Em suma, ao vertiginoso do paralelismo da poesia, é agora possível pensar numa morosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ritmo romanesco. Não o ritmo da dicção do narrador, mas, agora, o ritmo com que sua prosa se dispõe ao leitor. Todavia, este somente terá como <strong>de</strong>tectá-lo, ou melhor, inseri-lo em algum campo <strong>de</strong> sentidos, para aí construir significações plausíveis, se utilizar alguns dos instrumentos informáticos (nesse caso, a exibição em forma <strong>de</strong> tópicos, estabelecendo diferentes níveis para a obra, com acesso visual, pelos próprios níveis, ou pela ferramenta <strong>de</strong> busca). Por isso po<strong>de</strong>mos dizer que tal mecanismo, se construído em papel, traria as mesmas dificulda<strong>de</strong>s (ou melhor, as mesmas impossibilida<strong>de</strong>s) dos Cent Milles Milliards <strong>de</strong> Poèmes, <strong>de</strong> Queneau. Ele necessitaria <strong>de</strong> tantas e tais dobraduras nas folhas que elas teriam <strong>de</strong> ser um origami em quatro ou cinco dimensões para dar conta do que po<strong>de</strong> ser lido, montado, <strong>de</strong>smontado e remontado <strong>de</strong> outra forma, na tela do computador. Apenas nosso trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontar a lógica tecnicista e limitante dos programas e das máquinas é que possibilitaria essa abertura <strong>de</strong> processos, <strong>de</strong> maquinações e <strong>de</strong> dispositivos em direção à pluralida<strong>de</strong> dos sentidos. É apenas nesse caso que se ultrapassam verda<strong>de</strong>iramente as linguagens <strong>de</strong> programação, para constituirmos uma linguagem artística por excelência. * * * Enfim, uma conclusão, à vera, mesmo que não em <strong>de</strong>finitivas palavras, é o que falta e o que resta a fazer. Mas será sempre assim. Ou, então, que se volte ao início <strong>de</strong>ste texto. Sendo início entendido por qualquer ponto ou <strong>de</strong>riva passível <strong>de</strong> leitura. 126
Notas 1 [“...<strong>de</strong>scubro em mim uma espécie <strong>de</strong> fraqueza interna que me impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser absolutamente indivíduo e me expõe ao olhar dos outros, como um homem entre homens ou, ao menos, como uma consciência entre as consciências”.] tradução do autor. 2 Refinamento diretamente ligado a um conhecimento que só po<strong>de</strong> ser complexificação, no dizer <strong>de</strong> Bachelard. 3 Em oposição às correspondências biunívocas, que remetem à estrutura binária da linguagem <strong>de</strong> máquina. 4 “Atelier <strong>de</strong> Littérature Assistée par les Mathématiques et l’Ordinateur”, subgrupo surgido <strong>de</strong>ntro do Oulipo e que propunha experiências <strong>de</strong> criação literária com computadores. 5 Cf. FITCH, Brian. L’appropriation littéraire: <strong>de</strong> Chla<strong>de</strong>nius à Ricoeur. Revue <strong>de</strong> Littérature Comparée, v. 72, n. 3, p. 321, 1998. [“ficção e poesia visam ao ser, não mais segundo a modalida<strong>de</strong> do ser dado, mas segundo a modalida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r ser”.] tradução do autor. 6 CLEMENT, op. cit., 2000, p. 76, nota 52. [“A tentação do infinito sempre rondou os escritores, sobretudo sob as aparências da combinatória. Esta se exprime, inicialmente, na <strong>literatura</strong> oral, pela proliferação das variantes e das versões. Ela continua na <strong>literatura</strong> medieval, com a multiplicação dos ciclos narrativos. No século XIX, ela está no cerne do projeto balzaquiano”.] tradução do autor. 7 GENETTE, op. cit., 1982, p. 53, nota 67. [“princípio maquinal”] tradução do autor. 8 CHARTIER, op. cit., 2000, p. 44, nota 5. [“A revolução do texto eletrônico (...) à materialida<strong>de</strong> do livro, ela substitui a imaterialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> textos sem local que lhes seja próprio; às relações <strong>de</strong> contigüida<strong>de</strong> estabelecidas no objeto impresso, ela opõe a livre composição <strong>de</strong> fragmentos in<strong>de</strong>finidamente manipuláveis...”] tradução do autor. 9 Corolário da progressiva <strong>de</strong>smaterialização <strong>de</strong> boa parte dos objetos artísticos a partir do início do século XX. 10 ABENDROTH; DECOCK; MESTAOUI, op. cit., 2000, p. 112, nota 95. [“As novas tecnologias nos colocam assim em uma zona intermediária, uma zona <strong>de</strong> trânsito tornada permanente, nos permitindo estar lá e, potencialmente, em todo lugar, em um tempo que se po<strong>de</strong> registrar e estocar, um presente congelado. Nós somos então em um estado ‘nomádico’, jogando com o tempo e o espaço, <strong>de</strong>slizando <strong>de</strong> um ambiente e <strong>de</strong> uma virtualida<strong>de</strong> a outro”.] tradução do autor. 11 RYAN, Marie-Laure. “The Text as World Versus the Text as Game: Possible World Sematics and Postmo<strong>de</strong>rn Theory”, in Journal of Literary Semantics, v. 27, n. 3, 1998, p. 137. Sem contar as inúmeras referências a jogo nas reflexões <strong>de</strong> Jacques Derrida. 12 CAEIRO, Alberto. Poema XX. In: O guardador <strong>de</strong> rebanhos. 13 “The Text as World Versus the Text as Game: Possible World Sematics and Postmo<strong>de</strong>rn Theory”, in Journal of Literary Semantics, v. 27, n. 3, 1998, p. 139-140. 14 BRANDT, Joan. The theory and practice of a ‘revolutionary’ text: Denis Roche’s ‘Le mécrit’. Yale French Studies, v. 67, n. 67, p. 219, 1984. 15 No livro <strong>de</strong>pois do livro / O texto se confun<strong>de</strong> com a noção <strong>de</strong> lugar / A imagem só se revela por uma inscrição textual / A visão agora é um dado da escrita / Implo<strong>de</strong>-se a referência do volume / A dimensão da página é o peso. 16 Que não me parece mais estar no mesmo nível, nem situada nos mesmos limites das vanguardas do início do século XX. 17 GENETTE, op. cit., 1982, p. 60-61, nota 67. [“...não é preciso consi<strong>de</strong>rar os cinco tipos <strong>de</strong> transtextualida<strong>de</strong> como classes estanques, sem comunicação nem recortes recíprocos. Suas relações são, ao contrário, numerosas e, com freqüência, <strong>de</strong>cisivas”.] tradução do autor. 127
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