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Semanário Angolense 360 edição - Falambora-Chat

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Sábado, 27 de Março de 2010. 39<br />

Cultura<br />

Narrativas do médico e escritor Paulo Campos<br />

«E o Rio Kwanza criou a Mulher…»<br />

Sob a chancela da Editorial Kilombelombe, a obra, lançado no âmbito da jornada «Março-Mulher», tem prefácio do falecido poeta e<br />

ensaísta Jorge Macedo. A apresentação foi de Filomena Delgado<br />

O<br />

escritor (e médico)<br />

Paulo Campos lançou,<br />

nesta semana, na sede<br />

da «União», um conjunto<br />

de narrativas sobre a mulher,<br />

a que deu o título «E o Rio<br />

Kwanza Criou a Mulher», um volumoso<br />

livro de 334 páginas, que<br />

tem a chancela da editora «Kilombelombe»<br />

.<br />

Inserida na colecção «Cruzeiro<br />

do Sul» desta conceituada editora,<br />

a obra tem prefácio de Jorge<br />

Macedo, poeta, ensaísta, crítico<br />

literário, jornalista e etnomusicólogo<br />

de créditos firmados, recentemente<br />

falecido.<br />

A apresentação do livro, que<br />

se inseriu nas comemorações da<br />

jornada «Março Mulher», numa<br />

organização do ministério da Família<br />

e Promoção da Mulher, foi<br />

feita por Filomena Delgada, viceministra<br />

da Agricultura e Desenvolvimento<br />

Rural.<br />

«Nessa obra, o autor homenageia<br />

a Mulher Angolana, retratada<br />

como mulher edificadora<br />

e nutriente, ao mesmo tempo<br />

cúmplice e combativa, onde o seu<br />

papel de mãe é sacralizado como<br />

gestora responsável pela vida humana;<br />

mulher como símbolo da<br />

paz e da harmonia no lar, na família<br />

e na sociedade; enfim, mulher<br />

como símbolo da transmissão dos<br />

valores positivos, éticos, morais e<br />

cívicos», diz Filomena Delgado.<br />

«É este tipo de mulher que o Rio<br />

Kwanza criou, personificado em<br />

Dona Marta, a matriarca que nasceu<br />

e cresceu no seio da sociedade<br />

nas margens desse grandioso rio, e<br />

que é também o resultado feliz de<br />

dois estágios civilizacionais, o moderno<br />

e o tradicional, distintos de<br />

duas mentalidades, uma controlando<br />

a outra numa primeira fase,<br />

e que, a posteriori, tendo deixado<br />

de ser antagónicas, tornaram-se<br />

complementares, criando o modelo<br />

ideal de mulher africana/angolana,<br />

para catapultar os filhos para<br />

patamares nunca antes alcançados»,<br />

acrescenta a apresentadora.<br />

Ela diz ainda que «E o Rio<br />

Kwanza criou a Mulher» será assim<br />

«uma é, pois, uma viagem de<br />

retorno ao reencontro com a vida<br />

e com a terra dos antepassados,<br />

das gentes de Kalumbu, um lugar<br />

paradisíaco» que, como conta<br />

o autor, «Deus nunca abandonou!…».<br />

«Analisando a obra numa<br />

perspectiva etnográfica, observamos<br />

que nas 54 narrativas<br />

que a compõem, o Autor expõe<br />

a cosmovisão dos habitantes de<br />

Kalumbu, através de distintas<br />

vertentes: desde a família nuclear<br />

como núcleo fundamental da<br />

sociedade kalumbense, aos papéis<br />

instrumentais que os homens desempenham;<br />

os papéis expressivos<br />

das mulheres; os amores e os<br />

desamores dos jovens; as estórias<br />

educativas e as de maldizer; dos<br />

ngombidi; dos akwamaka; os sonhos<br />

das jovens e o seu jeito de<br />

seduzir os rapazes; as intrigas; o<br />

papel dos curandeiros e dos sobas;<br />

a justificação das anomalias<br />

e das mortes; a convivência entre<br />

os habitantes; os comerciantes e a<br />

classe emergente dos naturais; os<br />

casamentos exógenos; a importância<br />

do caminho-de-ferro para<br />

as trocas comerciais na época colonial,<br />

enfim...», discorre ainda a<br />

apresentadora da obra.<br />

Adiantando: «Figuras como<br />

Dona Marta, Dona Eduarda,<br />

esposa do senhor Clemente, comerciante<br />

luso amigo dos negros;<br />

da família do senhor Kakweta<br />

ou das estórias do «mais velho»<br />

Mbolôndua, são extraordinariamente<br />

escalpelizadas e servem<br />

de exemplo de famílias sólidas e<br />

harmoniosas, fundadas em princípios<br />

do respeito e da moral,<br />

pois, os candidatos a esposos e<br />

«Forno Feminino» de João Tala<br />

Uma nova proposta poética de João Tala foi lançada na última<br />

sexta-feira na sede do Banco de Poupança e Crédito, um dos<br />

parceiros da Editorial Kilombelombe, responsável por mais<br />

esta obra que se insere na sua colecção «Os Nossos Poetas».<br />

Também médico de profissão, João Tala, um dos mais produtivos escritores<br />

da nova geração, diz nas notas preliminares do poemário que muitos<br />

poemas apresentados transportam formas de um delírio, consubstanciado<br />

no calor feminino que copiou de uma tradição de grandeza, onde a mulher<br />

recria o mundo, retorna aos partos que renovam a nossa frágil existência.<br />

«Desse tema (o fogo), busco e rebusco, a sangue frio, o poemário que<br />

sempre quis e, para minha sorte, ei-lo aqui», diz João Tala.<br />

O escritor tem já uma vasta obra, tanto em poesia, como em prosa, com<br />

destaque para «Os dias e os tumultos», de 2004, um conjunto de contos<br />

que lhe valeu a vitória no «Grande Prémio de ficção» da União dos Escritores<br />

angolanos. Também já teve uma menção honrosa do prémio «Sagrada<br />

Esperança», com o poemário «O Gasto da Semente», de 2000. ■<br />

esposas eram avaliados pelos futuros<br />

sogros e só quem reunisse<br />

os requisitos passava no teste. O<br />

homem que não tivesse capacidade<br />

de sustentar a sua família não<br />

merecia ser pai nem marido, sob<br />

pena dos «mais velhos» reunirem<br />

em assembleia e entregar a mulher<br />

a outro homem que a pudesse<br />

sustentar. Por isso, os rapazes<br />

envidavam esforços no sentido de<br />

possuírem as condições necessárias<br />

ao casamento, enquanto que<br />

as raparigas sonhavam com uma<br />

boa educação, susceptíveis de as<br />

tornar boas esposas, boas mães<br />

e boas donas de casa, tal como a<br />

Ngongo dya Phasu (Martinha,<br />

posteriormente), que cresceu em<br />

casa de Dona Eduarda, que teve<br />

a missão de a preparar para ser<br />

uma boa esposa, primando sempre<br />

pela decência».<br />

Para Filomena Delgado, estáse<br />

perante uma obra literária de<br />

muito interesse, que, pelo seu<br />

conteúdo, poderá servir aos antropólogos,<br />

aos sociólogos, ou até<br />

aos historiadores, enquanto analistas<br />

das questões sociais, mas<br />

também, obviamente, a todos os<br />

amantes da rica cultura angolana.<br />

A finalizar, transmite ao autor<br />

os agradecimentos por ter proporcionado<br />

uma viagem de resgate<br />

aos valores culturais, aos hábitos<br />

e costumes dos kalumbenses.<br />

«Entendemos que Kalumbu é só<br />

pretexto para podermos testemunhar<br />

o sonho do poeta maior de<br />

que «às nossas tradições havemos<br />

de voltar», e esperar que o sonho<br />

de Kadizeba, e de sua esposa, possa<br />

traduzir-se em realidade, isto é,<br />

o ressurgir de Kalumbu das cinzas<br />

do passado para voltar a ser<br />

a princesa de outrora e o alfobre<br />

de intelectuais que, influenciados<br />

pelo sopro propício, definiram linhas<br />

mestras que nos levariam à<br />

liberdade, à paz e ao progresso do<br />

nosso País», remata.<br />

Médico de profissão, Paulo<br />

Campos nasceu em Luanda em<br />

Maio de 1944, tendo iniciado a<br />

sua actividade literária aos 20<br />

anos. Na sua bibliografia, além<br />

desta obra, consta já «Os meus<br />

outros filhos», pela Nzila, em<br />

2000, e «Um kangundu excepcional»,<br />

também pela Nzila, em<br />

2005. Tem ainda vários artigos<br />

dispersos por jornais e revistas<br />

angolanos. ■

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