12.11.2014 Views

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Excesso e Excessivo<br />

Debordamentos e reformatações po<strong>de</strong>m constituir a forma e a fôrma visíveis e jamais estáveis dos textos em<br />

espaços eletrônicos <strong>de</strong> escrita e criação. Ao menos é o que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r das transformações sofridas<br />

efetivamente pelos corpora textuais que, em espaços concretamente hipertextuais, são dados a ler, com<br />

as conseqüentes transformações experimentadas em seus espaços perceptivos, pelos corpos que se colocam<br />

em situação <strong>de</strong> leitores. Ora, é exatamente essa concretu<strong>de</strong> hipertextual que começa a nos dar o alcance e<br />

a experiência dos <strong>de</strong>bordamentos e das reformatações, dos transbordos e das reformações. É como se a<br />

espessura fenomênica <strong>de</strong> nosso corpo próprio, esse <strong>de</strong> leitores empiricamente colocados diante <strong>de</strong> telas e<br />

<strong>de</strong> procedimentos interativos, encontrasse novas vizinhanças, inéditas superfícies, inauditos volumes em que<br />

exercitar nossa capacida<strong>de</strong> expressiva. Em outras palavras, esses <strong>de</strong>bordamentos e reformatações a que<br />

somos chamados a habitar em nossas leituras traduzem a maleabilida<strong>de</strong> por vezes surpreen<strong>de</strong>nte e<br />

inesperada dos textos eletrônicos, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acumular <strong>de</strong>talhes e minúcias, <strong>de</strong> amealhar pretensas<br />

irrelevâncias, <strong>de</strong> absorver novas regiões, <strong>de</strong> solapar fronteiras, <strong>de</strong> permitir novas aparências e outros prazos.<br />

Há, inicialmente, um excesso – isso a que chamamos <strong>de</strong>bordamento – que acarreta duas conseqüências. Mas,<br />

antes <strong>de</strong> falarmos <strong>de</strong>las especificamente, vamos percebê-las e – talvez melhor – apreendê-las com base na<br />

obra Antologia Labiríntica. O que se lê nesses hipertextos, tais como essa Antologia <strong>de</strong> André Vallias? Como<br />

o próprio autor indica, logo na abertura do seu hipertexto:<br />

Para se ler ou talvez<br />

leer (<strong>de</strong> laere, lari)<br />

no alemão = vazio:<br />

etimologicamente, aquilo<br />

que <strong>de</strong> um campo ceifado<br />

po<strong>de</strong> ser ainda recolhido<br />

(aufgelesen): <strong>de</strong> lesen<br />

= catar, separar,<br />

ler... ou talvez<br />

“Caminar: leer un trozo<br />

<strong>de</strong> terreno, <strong>de</strong>scifrar<br />

un pedazo <strong>de</strong> mundo.<br />

La lectura consi<strong>de</strong>rada<br />

como un camino hacia...”<br />

De um lado – e temos aí a primeira conseqüência –, essa leitura po<strong>de</strong> ser a acumulação do inútil: não um<br />

“encaminhamento em direção à palavra” (e ao ser), como proporia um Hei<strong>de</strong>gger, mas um caminho em<br />

círculos e sem saídas, iluminando um pedaço muito exíguo do mundo, um rococó eletrônico, uma<br />

justaposição <strong>de</strong> insignificâncias, uma exuberância <strong>de</strong> superficialida<strong>de</strong>s. Ocorre que, ao pôr em relevo<br />

justamente as superficialida<strong>de</strong>s, per<strong>de</strong>-se toda e qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bordamentos uma<br />

complexificação das leituras e dos leitores. Essa manifestação do excesso, assim, não levaria a nenhum<br />

aprofundamento do objeto a ser lido e do espaço em que se o lê, mas a um aumento inócuo e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!