Leituras de nós â ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural
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assim po<strong>de</strong>m existir. Doctorovich afirma que “en algunos casos las técnicas antiguas se fun<strong>de</strong>n con las<br />
nuevas tecnologías, generando soportes mixtos que podríamos llamar postmo<strong>de</strong>rnos”. 8 Mas talvez seja<br />
melhor dizer que a novida<strong>de</strong> (estou enten<strong>de</strong>ndo assim o termo “pós-mo<strong>de</strong>rno”) não esteja propriamente<br />
na fusão <strong>de</strong> técnicas antigas e novas tecnologias. Na versão escrita que Chrétien <strong>de</strong> Troyes propôs da<br />
Demanda do Graal, técnicas da oralida<strong>de</strong> e da escrita já se misturavam <strong>de</strong> modo in<strong>de</strong>strinçável. A novida<strong>de</strong><br />
talvez esteja sobretudo no modo como as enormes quantida<strong>de</strong>s e a gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> do meio eletrônico<br />
geram artifícios e processos <strong>de</strong> significação que correm paralelamente aos significantes tradicionais (verbais,<br />
icônicos, sonoros, imagéticos etc.) sem se confundir com eles e sem os escon<strong>de</strong>r, mas permitindo o<br />
mapeamento <strong>de</strong> espaços heterogêneos e multidimensionais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos. É justamente nesses<br />
espaços que o verbal é lido também (e principalmente) através e <strong>de</strong>ntro do eletrônico; em que o eletrônico<br />
se manifesta <strong>de</strong>ntro dos limites e das operações possíveis da matéria verbal.<br />
Dito <strong>de</strong> outro modo, as literarieda<strong>de</strong>s (talvez seja mesmo mais sensato falar assim, no plural) que se<br />
esboçam nestes tempos <strong>de</strong> ciberespaço eletrônico permitem retomar, como indica Jean Clément,<br />
“...un courant littéraire très ancien (...) qui s’oppose à la conception classique fondée sur la certitu<strong>de</strong> que le<br />
texte est la juste traduction <strong>de</strong> la pensée ou à celle, romantique, d’une littérature considérée comme reflet<br />
<strong>de</strong> la sensibilité. Ce courant, que l’on peut suivre <strong>de</strong>puis les Grands Rhétoriqueurs jusqu’à Paul Valéry, est<br />
moins attaché aux textes qu’à leur processus d’engendrement...” 9<br />
Mas, se apenas se retomasse essa construção lúdica da <strong>literatura</strong>, não se faria nada além <strong>de</strong> repetir, com<br />
alguma maquiagem <strong>de</strong> novida<strong>de</strong> técnica, obras e processos produtivos que datam <strong>de</strong> séculos. Em criações<br />
como Les Litanies <strong>de</strong> La Vierge, <strong>de</strong> Jean Meschinot, ou Der XLI. Libes-Kuß, <strong>de</strong> Quirinus Kuhlmann, o espaço<br />
<strong>de</strong> significantes da obra já se <strong>de</strong>sdobrava e se multiplicava, expandindo ou explodindo os possíveis do texto.<br />
E, no caso <strong>de</strong>ssas obras, elas são análogas <strong>de</strong> alguma maneira à Máquina <strong>de</strong> Turing: há uma <strong>de</strong>scrição da<br />
situação inicial, isto é, a seqüência <strong>de</strong> significantes já impressos no papel; todos eles remetem a signos<br />
pertencentes ao léxico <strong>de</strong> uma dada língua, isto é, são signos <strong>de</strong> natureza verbal; e o poema é introduzido<br />
por um conjunto <strong>de</strong> instruções que permitem a produção <strong>de</strong> novos espaços <strong>de</strong> significantes. Nesse sentido,<br />
não há diferença essencial com relação ao poema <strong>de</strong> E. M. <strong>de</strong> Melo e Castro apresentado a seguir, a não ser<br />
o fato <strong>de</strong> o poeta propor alguns exemplos <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> sua máquina <strong>de</strong> Turing poética, fazendo<br />
com que certo número <strong>de</strong> leitores prefira a estratégia <strong>de</strong> não explorar seu aspecto computacional e passar<br />
diretamente para a montagem <strong>de</strong> significações restrita aos significantes propostos pelo autor.<br />
Tudo Po<strong>de</strong> Ser Dito num Poema<br />
1) propõe-se o seguinte mo<strong>de</strong>lo<br />
em presença<br />
acaso A é B <strong>de</strong> A (ou <strong>de</strong> B, ou <strong>de</strong> C etc.)<br />
na ausência<br />
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