bolsas, sapatos e perfumes Prada<br />
em suas lojas.<br />
“Disse a Tansky: não venha aqui<br />
querendo bancar o texano comigo.<br />
Tô me lixando pro seu jeitão John<br />
Wayne”, fala Bertelli em tom exaltado,<br />
o grande nariz aquilino se<br />
mexendo entre os aros negros de<br />
seus óculos, enquanto solta o “c”<br />
carregado que marca seu sotaque<br />
tipicamente toscano. (Tansky depois<br />
descreveu a conversa como<br />
um diálogo “acalorado” entre<br />
duas pessoas que são “orgulhosas<br />
e intensas em relação a seus negócios”.)<br />
Como administrador de<br />
uma das maiores grifes do mundo,<br />
Bertelli ainda lambe as feridas que<br />
surgiram quando varejistas americanos<br />
cortaram os preços dos<br />
produtos de luxo no fim de 2008 em<br />
resposta à crise econômica. Para se<br />
livrar do estoque, a Neiman Marcus,<br />
a Saks e outras ofereceram<br />
descontos de até 70% para bolsas<br />
de US$ 1.500 e sapatos de US$ 750,<br />
e isso levou as empresas de luxo europeias<br />
a temer que seus clientes<br />
nunca mais fossem pagar por produtos<br />
caros. Agora que a economia<br />
começa a se recuperar, muitos executivos<br />
do setor estão tentando garantir<br />
mais controle sobre as vendas<br />
em lojas de departamento — e<br />
Bertelli está assumindo o desafio<br />
com particular interesse. “Gosto<br />
de Tansky. O verdadeiro problema<br />
é que a América é uma egocêntrica<br />
da po...”<br />
Bertelli, de 63 anos, é o cérebro<br />
por trás de uma grife que a maioria<br />
das pessoas associa com a mulher<br />
dele, Miuccia Prada, a estilista<br />
avant-garde que ao longo dos anos<br />
criou sensações mundiais com mochilas<br />
de náilon industrial pretas,<br />
saias xadrez com motivos de papel<br />
de parede, vestidos tingidos e<br />
sapatos com grossos saltos altos,<br />
para citar só alguns.<br />
Se Prada é uma das mais influentes<br />
estilistas do mundo, Bertelli é a<br />
grande influência dela. Desde 1977,<br />
quando o casal se conheceu numa<br />
exposição em Milão, Bertelli tem<br />
encorajado sua mulher a assumir<br />
riscos que transformaram a empresa<br />
num conglomerado mundial<br />
da moda com US$ 2,4 bilhões em<br />
faturamento, quatro grifes — Prada,<br />
Miu Miu e as marcas de calçados<br />
Church’s e Car Shoe — e 267 lojas<br />
de San Francisco a Seul. Bertelli<br />
pressionou Prada a abrir a primeira<br />
loja da marca em Nova York em<br />
1986. Dois anos depois, fez com que<br />
ela começasse a desenhar roupas<br />
femininas e cinco anos mais tarde<br />
colocou-a no vestuário masculino.<br />
“Ele é muito mais provocador do<br />
que eu”, diz Prada. “Com ele, você<br />
sempre se questiona. Ele e eu temos<br />
uma pequena regra de três.<br />
Se ele diz algo mais de três vezes,<br />
preciso pensar a respeito. Às vezes<br />
não quero ouvir, mas ouço.” Agora,<br />
por exemplo, ele está insistindo<br />
que ela dê mais atenção ao marketing<br />
via celebridades de Hollywood<br />
— algo que ela sempre ignorou.<br />
“Ele diz que somos esnobes e que<br />
não entendemos cultura pop”, diz<br />
Prada a respeito dela mesma e de<br />
sua equipe de criação. “Ele é a cabeça,<br />
nós somos os braços.”<br />
A parceria Bertelli-Prada é o<br />
coração de uma empresa que prosperou<br />
nos últimos 25 anos como<br />
um empreendimento tipicamente<br />
familiar — com Bertelli como o<br />
chefe. Bertelli, Prada e os irmãos<br />
dela têm perto de 95% da empresa.<br />
Bertelli e Prada atuam como<br />
diretor-presidente e presidente<br />
do conselho, respectivamente. Ele<br />
imbui o lado empresarial da marca<br />
com a mesma intensidade que ela<br />
faz no criativo. Antigos e atuais<br />
executivos o descrevem como um<br />
chefe infatigável e carismático,<br />
com conhecimento íntimo da empresa,<br />
da costura dos sapatos à cor<br />
das paredes das butiques Prada.<br />
Mas eles dizem que Bertelli pode<br />
assumir coisas demais. Ele dá a última<br />
palavra para todas as coisas,<br />
de contratações a quantas peles<br />
preciosas encomendar para uma<br />
linha de bolsas. Quando um executivo<br />
sai — e vários saíram depois<br />
de atritos com o chefe —, Bertelli<br />
normalmente assume a função interinamente.<br />
Executivos temem<br />
tomar decisões sem a aprovação<br />
dele, e poucos ousam contradizêlo.<br />
“É a lei da selva”, diz Gian Giacomo<br />
Ferraris, diretor-presidente da<br />
Versace, que trabalhou no grupo<br />
Prada há alguns anos. “Ele cobra<br />
muito de si mesmo, e portanto dos<br />
outros. Ou você joga no nível dele,<br />
ou ele o escanteia.”<br />
Bertelli é conhecido por seu temperamento<br />
forte, que é em parte<br />
pose. “Sempre digo a Bertelli: você<br />
gosta desta reputação, porque se<br />
não a mudaria”, diz Prada, que costuma<br />
se referir ao marido pelo sobrenome.<br />
Quando supervisionava<br />
a decoração de uma nova loja Miu<br />
Miu em Manhattan em 1997, ele<br />
não gostou de um espelho e o destruiu.<br />
“Ele deixava as pessoas parecendo<br />
gordas”, recorda-se. Ficou<br />
famoso o episódio em que quebrou<br />
as lanternas traseiras de vários<br />
carros que estavam estacionados<br />
nas vagas erradas no estacionamento<br />
da Prada. “Senti prazer naquilo”,<br />
diz rindo.<br />
A personalidade extravagante<br />
vai além do escritório. Ele gosta<br />
de carro, por isso tem oito, com<br />
alguns Porsches. Ávido velejador<br />
que competiu internacionalmente<br />
nos anos 70, Bertelli comprou<br />
um veleiro de 22 metros em 1997.<br />
Três anos e US$ 55 milhões depois,<br />
o Luna Rossa entrou na mais<br />
importante competição de vela<br />
do mundo, a Copa América, sendo<br />
derrotado. Ele diz que seu temperamento<br />
é normalmente usado<br />
como desculpa pelas pessoas que<br />
saem da empresa porque elas não<br />
aguentam o ambiente de panela de<br />
pressão. “É verdade que fico furioso<br />
com coisas que são banais”, diz.<br />
“Mas dizer que sou irascível é também<br />
um álibi para as pessoas que<br />
não servem. Meu comportamento<br />
é sempre correto, e sempre tento<br />
motivar as pessoas.”<br />
O relacionamento de Bertelli e<br />
Prada é o mais vulcânico de todos,<br />
e os dois são notórios por suas discussões<br />
violentas. “Trabalhamos<br />
duro. É sempre um relacionamento<br />
intenso, e é exaustivo ter de trabalhar<br />
com ele. Mas eu o admiro e<br />
respeito”, diz Prada. “É uma guerra<br />
aqui a cada minuto, e para ser<br />
parte desta empresa é preciso ser<br />
treinado.”<br />
Ambos concordam num aspecto<br />
crucial: que as necessidades criativas<br />
e comerciais precisam estar<br />
em pé de igualdade para que a empresa<br />
seja um verdadeiro sucesso.<br />
Em muitas casas de moda, os estilistas<br />
têm dificuldade para atender<br />
às exigências impostas a eles por<br />
diretores para que façam roupas<br />
que vendam bem ou possam ter um<br />
certo preço. Conflitos entre os lados<br />
criativo e de negócios levaram<br />
a brigas lendárias, como a saída<br />
do celebrado estilista americano<br />
Tom Ford da Gucci em 2004 ou a<br />
da alemã Jil Sander da firma que<br />
leva seu nome quando a Prada a<br />
comprou, em 1999. (Sander voltou<br />
depois, mas a Prada vendeu a empresa<br />
anos mais tarde.) Sander não<br />
respondeu a repetidos pedidos de<br />
comentário e sua empresa se negou<br />
a comentar.<br />
“Para Miuccia e para mim, fazer<br />
um produto que faça a moda avançar<br />
é tão importante quanto vendêlo.<br />
Se não vendemos, há alguma<br />
coisa errada. Essa é nossa filosofia<br />
fundamental”, diz Bertelli. “O dinheiro<br />
não é um fim para nós, mas<br />
sempre dissemos que para tudo<br />
isso funcionar precisamos vender,<br />
e Bertelli acha o mesmo”, acrescenta<br />
Prada. “Ele tem um incrível<br />
senso do que funciona e do que não<br />
funciona. E quando a estratégia é<br />
certa, você vende muito.”<br />
A dupla Bertelli-Prada é tão<br />
importante para a empresa que<br />
quando ela estava preparando um<br />
ingresso no mercado acionário,<br />
nove anos atrás — abertura de capital<br />
que nunca aconteceu —, os assessores<br />
bancários mencionaram<br />
como um “fator de risco” para os<br />
investidores qualquer possibilidade<br />
de que os dois decidissem não<br />
trabalhar juntos mais, segundo<br />
uma pessoa que estava envolvida<br />
nas preparações da oferta pública.<br />
“Eles não são administradores,<br />
são donos e empreendedores”, diz<br />
o diretor de operações da Prada,