13.01.2015 Views

Introdução à Mecânica Estatística Quântica: Estudos sobre o ...

Introdução à Mecânica Estatística Quântica: Estudos sobre o ...

Introdução à Mecânica Estatística Quântica: Estudos sobre o ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Introdução</strong> <strong>à</strong> <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>:<br />

<strong>Estudos</strong> <strong>sobre</strong> o operador densidade<br />

Soraya Galdino Maciel<br />

Orientadora: Prof a . Dr a . Silvana Perez<br />

Belém-Pará<br />

Fevereiro/2007


Resumo<br />

Este trabalho é uma introdução a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. Iremos estudar o operador<br />

densidade, inicialmente na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, na análise de sistemas caracterizados<br />

por ensembles mistos, onde os postulados básicos da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> não se aplicam.<br />

Para o melhor entendimento dos vários conceitos envolvidos nesta análise, utilizaremos<br />

como exemplo a experíência de Stern-Gerlach. Depois discutiremos a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong><br />

<strong>Quântica</strong>, calculando a entropia dos ensembles puros e mistos.


Sumário<br />

1 <strong>Introdução</strong> 3<br />

2 <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica 6<br />

2.1 Ensemble Microcanônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7<br />

2.1.1 Interação térmica entre dois sistemas macroscópicos . . . . . . . . . 7<br />

2.1.2 Paramagneto de Spin 1=2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10<br />

2.2 Ensemble Canônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12<br />

2.2.1 Ensemble Canônico no espaço de fase clássico . . . . . . . . . . . . 13<br />

2.2.2 Paramagneto de Spin 1=2: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16<br />

2.2.3 Gás Ideal Clássico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />

3 O operador Densidade na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> 19<br />

3.1 Estrutura formal da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20<br />

3.1.1 Vetor de estado e Espaço de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20<br />

3.1.2 Operadores e Observáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21<br />

3.1.3 Operadores de Projeção e Evolução Temporal . . . . . . . . . . . . 25<br />

3.1.4 Postulados Fundamentais da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> . . . . . . . . . . . 27<br />

3.2 Operador Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

3.2.1 Ensembles Estatísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

3.2.2 Matriz Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

3.2.3 Propriedades Gerais do Operador Densidade . . . . . . . . . . . . . 33<br />

3.2.4 Evolução temporal do Ensemble . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33<br />

1


3.3 A experiência de Stern-Gerlach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />

3.3.1 Análise via <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> usual. . . . . . . . . . . . . . . . . . 36<br />

3.3.2 Análise via Operador Densidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

4 <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong> 42<br />

4.1 Entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42<br />

4.1.1 Operador Entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42<br />

4.1.2 De…nição e Propriedades da Entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . 43<br />

4.1.3 Evolução temporal do operador entropia . . . . . . . . . . . . . . . 45<br />

4.1.4 Ensembles Estatísticos de Gibbs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45<br />

4.2 Ensemble Microcanônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46<br />

4.2.1 Operador Densidade do Ensemble Microcanônico . . . . . . . . . . 46<br />

4.2.2 Entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />

4.2.3 Gás Ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

4.3 Ensemble Canônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53<br />

4.3.1 Paramagneto de spin 1/2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54<br />

5 Conclusões e Pespectivas 55<br />

2


Capítulo 1<br />

<strong>Introdução</strong><br />

Neste trabalho estudaremos a formulação quântica da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong>, a <strong>Mecânica</strong><br />

<strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. Com este objetivo, iremos analisar o operador densidade, inicialmente<br />

na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> (MQ), e depois o utilizaremos para obter as funções termodinâmicas<br />

clássicas, como entropia, energia interna etc.<br />

A motivação para a escolha desse tema foi a di…culdade encontrada para se trabalhar<br />

com várias partículas (em diferentes estados físicos) na MQ. Isso acontece porque os<br />

postulados básicos da MQ são enunciados para ensembles puros, ou seja, para coleções de<br />

sistemas identicamente preparados, todos eles no mesmo estado quântico, representado<br />

por um único ket. Exemplos de ensembles puros são os dois feixes que aparecem como<br />

resultado de um processo de …ltragem, via experiência de Stern-Gerlach, feito em um feixe<br />

de átomos de prata não polarizado.<br />

Quando, porém, temos um ensemble caracterizado por várias partículas em diferentes<br />

estados quânticos, os postulados básicos não são su…cientes. Há uma ambiguidade na<br />

escolha do ket que representa o sistema físico de todas as partículas. Podemos escolher<br />

dois enfoques para lidar com este tipo de situação. O primeiro deles consiste em utilizar<br />

um postulado extra na MQ, o da simetrização, de forma a obter, de maneira unívoca, o<br />

ket de um sistema de muitas partículas em diferentes estados. Existe ainda uma outra<br />

alternativa, a de se trabalhar com o operador densidade. Neste caso, as medidas dos<br />

observáveis quânticos são obtidas sem a necessidade de se escrever o ket do sistema de N<br />

3


partículas.<br />

Optamos neste trabalho por utilizar o enfoque do operador densidade basicamente<br />

porque a formulação da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong> é desenvolvida a partir dele. Vale<br />

salientar, porém, que o operador densidade também é importante em outras áreas da<br />

Física, como computação quântica, caos quântico etc...<br />

Em linhas gerais, nosso objetivo é fazer uma discussão conceitual do operador densidade<br />

na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, e depois utilizá-lo na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. A<br />

partir do formalismo estatístico desenvolvido no espaço de Hilbert, mostraremos como a<br />

função entropia clássica é obtida na teoria quântica por meio do valor esperado de um operador<br />

entropia de…nido como uma função do operador densidade. Conceitos como espaço<br />

de fases, ensembles etc. serão discutidos e comparados na teoria clássica e na quântica.<br />

No capítulo 2 realizaremos uma revisão da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica, enfatizando<br />

os conceitos que utilizaremos na discussão quântica. Uma análise mais detalhada destes<br />

tópicos pode ser encontrada em vários livros texto. Citamos, por exemplo, as referências<br />

[1, 2, 3, 4, 5, 6]. Discutiremos o espaço de fases clássico contínuo bem como a necessidade<br />

de discretização do espaço de fases na teoria quântica, associada com a discretização<br />

da energia. Estudaremos os ensembles Microcanônico e Canônico. O primeiro deles é<br />

caracterizado por um sistema isolado e o segundo por um sistema em contato com um<br />

reservatório térmico.<br />

No capítulo 3 estudaremos a <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> [7, 8, 9, 10]. Iniciaremos por uma<br />

análise de seus postulados básicos e depois discutiremos o operador densidade [11, 12,<br />

13, 14, 15]. Veremos que, com a utilização deste operador, não precisamos conhecer o<br />

ket do sistema para determinar valores esperados de observáveis. Vamos demonstrar<br />

suas principais propriedades e sua evolução no tempo. Com o auxílio da experiência de<br />

Stern-Gerlach discutiremos a di…culdade que surge na construção do ket de um sistema de<br />

partículas em estados quânticos diferentes e como, com a utilização do operador densidade,<br />

esta di…culdade não aparece.<br />

No capítulo 4 vamos estudar a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong> [5, 12, 13]. Faremos<br />

uma análise do operador entropia e discutiremos os ensembles Microcanônico e Canônico.<br />

4


Veremos que o valor médio do operador entropia é a própria entropia do sistema.<br />

Finalizaremos o trabalho com as conclusões e perspectivas.<br />

5


Capítulo 2<br />

<strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica<br />

Neste capítulo apresentaremos uma revisão da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica. Discutiremos<br />

somente o necessário para a compreensão dos próximos tópicos. Uma análise mais<br />

aprofundada pode ser encontrada em vários livros texto, como por exemplo [1, 2, 3, 4, 5, 6].<br />

Dois conceitos são de fundamental importância na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong>: a noção de<br />

espaço de fases e o conceito de ensemble estatístico. Classicamente, a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong><br />

se desenvolve em um espaço de fases contínuo representado por variáveis de coordenada e<br />

de momento. É neste espaço que se de…ne a função hamiltoniana, essencial para o estudo<br />

do formalismo, como veremos a seguir [1, 2]. Quanticamente, a teoria se desenvolve no<br />

espaço de Hilbert [7, 8, 9, 10]. À função hamiltoniana da teoria clássica é associado<br />

um operador hamiltoniano quântico com autovalores expressos em termos de números<br />

quânticos discretos. Neste ponto do trabalho, utilizaremos somente esta informação da<br />

teoria quântica para analisar alguns modelos. Diremos que estamos num "espaço de fases<br />

discreto", em comparação com a formulação clássica. No próximo capítulo faremos uma<br />

análise detalhada do formalismo quântico, de…nido no espaço de Hilbert. Discutiremos<br />

conceitos como vetor de estado, operadores etc, e a noção de energia discretizada surgirá<br />

naturalmente.<br />

De maneira geral, podemos entender o ensemble estatístico como sendo constituído<br />

pela coleção de estados microscópicos, ou microestados, acessíveis a uma certa preparação<br />

do sistema a ser estudado[1]. Por exemplo, em um sistema isolado, os estados acessíveis<br />

6


são aqueles cuja energia total corresponde <strong>à</strong> energia do sistema. Em um sistema em<br />

contato com um reservatório térmico, os estados acessíveis podem ter diferentes energias,<br />

respeitando somente o vínculo de temperatura constante, igual <strong>à</strong> do reservatório. Note<br />

que a de…nição de ensemble na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> é complementar <strong>à</strong> apresentada na<br />

<strong>Introdução</strong>, para a aplicação dos postulados da MQ.<br />

2.1 Ensemble Microcanônico<br />

O postulado fundamental da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> estabelece que: em um sistema isolado,<br />

todos os microestados são igualmente prováveis [1, 2]. Usando este conceito,<br />

se chamarmos de = (E; V; N; X i ) o número de microestados acessíveis a um ‡uído<br />

termodinâmico, com energia E, volume V e número de partículas N, na presença de um<br />

conjuntofX i g de vínculos internos então, pelo postulado fundamental, a probabilidade<br />

P fX i g de encontrar o sistema sujeito ao conjunto de vínculos fX i g deve ser proporcional<br />

a (E; V; N; fX i g), ou seja,<br />

P (fX i g) / (E; V; N; fX i g): (2.1)<br />

O Ensemble Microcanônico está associado a sistemas isolados. Iremos a seguir estudar<br />

melhor essas idéias.<br />

2.1.1 Interação térmica entre dois sistemas macroscópicos<br />

Vamos considerar um sistema constituído por dois ‡uídos simples, separados pelos vínculos<br />

representados por uma parede adiabática, …xa e impermeável, como mostra a Fig. 2:1.<br />

Considerando o número de microestados acessíveis ao ‡uído (1) 1 (E 1 ; V 1 ; N 1 ) e ao<br />

‡uído (2) 2 (E 2 ; V 2 ; N 2 ) então o número de microestados acessíveis ao sistema composto<br />

é dado por:<br />

= 1 (E 1 ; V 1 ; N 1 ) 2 (E 2 ; V 2 ; N 2 ): (2.2)<br />

Vamos imaginar que, num dado instante, a parede adiabática torna-se diatérmica.<br />

A energia total permenece constante, mas as energias de cada sistema, E 1 e E 2 , podem<br />

7


‡utuar <strong>à</strong> vontade, apenas respeitando o vínculo de que a energia total é constante, ou seja,<br />

E 1 +E 2 = E 0 : Os outros parâmentros extensivos (V 1 ; V 2 ; N 1 ; N 2 ) permanecem inalterados 1 .<br />

Podemos então eliminá-los das fórmulas para simpli…car a notação.<br />

S1<br />

S2<br />

Parede Adiabática<br />

Fig.2.1: Um sistema composto constituído por dois fuidos simples. S é a entropia dos sistemas.<br />

Assim, o número de microestados acessíveis ao sistema composto pode ser escrito<br />

como:<br />

(E 0 ) =<br />

XE 0<br />

E 1 =0<br />

1 ( E 1 ) 2 (E 0<br />

E1 ) C: (2.3)<br />

Agora, dado que o ‡uído (1) assume no equilíbrio um particular valor E 1 , existem<br />

1 ( E 1 )(E 0<br />

E1 ) microestados acessíveis a esta con…guração de equilíbrio e podemos<br />

de…nir uma função P E 1<br />

<br />

como:<br />

P ( E 1 ) = 1( E 1 ) 2 (E 0 E1 )<br />

; (2.4)<br />

C<br />

que representa a probabilidade de encontrar o sistema composto num estado onde a energia<br />

do ‡uído (1) é E 1 e a do ‡uído (2) ; E2 = E 0<br />

E1 :<br />

No equilíbrio, o sistema vai estar no valor mais provável (ou máximo) de P ( E 1 ). Mas<br />

qual é este máximo<br />

Para achá-lo é interessante introduzir a função logarítmica:<br />

f E 1<br />

<br />

= ln P ( E1 ) = ln C + ln 1 ( E 1 ) + ln 2 E 0<br />

E1<br />

<br />

: (2.5)<br />

1:Vamos utilizar o conceito de parede ideal, ou seja, aquela na qual a energia interna pode ser<br />

desprezada.<br />

8


Como esta função é monotonicamente crescente, um máximo de P corresponde a um<br />

máximo de lnP: Assim, no equilíbrio vale que:<br />

ou seja:<br />

@ ln P<br />

@ E 1<br />

= @ ln 1<br />

@ E 1<br />

@ ln 2<br />

@ E 2<br />

= 0; (2.6)<br />

@ ln 1<br />

@ E 1<br />

= @ ln 2<br />

@ E 2<br />

: (2.7)<br />

Para fazer a conexão com a Termodinâmica, vamos introduzir o conceito de entropia.<br />

Para isso enunciamos a seguir os postulados da Termodinâmica [3]:<br />

Postulado 1: O estado microscópico de equilíbrio de um sistema simples é completamente<br />

caracterizado pela energia interna (E), pelo volume (V ) e pela quantidade de<br />

matéria (N 1 ; N 2 ; ::):<br />

Postulado 2: Há uma função de todos os parâmentros extensivos de um sistema<br />

composto, denomindada Entropia. Ao retirarmos um vínculo do sistema, maximizamos<br />

esta função.<br />

Postulado 3: A entropia de um sistema composto é aditiva em seus componentes. A<br />

Entropia é uma função contínua, diferenciável e monotonicamente crescente.da energia.<br />

Postulado 4: A entropia se anula num estado em que<br />

@E<br />

@S = 0.<br />

Repetindo o problema anterior, agora utilizando o conceito de entropia temos, no<br />

equilíbrio:<br />

@S<br />

@ E 1<br />

= 0; (2.8)<br />

o que implica na condição de equilíbrio térmico para o sistema composto<br />

Usando a de…nição de temperatura [3]<br />

@S 1<br />

@ E 1<br />

= @S 2<br />

@ E 2<br />

: (2.9)<br />

@S<br />

@E = 1 T ; (2.10)<br />

temos que no equilíbrio vale:<br />

1<br />

T 1<br />

= 1 T2<br />

: (2.11)<br />

9


Agora, comparando (2:7) com (2:9) vemos que a conexão com a Termodinâmica se faz<br />

por meio de:<br />

S(E) = k ln (E) ; (2.12)<br />

onde k é a constante de Boltzman. Portanto, a maximização da probalilidade corresponde<br />

a maximização da entropia termodinâmica. Como toda informação termodinâmica<br />

está contida na função entropia, o problema estatístico se reduz <strong>à</strong> contagem<br />

do número de estados acessíveis ao sistema, (E; V; N): Obviamente é muito mais fácil<br />

realizar esta análise para o caso onde os estados acessíveis assumem valores discretos.<br />

Assim, a seguir apresentaremos um exemplo quântico. O caso clássico é mais sutil e pode<br />

ser encontrado na referência [1].<br />

2.1.2 Paramagneto de Spin 1=2.<br />

Vamos considerar N partículas localizadas, de spin 1=2, sob ação de um campo magnético<br />

externo H. O Hamiltoniano do sistema é dado pela expressão:<br />

!<br />

NX<br />

NX<br />

H = H i = 0 H i , H i = 0 H i (2.13)<br />

i=1<br />

i=1<br />

onde o conjunto de variáveis de spin f i g , com i = 1, para i = 1; :::; N, caracteriza<br />

os microestados do sistema. Considerando N 1 o número de partículas com = +1 e N 2<br />

o número de partículas com = 1, tal que N 1 + N 2 = N, podemos escrever a energia<br />

total como uma função de N 1 ou seja:<br />

E = 0 HN 1 + 0 HN 2<br />

= 0 HN 1 + 0 H(N N 1 )<br />

= 2 0 HN 1 + 0 HN (2.14)<br />

Invertendo a Eq.(2.14) e usando o vínculo no número total de partículas chegamos a:<br />

N 1 = 1 <br />

N +<br />

E <br />

; (2.15)<br />

2 0 H<br />

10


e<br />

N 2 = 1 2<br />

<br />

N<br />

<br />

E<br />

: (2.16)<br />

0 H<br />

O número de microestados acessíveis ao sistema, portanto, é dado por:<br />

(E; N) =<br />

=<br />

N!<br />

N 1 !N 2 !<br />

h <br />

1<br />

N<br />

2<br />

E<br />

0 H<br />

N!<br />

i<br />

!<br />

h<br />

1<br />

2<br />

i ; (2.17)<br />

N + E !<br />

0 H<br />

e a entropia:<br />

S = k ln (E; N) = k ln<br />

h <br />

1<br />

N<br />

2<br />

E<br />

0 H<br />

N!<br />

i<br />

!<br />

h<br />

1<br />

2<br />

i<br />

N + E !<br />

0 H<br />

(2.18)<br />

Para resolver esse problema vamos utilizar a fórmula de Stirling [1],<br />

de tal forma que a Eq.(2:18) pode ser simpli…cada como:<br />

S<br />

k<br />

Chamando u = E N<br />

= N ln N N<br />

=<br />

<br />

1<br />

N<br />

2<br />

<br />

1<br />

N +<br />

2<br />

ln N! = N ln N N + O(ln N); (2.19)<br />

E<br />

0 H<br />

E<br />

0 H<br />

<br />

ln<br />

média por partícula como sendo:<br />

<br />

N ln<br />

s<br />

k = ln 2 1<br />

2<br />

1<br />

ln N<br />

2<br />

1<br />

2<br />

<br />

N +<br />

E<br />

0 H<br />

<br />

E<br />

+ 1 0 H 2<br />

<br />

+ 1 2<br />

<br />

N<br />

<br />

N +<br />

E<br />

0 H<br />

<br />

E<br />

0 H<br />

<br />

: (2.20)<br />

e fazendo algumas manipulações algébricas, chegamos a energia<br />

u<br />

0 H<br />

<br />

1<br />

Para calcular u (T ) utilizamos a relação (2:10) ; ou seja:<br />

<br />

u 1<br />

1 + u <br />

ln 1 + u <br />

: (2.21)<br />

0 H 2 0 H 0 H<br />

@ s<br />

@ u = 1 T ;<br />

e portanto temos:<br />

1<br />

T =<br />

k <br />

ln 1<br />

2 0 H<br />

<br />

u<br />

ln 1 + u <br />

: (2.22)<br />

0 H 0 H<br />

11


Invertendo a equação acima chegamos <strong>à</strong>:<br />

20 H<br />

exp<br />

kT<br />

= 0H u<br />

0 H + u ; (2.23)<br />

o que …nalmente implica em:<br />

u =<br />

0 H tanh<br />

<br />

0 H<br />

: (2.24)<br />

kT<br />

2.2 Ensemble Canônico<br />

Para estudarmos o Ensemble Canônico, vamos considerar um sistema termodinâmico<br />

simples S em contato com um reservatório térmico R por meio de uma parede diatérmica,<br />

…xa e impermeável, como mostra a Fig. (2:2). O reservatório é muito grande em relação<br />

ao sistema de interesse.<br />

R<br />

S<br />

T<br />

Fig. 2.2. Sistema S em contato com um reservatório térmico R (A temperatura T)<br />

A probabilidade de encontrar o sistema isolado (S + R) em um particular estado<br />

microscópico j é dada por<br />

P j = R(E 0 E j ) S (E j )<br />

: (2.25)<br />

C<br />

Aqui C é uma constante de normalização, representando todos os microestados acessíveis<br />

ao sistema como um todo, E j é a energia do sistema S no particular estado microscópico<br />

j, R (E) é o número de microestados acessíveis ao reservatório térmico R com energia<br />

E E 0<br />

Assim:<br />

E j e S (E j ) é número de microestados acessíveis ao sistema termodinâmico.<br />

ln P j = ln C + ln R (E 0 E j ) + ln S (E j ) ln R (E 0 E j ) + ln c: (2.26)<br />

12


Consideramos na aproximação acima que o reservatório R é muito maior que o sistema<br />

S, de forma que E R E j e R (E R ) S (E j ):<br />

A seguir vamos expandir ln P j em torno de E R = E 0 ; ou seja:<br />

@ ln R<br />

ln P j = ln C + ln R (E 0 ) + (E R E 0 ) + 1 <br />

@ 2 ln R (E R )<br />

(E<br />

@E R 2 @ER<br />

2 R E 0 ) 2 + :::<br />

(2.27)<br />

Agora, olhando para entropia, temos<br />

ou, usando a de…nição de entropia, Eq. (2:12):<br />

Fazendo a 2 a derivada temos ainda que:<br />

@S<br />

@E = 1 T @S = 1 @E R T ; (2.28)<br />

@ 2 ln R<br />

@E 2 R<br />

@ ln R<br />

@E R<br />

1<br />

kT : (2.29)<br />

= 1<br />

kT<br />

<br />

@ 1<br />

! 0; (2.30)<br />

@E R T<br />

pois, no limite de um verdadeiro reservatório térmico, a temperatura é constante. Em<br />

outras palavras, a temperatura está praticamente …xa e não é alterada pela presença do<br />

sistema. Usando este resultado em (2:31) chegamos <strong>à</strong><br />

ln P j =<br />

ln C<br />

1<br />

kT E j; (2.31)<br />

A distribuição de probabilidades no Ensemble Canônico, portanto, é dada por:<br />

onde de…nimos = 1<br />

kT :<br />

P j = exp( E j)<br />

; (2.32)<br />

C<br />

2.2.1 Ensemble Canônico no espaço de fase clássico<br />

Tomando como base a Eq.(2:32) ; podemos de…nir a Distribuição Canônica de Gibbs como<br />

sendo:<br />

(q; p) = 1 Z exp [ H s (q; p)] ; (2.33)<br />

13


onde Z é a Função de Partição do ensemble canônico, ou seja:<br />

Z =<br />

0X<br />

exp ( Hs ) ; (2.34)<br />

A somatória acima refere-se a todas as possibilidades de valores dos números quânticos do<br />

sistema. Vale salientar que o sistema S, dado pelo hamiltoniano H s , está em equilíbrio com<br />

um reservatório térmico in…nitamente grande R, com temperatura absoluta T = 1=k.<br />

Vamos a seguir calcular a evolução temporal da função distribuição de Gibbs, Eq.(2:33).<br />

Lembrando que é uma função de q e p, temos que: .<br />

d<br />

dt = @ dq<br />

@q dt + @ dp<br />

@p dt + @<br />

@t<br />

(2.35)<br />

e<br />

Agora, da <strong>Mecânica</strong> Clássica, sabemos que as equações de Hamilton são dadas por:<br />

@H<br />

@p = dq<br />

dt<br />

Substituíndo essas equações em (2:35), chegamos a:<br />

@H<br />

@q = dp<br />

dt : (2.36)<br />

d<br />

dt = @<br />

@q<br />

@H<br />

@p<br />

@ @H<br />

@p @q + @<br />

@t<br />

(2.37)<br />

De…nindo o parênteses de Poisson de com H como sendo:<br />

f; Hg = @ @H<br />

@q @p<br />

@ @H<br />

@p @q ; (2.38)<br />

a Eq. (2:37) pode ser escrita como<br />

d<br />

dt<br />

= f; Hg +<br />

@<br />

@t : (2.39)<br />

Por outro lado, utilizando o conceito de conservação de pontos no espaço de fases [1],<br />

expresso na forma diferencial como:<br />

r ( ! v ) =<br />

@<br />

@t ; (2.40)<br />

14


onde ! v (q; p) = ( _q; _p) é a velocidade generalizada e r = (@=@q; @=@p) temos que<br />

@<br />

@q ( _q) + @ ( _p) =<br />

@<br />

@p<br />

Usando as equações de Hamilton (2:36) na expressão acima, chegamos a:<br />

@<br />

_q + _p@<br />

@q @p<br />

= f; Hg =<br />

@<br />

Finalmente, substituindo a Eq. (2:42) na Eq. (2:39) obtemos:<br />

que é o Teorema de Liouville.<br />

d<br />

dt<br />

@t<br />

(2.41)<br />

@t : (2.42)<br />

= 0; (2.43)<br />

Esse teorema nos garante que é um a constante no<br />

tempo. Em termos estatísticos, os pontos no espaço de fases se movem como um ‡uído<br />

incompressível. Além disso, como estamos considerando a termodinâmica de equilíbrio,<br />

ou seja<br />

@<br />

@t<br />

= 0, podemos também dizer que depende de q e p por meio de uma função<br />

unicamente do hamiltoniano do sistema, ou seja, (q; p) = (H (p; q)):<br />

A seguir, vamos obter o valor médio da energia do sistema S, a partir de:<br />

@ ln Z<br />

@<br />

=<br />

=<br />

1 @Z<br />

Z @<br />

P 0<br />

Eexp(<br />

P 0<br />

exp(<br />

E)<br />

E)<br />

(2.44)<br />

hE i U; (2.45)<br />

onde assumimos que o valor médio da energia é a própria energia interna do sistema S.<br />

Assim, podemos escrever:<br />

U <br />

@ ln Z<br />

@ : (2.46)<br />

Vale salientar que na expressão (2.44) usamos o fato que no ensemble canônico não temos<br />

mais todos os estados igualmente prováveis; ao invés disso, tomamos uma média ponderada<br />

no espaço de fases, com pesos representados por exp (<br />

E). A função de<br />

partição está associada <strong>à</strong> normalização da probabilidade P j . Associar esta média tomada<br />

em todos os pontos do espaço de fases com a média temporal realizada em laborátorio<br />

corresponde <strong>à</strong> hipótese ergótica. A referência [16] apresenta uma boa revisão <strong>sobre</strong> este<br />

assunto.<br />

15


2.2.2 Paramagneto de Spin 1=2:<br />

Vamos considerar novamente um sistema de N partículas magnéticas localizadas de spin<br />

1=2, na presença de um campo magnético H, em contato com um reservatório térmico e<br />

temperatura T: O Hamiltoniano do sistema é dado por:<br />

H =<br />

0 H<br />

NX<br />

j ; (2.47)<br />

j=1<br />

onde j = 1 para j = 1; 2; :::N:<br />

A função de partição pode ser escrita como:<br />

Z = X exp ( H)<br />

j<br />

= X<br />

"<br />

#<br />

X X<br />

NX<br />

::: exp ( 0 H) j<br />

1 =1 2 =1<br />

= X<br />

=<br />

1 =1<br />

" X<br />

=1<br />

N =1<br />

exp ( 0 1 H) X<br />

j=1<br />

exp ( 0 2 H) :::<br />

2 =1<br />

N =1<br />

X<br />

exp ( 0 N H)<br />

exp ( 0 H)# N<br />

Z N 1 ; (2.48)<br />

Neste caso portanto, podemos escrever a função de partição para uma única partícula<br />

como sendo:<br />

Z 1 = X<br />

exp (+ 0 H) (2.49)<br />

=1<br />

Assim, torna-se simples calcular a função de partição para uma partícula e depois<br />

"generalizá-la"para N partículas: tudo se passa como se bastasse calcular a função de<br />

partição de uma única partícula. Nesse exemplo temos:<br />

Z 1 = [exp ( 0 H) + exp ( 0 H)]<br />

= 2 cosh 0 H; (2.50)<br />

e a função de partição Z é dada por:<br />

Z =<br />

N 1<br />

2 cosh<br />

kT 0H<br />

(2.51)<br />

16


A partir da função de partição, estabelecemos a conexão com a termodinâmica por<br />

meio da energia livre magnética por partícula de…nida por [1]:<br />

g = g (T; H) <br />

1 <br />

1<br />

ln Z; (2.52)<br />

N<br />

que neste caso pode ser escrita como:<br />

g (T; H) =<br />

<br />

0 H<br />

kT ln 2 cosh<br />

kT<br />

A entropia do sistema é dada por [3, 1]:<br />

s =<br />

@g<br />

; (2.53)<br />

@T<br />

e fazendo os cálculos necessários chegamos a:<br />

<br />

0 H<br />

s = k ln 2 cosh<br />

kT<br />

k<br />

<br />

0 H 0 H<br />

tanh<br />

kT kT<br />

(2.54)<br />

A energia interna termodinâmica por partícula pode ser calculada a partir da energia<br />

magnética e da entropia, por meio de uma transformação de Legendre[3], ou seja:<br />

u = g + T s<br />

<br />

0 H<br />

= kT ln 2 cosh + T<br />

kT<br />

<br />

0 H<br />

= 0 H tanh<br />

kT<br />

<br />

k ln 2 cosh<br />

<br />

0 H<br />

kT<br />

<br />

0 H<br />

tanh<br />

kT<br />

<br />

0 H<br />

kT<br />

k<br />

<br />

; (2.55)<br />

em concordância com o resultado do ensemble microcanônico feito anteriormente, Eq.<br />

(2:24) ; como era de se esperar.<br />

2.2.3 Gás Ideal Clássico<br />

Consideremos agora uma partícula clássica de massa m dentro de uma caixa cúbica de<br />

lado L. O hamiltoniano do sistema pode ser escrito como:<br />

H = P i<br />

2<br />

2m ; (2.56)<br />

17


onde i = x; y; z:Vamos calcular a função de partição para este sistema.<br />

espaço de fases é clássico e portanto faremos a mudança<br />

Neste caso o<br />

Z 1 =<br />

0X<br />

Z<br />

1 +1<br />

exp ( H) ! dxdydzdp<br />

h 3 x dp y dp z exp ( H) ;<br />

1<br />

onde h é uma constante tal que Z 1 continue sendo adimensional. Assim temos:<br />

Z 1 = 1 Z +1<br />

<br />

<br />

<br />

dxdydzdp x dp y dp z exp<br />

h 1<br />

2m p2 x + p 2 y + p 2 z<br />

= V Z +1<br />

<br />

<br />

<br />

dp<br />

h 3 x dp y dp z exp<br />

1<br />

2m p2 x + p 2 y + p 2 z<br />

" 2m<br />

= V # 1=2 3<br />

; (2.57)<br />

h 3 <br />

onde utilizamos, nas passagens intermediárias, a integral Gaussiana, ou seja:<br />

Z +1<br />

1<br />

dx exp Ax 2 = =A: (2.58)<br />

Agora vamos calcular a energia interna por partícula. Já sabemos que:<br />

U =<br />

@ ln Z; (2.59)<br />

@<br />

logo, para apenas uma partícula a energia interna é dada por:<br />

u =<br />

=<br />

=<br />

@<br />

@ ln Z 1<br />

" # 3=2<br />

@<br />

@ ln V 2m<br />

h 3 <br />

<br />

3 1<br />

2 2<br />

= 3 kT: (2.60)<br />

2<br />

que é o resultado esperado de acordo com a teorema de equipartição da Energia (no modelo<br />

cinético para um gás ideal, cada partícula possui apenas movimento de translação; como<br />

este movimento pode ser decomposto em três movimentos ortogonais, dizemos que cada<br />

partícula tem três graus de liberdade. O teorema de equipartição associa, a cada grau de<br />

liberdade do sistema, um termo de 1 kT na energia interna média da partícula [1, 2]).<br />

2<br />

18


Capítulo 3<br />

O operador Densidade na <strong>Mecânica</strong><br />

<strong>Quântica</strong><br />

No capítulo anterior estudamos a função distribuição de probabilidades, a entropia etc.<br />

Também analisamos os ensembles Microcanônico e Canônico. Nos exemplos, utilizamos<br />

da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> basicamente a informação <strong>sobre</strong> a energia discretizada para calcular<br />

ou o número de estados acessíveis (no ensemble Microcanônico) ou a função de partição<br />

(no ensemble Canônico).<br />

Em nenhum momento discutimos espaços vetoriais, em particular o espaço de Hilbert.<br />

Neste capítulo e no próximo iremos fazer essa análise. Inicialmente, estudaremos a<br />

<strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, por meio de seus postulados básicos, bem como o conceito de operador<br />

densidade. No próximo capítulo estudaremos a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>.<br />

Vale salientar neste ponto que ao estudarmos a <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> no espaço de Hilbert<br />

estamos de certa forma mapeando o espaço de fases contínuo da teoria clássica em um<br />

"espaço de fases discreto", com as variáveis sendo agora os números quânticos, oriundos<br />

das equações de autovalor.<br />

19


3.1 Estrutura formal da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong><br />

Da teoria clássica sabemos que se em um instante inicial conhecemos com exatidão as<br />

posições e velocidades de todas as N partículas de um sistema, então, a priori, podemos<br />

determinar com exatidão o seu comportamento em qualquer instante posterior, pelas<br />

leis de Newton. Utilizamos a teoria de probabilidades somente quando estamos interessados<br />

em observáveis macroscópicos, como pressão, temperatura etc., que representam<br />

comportamentos médios de um sistema contendo um número muito grande de partículas<br />

microscópicas.<br />

Por outro lado, na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> o comportamento da natureza é intrisicamente<br />

indeterminado; mesmo para sistemas simples, como a partícula livre, não é possível conhecer<br />

com exatidão o resultado que será obtido na medida de um observável qualquer.<br />

Conhecemos apenas as probabilidades de, numa dada experiência, ocorrer cada um dos<br />

possíveis valores do observável.<br />

Portanto, antes de discutirmos a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>, é essencial que entendamos<br />

bem como a teoria de probabilidades aparece já na MQ. Com este objetivo,<br />

começaremos este capítulo apresentando, de forma bem sucinta, a formulação matemática<br />

da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> (iremos adotar desde o inicío a notação de Dirac) . Depois discutiremos<br />

o operador densidade e …nalmente, por meio de exemplos, apresentaremos as<br />

di…culdades que aparecem na formulação geral da MQ quando precisamos construir o ket<br />

de um sistema de partículas em diferentes estados quânticos.<br />

3.1.1 Vetor de estado e Espaço de Hilbert<br />

A idéia básica da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> é que o estado físico de um sistema quântico é<br />

completamente descrito por um vetor de estado (ou ket) jvi. Este vetor contém a máxima<br />

informação que a <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> permite atribuir ao sistema, dentre as limitações<br />

impostas pelo Princípio de Heisenberg.<br />

* Uma análise mais detalhada dos postulados da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> pode ser encontrada em vários<br />

livros texto. Citamos, por exemplo: [7, 8, 9].<br />

20


Os kets pertencem a um espaço vetorial complexo de dimensão in…nita, o espaço de<br />

Hilbert , onde se de…ne o produto escalar:<br />

hvjui = hujvi : (3.1)<br />

Vamos assumir que os estados são normalizados <strong>à</strong> unidade, ou seja:<br />

hvjvi = hujui = 1: (3.2)<br />

Pode-se demonstrar que sempre é possível de…nir um conjunto completo de estados<br />

ortonormais formando uma base do espaço de Hilbert. Então, se fjn k ig é uma destas<br />

bases, qualquer ket jvi de pode ser expresso como uma combinação linear dos kets da<br />

base, ou seja:<br />

jvi = X k<br />

v k jn k i : (3.3)<br />

Estamos supondo que a base é numerável, atentando que essa simpli…cação não prejudica<br />

a generalização de teoria. Neste caso, podemos escrever as condições de ortogonalidade<br />

e completeza respectivamente como:<br />

hn k jn m i = km (3.4)<br />

e<br />

X<br />

jn k i hn k j = 1: (3.5)<br />

k<br />

3.1.2 Operadores e Observáveis<br />

O conceito de operador está estritamente ligado <strong>à</strong> medida dos observáveis. Admitiremos<br />

que todos os operadores com interesse físico são lineares. Deste modo, o operador …ca<br />

completamente de…nido se determinarmos sua ação <strong>sobre</strong> qualquer vetor da base, isto é,<br />

o operador ^A é equivalente a matriz A jk = hn j j ^A jn k i que o representa na base fjn k ig.<br />

Matematicamente, usando a relação (3:5) ; temos:<br />

^A = X j<br />

X<br />

jn j i hn j j ^A jn k i hn k j = X<br />

k<br />

jk<br />

21<br />

A jk jn j i hn k j : (3.6)


Os coe…cientes da expansão A jk são dispostos numa matriz quadrada, representando<br />

o operador ^A na base fjn k ig ; ou seja:<br />

0<br />

1<br />

A 11 A 12 A 13 :::<br />

A<br />

^A $<br />

21 A 22 A 23 :::<br />

BA @ 31 A 32 A 33 ::: C<br />

A<br />

::: ::: ::: :::<br />

(3.7)<br />

É importante observar que a ordem no produto de operadores é não-comutativa; em<br />

outras palavras, o operador produto depende da ordem de composição, ou seja, em geral<br />

^A ^B 6= ^B ^A: Podemos, então, de…nir o comutador dos operadore ^A e ^B como sendo:<br />

h<br />

^A; ^Bi<br />

= ^A ^B ^B ^A: (3.8)<br />

O operador Identidade ^I é de…nido de forma a satisfazer ^I jvi = jvi para todo jvi que<br />

pertence ao espaço vetorial. O operador Inverso de ^A, denotado por ^A 1 é o operador<br />

satisfazendo:<br />

<br />

^A ^A<br />

1<br />

= ^A<br />

1 ^A = ^I: (3.9)<br />

O traço de um operador ^A é a soma dos elementos diagonais da matriz correspondente<br />

numa base ortonormal qualquer fjn k ig ; ou seja:<br />

T r ^A = X k<br />

hn k j ^A jn k i (3.10)<br />

Algumas propriedades facilmente demonstráveis do traço são:<br />

1: O traço de operador independe da base ortonormal;<br />

2: T r jui hvj = hvjui;<br />

3: T r ^A ^B = T r ^B ^A e, de modo geral, o traço de um produto de vários operadores é<br />

invariante pela permutação cíclica desses operadores;<br />

4: T r ^A y = (T r ^A) :<br />

Na última propriedade do traço de…nimos o adjunto hermitiano de ^A como sendo<br />

<br />

^A y = ^AT : Um operador ^A é chamado hermitiano se ^A = ^Ay .<br />

22


Podemos de…nir um espaço dual ao espaço representado pelos kets (que chamaremos<br />

de espaço ket). Construimos este espaço associando a cada vetor jvi do espaço ket, um<br />

correspondente vetor bra, simbolizado por hvj, no espaço dual (ou espaço bra). Temos<br />

assim uma correspondência dual entre os dois espaços, ou seja:<br />

jvi hvj : (3.11)<br />

Quando temos operadores atuando nos kets, a correspondência dual é dada por:<br />

^A jvi hvj ^A y : (3.12)<br />

Em particular, quando ^A é hermitiano, temos:<br />

^A jvi hvj ^A: (3.13)<br />

Na MQ, os observáveis são representados por operadores hermitianos e os possíveis<br />

resultados das medidas são os autovalores destes operadores. A necessidade desta representação<br />

compreende-se bem: como veremos a seguir, os autovalores dos operadores<br />

hermitianos são reais, assim, passíveis de serem resultados de medidas físicas.<br />

Para provar que os autovalores dos operadores hermitianos são reais, vejamos a equação<br />

de autovalor, de…nida como sendo:<br />

^A jai = a jai ; (3.14)<br />

onde jai é um autovetor associado ao operador ^A e a é o seu respectivo autovalor.<br />

A correspondência dual <strong>à</strong> equação acima é dada por:<br />

haj ^A = haj a (3.15)<br />

onde usamos a hermiticidade do operador ^A. Multiplicando a Eq.(3:15) por jai <strong>à</strong> direita,<br />

a Eq.(3:14) por haj <strong>à</strong> esquerda e subtraindo uma da outra chegamos a:<br />

hajai (a a ) = 0: (3.16)<br />

Como jai não é nulo, hajai›0; temos que a = a ; como queríamos.<br />

23


A seguir iremos mostrar que os autovetores dos operadores hermitianos são ortogonais<br />

e constituem uma base do espaço de Hilbert.<br />

Sejam jai e ja 0 i dois autovetores distintos (com distintos autovalores) de um operador<br />

hermitiano ^A, tais que:<br />

^A jai = a jai<br />

e<br />

ha 0 j ^A = ha 0 j a 0 ;<br />

onde a 6= a 0 : Multiplicando a primeira equação por ha 0 j <strong>à</strong> esquerda, a segunda por jai <strong>à</strong><br />

direita e subtraindo uma da outra chegamos a:<br />

haja 0 i (a a 0 ) = 0: (3.17)<br />

Como por hipótese a 6= a 0 concluímos que haja 0 i = 0; ou seja, os autovetores associados<br />

com diferentes autovalores de ^A são ortogonais.<br />

Designando por fja 1 i ; ja 2 i ; :::g o conjunto dos autovetores de um observável ^A, podemos,<br />

então, escrever o seu valor médio em um estado jvi qualquer do espaço vetorial como:<br />

hvj ^A jvi = hvj X k<br />

ja k i ha k j ^A jvi (3.18)<br />

= X k<br />

= X k<br />

= X k<br />

a k hvja k i ha k jvi (3.19)<br />

a k jhvja k ij 2 (3.20)<br />

a k p k (a k ; v) ; (3.21)<br />

onde p k (a k ; v) = jhvja k ij 2 é a probabilidade de uma medida da grandeza ^A no estado jvi<br />

fornecer o resultado a k . É fácil ver que a normalização de jvi implica em:<br />

X<br />

p k = 1: (3.22)<br />

k<br />

24


a k ja k i ha k j = X k<br />

3.1.3 Operadores de Projeção e Evolução Temporal<br />

Dado um estado qualquer da base {jn k ig, designaremos por operador de projeção <strong>sobre</strong><br />

este estado o operador:<br />

^P k = jn k i hn k j : (3.23)<br />

Note que ^P k é um operador linear e hermitiano, tendo apenas dois autovalores: 1 ; sendo<br />

jn k i o correspondente autovetor, e 0, para qualquer estado ortogonal a jn k i : Este operador<br />

de projeção apresenta a importante propriedade de indepotência, ou seja:<br />

^P 2 k = ^P k = ^P y k<br />

(3.24)<br />

Assim, usando a Eq.(3:23) com a base própria do operador ^A podemos escrever:<br />

^A = X k<br />

a k ^Pk : (3.25)<br />

A evolução no tempo de um estado jvi qualquer do espaço de Hilbert é determinada<br />

pela equação de Schrödinger:<br />

ih @ @t jvi = ^H jvi ; (3.26)<br />

onde h é a constante de Planck e ^H representa o hamiltoniano do sistema (este é um<br />

operador linear e hermitiano, que se supõe conhecido).<br />

O operador evolução temporal é obtido de maneira recursiva, a partir de [7, 8]:<br />

^U (t; t 0 ) = 1<br />

Z<br />

i t<br />

^H ^U (t 0 ; t 0 ) dt 0 : (3.27)<br />

h t 0<br />

Para ^H (t) = ^H ele vale:<br />

<br />

i<br />

^U (t; t 0 ) = exp<br />

h ^H (t t 0 ) ; (3.28)<br />

que satisfaz a equação:<br />

ih @ @t ^U (t; t 0 ) = ^H ^U (t; t 0 ) : (3.29)<br />

Vale salientar que o conceito de constante de movimento na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> é<br />

diferente da <strong>Mecânica</strong> Clássica. Na teoria clássica, a grandeza conserva-se ao longo da<br />

25


trajetória do sistema, enquanto que na teoria quântica, o ato de medir a grandeza ^A faz<br />

colapsar o estado jvi num dos autoestados do operador associado. Depois da medição, o<br />

estado do sistema é, em geral diferente do estado imediatamente antes da medida.<br />

De…nindo o operador de Heisenberg:<br />

^A (t) = ^U y (t; t 0 ) ^A ^U (t; t 0 ) ; (3.30)<br />

temos uma nova representação da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, onde o estado permanece …xo no<br />

tempo e os operadores evoluem segundo a Eq.(3:30). Na representação de Schrödinger<br />

a evolução temporal é atribuida ao estado, mantendo-se os operadores …xos no tempo.<br />

Vamos agora evoluir no tempo o operador de Heisenberg. Da Eq.(3:30) temos:<br />

d ^A (t)<br />

dt<br />

onde utilizamos a Eq. (3:29) :<br />

= d dt<br />

h<br />

^U y (t; t 0 ) ^A ^U (t 0 ; t)i<br />

= @ ^A<br />

@t + 1<br />

ih ^A (t) ^H 1<br />

ih ^H ^A (t) ; (3.31)<br />

Obtemos assim a equação de evolução dos operadores na representação de Heisenberg,<br />

d ^A (t)<br />

dt<br />

= @ ^A<br />

@t + 1 h<br />

^A (t) ; ^Hi<br />

: (3.32)<br />

ih<br />

Note que nesta equação aparece o comutador de dois operadores.<br />

Este comutador na<br />

teoria quântica tem um papel semelhante ao do parênteses de Poisson na física clássica<br />

(compare, por exemplo, a Eq.(3:32) com a Eq.(2:39) para o caso particular da função<br />

distribuição).<br />

Uma grandeza física representada por um operador hermitiano ^A será uma constante<br />

de movimento se seu valor médio for independente do tempo. Como na maior parte dos<br />

casos, os operadores são explicitamente independentes do tempo, na representação de<br />

h<br />

Heisenberg a condição necessária e su…ciente para isso é que ^A (t) ; ^Hi<br />

= 0:<br />

26


3.1.4 Postulados Fundamentais da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong><br />

Até aqui discutimos os seguintes postulados da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>:<br />

Postulado 1:<br />

O estado físico de um sistema quântico é representado por um vetor de estado, ou ket,<br />

jvi ; de…nido <strong>sobre</strong> o corpo dos complexos;<br />

Postulado 2:<br />

A cada variável dinâmica (observável físico) é associado um operador linear hermitiano;<br />

Postulado 3:<br />

No processo de medida de um observável ^A; os possíveis resultados são dados pelos<br />

autovalores da equação de autovalores:<br />

^A ja k i = a k ja k i : (3.33)<br />

A probabilidade de, na medida de ^A num estado físico jvi ; se obter uma de suas várias<br />

possibilidades de autovalor a k , é dada por:<br />

p k = jha k jvij 2 = hvja k i ha k jvi = hvj ^P k jvi (3.34)<br />

Finalmente, como resultado do processo de medida o sistema, inicialmente num ket jvi<br />

qualquer, colapsa para o autovetor ja k i associado com o resultado da medida (a k ).<br />

Postulado 4:<br />

A evolução temporal de um sistema físico é regida pela equação de Schrödinger:<br />

ih @ @t jvi = ^H jvi : (3.35)<br />

Somente para encerrar esta parte da discussão, é importante ressaltar que o formalismo<br />

acima faz previsões estatísticas para coleções de sistemas identicamente preparados<br />

(ensembles puros), todos eles representados pelo mesmo ket jvi. Para entender melhor o<br />

signi…cado desta frase, considere um observável ^A com dois autoestados possíveis e autovalores<br />

respectivamente dados por a 1 e a 2 : A informação que a MQ é capaz de fornecer é<br />

que se realizarmos a medida de ^A numa coleção de 100 sistemas idênticos representados<br />

27


por um ket jvi qualquer; então (100 p 1 ) destas medidas terão como resultado o valor a 1<br />

e (100 p 2 ), o valor a 2 :<br />

Antes de discutirmos uma aplicação da teoria acima, vamos estudar uma formulação<br />

alternativa da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, que utiliza o operador densidade.<br />

3.2 Operador Densidade<br />

O operador densidade é importante tanto na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> quanto na <strong>Mecânica</strong><br />

<strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. Ele re‡ete tanto os aspectos estatísticos inerentes <strong>à</strong> teoria bem como<br />

aqueles decorrentes do conhecimento incompleto de sistemas associados com ensembles<br />

não puros. Os artigos [11, 12] são boas referências <strong>sobre</strong> o assunto.<br />

3.2.1 Ensembles Estatísticos<br />

Conforme vimos na seção anterior, os postulados da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> foram enunciados<br />

para ensembles puros (ou na linguagem estatística, sistemas fechados). Na prática, entretanto,<br />

normalmente temos coleções com parte dos sistemas em um ket jv 1 i ; outra parte em<br />

um ket jv 2 i e assim por diante. Dizemos que estamos em um "ensemble misto"(ou sistema<br />

aberto) e não temos, usando somente os postulados enunciados acima, como representar<br />

o ket da coleção de sistemas sem ambiguidade. Foi para lidar com sistemas abertos que<br />

Landau introduziu o conceito de operador densidade [17]. Já Von Neumamm utilizou este<br />

conceito para descrever de forma uni…cada os aspectos estatísticos inerentes <strong>à</strong> <strong>Mecânica</strong><br />

<strong>Quântica</strong> [18].<br />

Matematicamente, quando não estamos lidando com um ensemble puro, podemos<br />

apenas associar certas probabilidades ! 1 ; ! 2 ; :::! n ; de que um particular sistema do ensemble,<br />

escolhido aleatoriamente, esteja nos estados quânticos descritos pelos kets jv 1 i,<br />

jv 2 i,:::; jv n i, respectivamente. O ensemble pode, então, ser interpretado como uma superposição<br />

incoerente (que não pode ser expressa por uma combinação linear) de estados,<br />

com ! n representando a fração de sistemas no estado jv n i : Podemos supor que esses kets<br />

28


são normalizados,<br />

hv m jv m i = 1; (3.36)<br />

mas não podemos, a priori, a…rmar que eles são ortogonais. Além disso, as probabilidades<br />

! m devem satisfazer<br />

X<br />

! m 0; ! m = 1: (3.37)<br />

Antes de continuarmos com o formalismo vamos usar um exemplo simples para …xar<br />

as idéias acima. Considere um sistema quântico constituído por dois elétrons. O espaço<br />

vetorial do sistema é o produto direto dos dois espaços de Hilbert, e se quisermos somente<br />

estudar o grau de liberdade de spin, possui dimensão 4. Podemos escolher uma direção ~z<br />

qualquer para descrever uma base do espaço como sendo {j+; +i ; j+; i ; j ; +i ; j ; i}.<br />

Agora considere um subsistema formado por um dos elétrons possuindo spin up e<br />

outro spin down. O subespaço que representa este subsistema tem dimensão 2 e base<br />

{j+; i ; j ; +i}. Um vetor qualquer deste subspaço pode ser representado como uma<br />

superposição linear dos dois vetores da base.<br />

Se quisermos escolher um vetor neste subspaço para representar o ket físico do sistema,<br />

onde possam ser aplicados os postulados básicos da MQ, qual destes vetores devemos<br />

escolher A resposta é que somente com os postulados básicos da MQ não temos condições<br />

de escolher um ket em especial deste subspaço para representar o sistema físico, e na<br />

verdade pode-se demonstrar que diferentes kets implicam em diferentes resultados nos<br />

processos de medida! Esta situação é conhecida na literatura como "degenerescência de<br />

troca" e está associada com a indistinguibilidade das partículas na MQ. Para construirmos<br />

o ket físico do sistema é necessário incluir mais um postulado na MQ, o da simetrização.<br />

Não é nosso objetivo levar adiante a discussão nesta direção. Para o leitor interessado, a<br />

referência [9] apresenta uma ótima análise do problema.<br />

Por outro lado, utilizando o operador densidade, associamos os valores ! + = ! = 0:5<br />

m<br />

para os kets j+i e j<br />

i utilizados na preparação do subsistema.<br />

Voltando a formulação desta representação, utilizando o Postulado 3 da MQ, podemos<br />

calcular a probabilidade de que a medida no ket jv m i do ensemble de uma quantidade<br />

29


física representada pelo operador ^A forneça o resultado a como sendo:<br />

p m a = hv m j ^P a jv m i : (3.38)<br />

onde, ^Pa = jai haj é o operador de projeção associado com o autovetor jai :Portanto,<br />

de…nimos a probabilidade de que a medida no ensemble forneça o resultado a como sendo<br />

a média ponderada:<br />

p a X m<br />

= X m<br />

! n p m a<br />

! m hv m j ^P a jv m i : (3.39)<br />

Usando a propriedade do traço: T r jui hvj = hvjui, podemos escrever a probabilidade<br />

(3.39) como:<br />

p a = X m<br />

= X m<br />

= T r<br />

= T r<br />

! m hv m j ^P a jv m i (3.40)<br />

! m T r<br />

jv m i hv m j ^P<br />

<br />

a<br />

"<br />

!<br />

X<br />

! m jv m i hv m j ^P a<br />

m<br />

m<br />

(3.41)<br />

(3.42)<br />

! #<br />

X<br />

! m jv m i hv m j ^P a : (3.43)<br />

Na parte entre parênteses temos um operador que contém toda a informação <strong>sobre</strong> o<br />

ensemble. Ele é de…nido como sendo Operador Densidade ^, ou seja:<br />

^ X m<br />

! m jv m i hv m j : (3.44)<br />

Usando a de…nição acima, a probabilidade de que a medida de ^A no ensemble forneça<br />

o resultado a pode ser escrita na forma<br />

p a = T r^ ^P a ; (3.45)<br />

e, em analogia <strong>à</strong> Eq.(3:21), o valor esperado da medida de ^A no ensemble é de…nida como<br />

30


sendo:<br />

D<br />

^AE<br />

<br />

X a<br />

ap a<br />

= X aT r^ ^P a<br />

a<br />

!<br />

X<br />

= T r a^ ^P a<br />

a<br />

= T r^ X a<br />

a ^P a<br />

!<br />

(3.46)<br />

(3.47)<br />

A parte entre parênteses é a decomposição espectral do observável ^A, de modo que<br />

chegamos …nalmente a expressão:<br />

D<br />

^AE<br />

= T r^ ^A; (3.48)<br />

que fornece o valor esperado de ^A<br />

D E<br />

no ensemble; ^A , em termos do operador densidade.<br />

Note que a média acima, de…nida em geral para um ensemble misto, é tomada sem a<br />

necessidade de se escrever o ket que representa o ensemble. Em particular, a situação<br />

em que o ket do sistema é conhecido pode ser obtida fazendo ! m = 1 para jv m i = jvi e<br />

! m = 0 para todos os outros kets jv m i : Nesse caso, o operador densidade da Eq. (3:48)<br />

torna-se<br />

a probabilidade pode ser escrita como:<br />

^ = jvi hvj ; (3.49)<br />

p a = hvj ^P a jvi (3.50)<br />

e o valor médio:<br />

D<br />

^AE<br />

= hvj ^A jvi ; (3.51)<br />

em concordância com os postulados básicos da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>. Um ensemble desse<br />

tipo é chamado Ensemble "Puro", ou seja, quando conhecemos completamente o ket do<br />

sistema. Quando o ensemble não é puro, ele é denominado "Misto".<br />

31


3.2.2 Matriz Densidade<br />

A matriz densidade é a representação do operador densidade, Eq.(3.44) numa base ortonormal<br />

fjn k ig, ou seja:<br />

^ = X k<br />

= X k<br />

onde kj são os elementos de matriz, dados por:<br />

X<br />

jn k i hn k j ^ jn j i hn j j<br />

j<br />

X<br />

kj jn k i hn j j ; (3.52)<br />

j<br />

kj = hn k j ^ jn j i<br />

= X m<br />

= X m<br />

! m hn k jv m i hv m jn j i<br />

! m hn k jv m i hn j jv m i : (3.53)<br />

Em termos de kj a Eq (3.40) pode ser escrita como:<br />

p a = X m<br />

= X m<br />

= X kj<br />

! m hv m j ^P a jv m i<br />

X<br />

! m hv m jn j i hn j j ^P a jn k i hn k jv m i (3.54)<br />

kj<br />

kj hn k j ^P a jn i i : (3.55)<br />

Assim kj fornece a probabilidade com que elementos da matriz hn k j ^P a jn j i contribuam<br />

com p a :<br />

Por exemplo, a matriz densidade de uma partícula sem spin na representação das<br />

coordenadas fjrig é:<br />

(r; r 0 ) = hrj ^ jr 0 i<br />

= X m<br />

w m m (r)<br />

<br />

m (r 0 ) ; (3.56)<br />

onde m (r) é a função de onda do estado j mi ; ou seja: hrj mi :<br />

32


3.2.3 Propriedades Gerais do Operador Densidade<br />

Da de…nição do operador densidade ^ pode-se facilmente demonstrar que ele é hermitiano,<br />

não negativo e tem traço unitário. A hermiticidade, por exemplo, decorre do fato das<br />

probabilidades ! m serem números reais, ou seja:<br />

^ y =<br />

=<br />

X<br />

! m jv m i hv m j<br />

m 0<br />

! y<br />

!<br />

X<br />

! m jv m i hv m j<br />

m<br />

(3.57)<br />

= ^: (3.58)<br />

A não-negatividade decorre do fato das probabilidades ! m serem não-negativas. Matematicamente,<br />

temos que para todo ket jvi vale:<br />

hvj^jvi = X m<br />

= X m<br />

! m hvjv m i hv m jvi<br />

! m jhvjv m ij 2 0: (3.59)<br />

A unicidade do traço decorre da normalização das probabilidades e dos kets,<br />

T r^ = X m<br />

= X m<br />

! m T r jv m i hv m j<br />

! m hv m jv m i = 1: (3.60)<br />

3.2.4 Evolução temporal do Ensemble<br />

A evolução temporal do operador densidade pode ser escrita como:<br />

!<br />

d^<br />

dt = d X<br />

! m jv m;t i hv m;t j ; (3.61)<br />

dt<br />

m<br />

onde na expressão acima explicitamos a dependência temporal dos vetores de estado.<br />

Atuando a derivada temporal e considerando ! m constante, temos:<br />

d^<br />

dt = X m<br />

<br />

<br />

d d<br />

! m<br />

dt jv m;ti hv m; tj + jv m ; ti<br />

dt hv m;tj<br />

33<br />

(3.62)


Usando a equação de Schrödinger, Eq.(3:35),<br />

e sua hermitiana conjugada<br />

ih d dt jv m;ti = ^H jv m ; ti ;<br />

ih d dt hv m; tj = ^H hv m ; tj ; (3.63)<br />

podemos reescrever a Eq.(3:55) como:<br />

d^<br />

= X i<br />

w m<br />

dt<br />

h ^H jv m ; ti hv m ; tj + jv m ; ti i <br />

h ^H hv m ; tj<br />

m<br />

= 1 h i<br />

^H; ^ : (3.64)<br />

ih<br />

Essa é a equação que descreve a evolução temporal do operador densidade, conhecida<br />

como equação de Von Neumamm. Note que, para o caso onde ^ = ^( ^H), a equação acima<br />

reduz-se ao análogo quântico do teorema de Liouville, Eq.(2.43). Podemos concluir daí<br />

que o operador densidade é a correspondência quântica da função distribuição canônica<br />

de Gibbs. Veremos mais adiante que quando ^ = ^( ^H); caracterizamos o ensemble como<br />

sendo um ensemble de Gibbs.<br />

A solução da Eq.(3.64) pode ser expressa em termos do operador evolução temporal<br />

^U (t; t 0 ). Para isso, vamos usar que:<br />

de modo que o operador densidade no instante t …ca<br />

jv m ; ti = ^U (t; t 0 ) jv m ; t 0 i ; (3.65)<br />

^ (t) = X m<br />

! m jv m ; ti hv m ; tj<br />

= X ! m ^U (t; t0 ) jv m ; t 0 i hv m ; t 0 j ^U y (t; t 0 )<br />

m<br />

!<br />

= ^U<br />

X<br />

(t; t 0 ) ! m jv m ; t 0 i hv m ; t 0 j ^U y (t; t 0 ) (3.66)<br />

m<br />

A parte entre parênteses é justamente o operador densidade para t 0 . Então podemos<br />

escrever<br />

^ (t) = ^U (t; t 0 ) ^ (t 0 ) ^U y (t; t 0 ) : (3.67)<br />

34


Acompanhando a mudança do ensemble com o tempo, o valor médio de um observável<br />

^A (t) também evolui no tempo, ou seja:<br />

d<br />

D<br />

^AE<br />

dt<br />

= d T r^ ^A<br />

dt<br />

= T r d^<br />

dt ^A + T r^ d ^A<br />

dt<br />

(3.68)<br />

Substituindo a equação Eq.(3:67) na expressão acima chegamos a:<br />

d<br />

D<br />

^AE<br />

dt<br />

= 1 h i<br />

ih T r^ ^A; ^H + T r^ d ^A<br />

* dt<br />

= 1 Dh<br />

^A; ^HiE<br />

d<br />

+<br />

^A<br />

+<br />

; (3.69)<br />

ih<br />

dt<br />

que é chamado Teorema de Ehrenfest.<br />

3.3 A experiência de Stern-Gerlach<br />

A experiência de Stern-Gerlach, realizada em 1922, fornece uma oportunidade para a<br />

aplicação do conceito de operador densidade. O aparelho de Stern-Gerlach consiste essencialmente<br />

num imã produzindo um campo magnético não uniforme. Consideramos um<br />

feixe de átomos de prata penetrando no imã numa direção perpendicular ao gradiente do<br />

campo magnético. Em conseqüência da interação do seu spin com o campo magnético, os<br />

átomos de prata sofrem uma de‡exão na sua passagem pelo campo.<br />

De acordo com a interação do spin com o campo magnético, átomos com o spin para<br />

cima (s = +1=2) serão de‡etidos para cima na passagem através do imã, ao passo que<br />

átomos com spin para baixo (s = 1=2) serão de‡etidos para baixo, conforme a Fig.(3:1).<br />

Assim, observando o sentido da de‡exão de um átomo, podemos medir a componente do<br />

spin (que chamaremos de "polarização") na direção do eixo vertical.<br />

O aparelho de Stern-Gerlach (SG) mede, portanto, o componente de spin na direção<br />

do campo magnético aplicado. Os átomos de prata formam um ensemble <strong>sobre</strong> o qual a<br />

medida é efetuada.<br />

35


Fig. 3.1. Aparelho Stern-Gerlach<br />

A seguir, vamos discutir algumas possibilidades de preparação de feixe utilizando o<br />

aparelho acima. Nosso objetivo é interpretar os resultados de medidas de polarização<br />

do feixe por meio dos postulados básicos da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, bem como utilizando o<br />

operador densidade.<br />

No cálculo das polarizações iremos utilizar a representação [10]:<br />

^S x = h [j+i h j + j i h+j] ;<br />

2<br />

^S y = h [ i j+i h j + i j i h+j] ;<br />

2<br />

e<br />

^S z = h [j+i h+j + j i h j] ; (3.70)<br />

2<br />

onde ^S x ; ^S y e ^S z são os operadores associados com as componentes de spin nas direções<br />

~x, ~y e ~z, respectivamente, expressos na base formada pelos autovetores de ^S z ; ou seja,<br />

fj+i ; j ig.<br />

3.3.1 Análise via <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> usual.<br />

1 a Preparação para o sistema:<br />

Inicialmente vamos passar um feixe não polarizado, vindo por exemplo diretamente<br />

de um forno, em um aparelho SG orientado no eixo ~z: Como resultado deste processo, o<br />

feixe inicial é separado em dois, um onde todos os átomos tem polarização na direção ~z<br />

36


igual a + h 2 e outro onde todos os átomos tem polarização na direção ~z igual a h<br />

2 . Se<br />

agora quisermos somente estudar o feixe resultante do aparato de SG com polarização<br />

+ h ; então temos um ensemble puro, onde todos os átomos são representados pelo mesmo<br />

2<br />

ket j+i ; conforme a Fig.(3:2) :<br />

Z<br />

m=+1/2<br />

Feixe<br />

Polarizado<br />

B ext<br />

Fig. 3.2: 1 a preparação do sistema.<br />

Como estamos lidando com um ensemble puro, os postulados básicos da MQ se aplicam<br />

e podemos obter os valores médios de ^S z ; ^S y ; ^S x no ket j+i como sendo:<br />

h+j ^S z j+i = h h+j (j+i h+j + j i h j) j+i<br />

2<br />

= h 2 ; (3.71)<br />

h+j ^S y j+i = h h+j (<br />

2<br />

i j+i h j + i j i h+j) j+i<br />

= 0 (3.72)<br />

e<br />

h+j ^S x j+i = h h+j (j+i h<br />

2<br />

j + j i h+j) j+i<br />

= 0: (3.73)<br />

2 a Preparação para o sistema:<br />

Se re…zermos a experiência anterior, agora orientando o campo magnético externo na<br />

direção ~y e considerarmos somente o feixe com polarização na direção ~y igual a + h 2 ,<br />

então temos novamente um ensemble puro onde todos os átomos são representados pelo<br />

ket jY; +i ; conforme a Fig. (3:3):<br />

37


Y<br />

m=+1/2<br />

Feixe<br />

Polarizado<br />

B ext<br />

Fig.3.3: 2 a preparação do sistema.<br />

Calculando o valor médio de ^S y<br />

no estado jY; +i temos:<br />

hY +j ^S y jY +i = h hY +j [jY +i hY +j + jY i hY j] jY +i<br />

2<br />

= h 2 : (3.74)<br />

Analogamente para ^S x e ^S z ; obtemos:<br />

hY +j ^S x jY +i = hY +j ^S z jY +i = 0: (3.75)<br />

3 a Preparação para o sistema:<br />

Vamos agora considerar um ensemble misto onde, pelo menos no instante inicial,<br />

metade dos átomos tem polarização de spin igual + h 2 na direção ~z e metade h<br />

2 na<br />

direção ~z: Podemos obter este feixe misturando novamente os dois feixes separados na<br />

primeira preparação.(Fig. (3:4)).<br />

Z<br />

m=+1/2<br />

m=+1/2<br />

B ext<br />

Fig. 3.4: 3 a preparação do sistema.<br />

Nesta preparação o feixe resultante do campo magnético não está polarizado. Não<br />

podemos aplicar os postulados gerais da MQ, pois não temos um ensemble puro, com<br />

38


todos os átomos no mesmo estado quântico. Para construir um ket que represente este<br />

conjunto de átomos em diferentes estados sem ambiguidades, devemos utilizar um novo<br />

postulado na MQ, o da simetrização, que introduz na MQ o Princípio de Exclusão de<br />

Pauli. Esta situação é análoga ao problema dos elétrons apresentado na seção (3.2.1).<br />

3.3.2 Análise via Operador Densidade.<br />

Vamos agora fazer a análise das três preparações acima utilizando o operador densidade.<br />

1 a Preparação para o sistema:<br />

Conforme vimos, o feixe é preparado de forma que todos os átomos de prata estão no<br />

estado descrito pelo ket j+i. Neste caso, o operador densidade é dado por:<br />

^ = X m<br />

w m j mi h mj $ 1 j+i h+j + 0 j i h j<br />

$ j+i h+j : (3.76)<br />

Na representação matricial temos [7]:<br />

^ $<br />

$<br />

1 <br />

1 0<br />

0<br />

0 1<br />

@ 1 0 A :<br />

0 0<br />

Calculando o valor médio de ^S z obtemos:<br />

20<br />

1 0 13<br />

D E<br />

^Sz = T r^ ^S z = h 2 T r 4@ 1 0 A @ 1 0 A5<br />

0 0 0 1<br />

= h 2 : (3.77)<br />

e analogamente para ^S y e ^S x :<br />

D E D E<br />

^Sx = ^Sy = 0: (3.78)<br />

Note que agora as médias são tomadas no ensemble, e não mais em kets especí…cos.<br />

2 a Preparação para o sistema:<br />

39


Neste caso, o feixe está completamente polarizado na direção ~y, com todos os átomos<br />

no estado jY; +i : Neste caso ^ pode ser escrito como:<br />

^ = jY; +i hY; +j<br />

0 1<br />

$ p 1 @ 1 A 1 <br />

p<br />

1 i<br />

2 i 2<br />

0 1<br />

$ 1 @ 1 i A ; (3.79)<br />

2 i 1<br />

e os valores médios de ^S z ; ^S y ; ^S x serão:<br />

20<br />

1 0 13<br />

D E<br />

^Sy = 1 h<br />

2 2 T r 4@ 1 i A @ 0 i A5<br />

i 1 i 0<br />

= h 2 ; (3.80)<br />

D E D E<br />

^Sx = ^Sz = 0: (3.81)<br />

3 a Preparação para o sistema:<br />

Agora o feixe é preparado de forma a ter metade dos átomos representados pelo ket<br />

j+i e metade pelo ket j i : O operador densidade é dado por:<br />

^ $ 1 2 j+i h+j + 1 2 j i h j<br />

0 1<br />

$ 1 @ 1 A 0 1<br />

<br />

1 0 + 1 @ 0 A <br />

0 1<br />

2 0<br />

2 1<br />

0 1<br />

$ 1 @ 1 0 A (3.82)<br />

2 0 1<br />

40


e os valores médios de ^S z ; ^S y ; ^S x serão:<br />

20<br />

1 0 13<br />

D E<br />

^Sz = h 2 T r 4@ 1 0 A @ 1 0 A5<br />

0 1 0 1<br />

0 1<br />

= h 2 T r @ 1 0 A<br />

0 1<br />

= 0; (3.83)<br />

D E D E<br />

^Sx = ^Sy = 0 (3.84)<br />

Podemos assim obter, utilizando o operador densidade, o valor da polarização de spin<br />

em um ensemble misto, o que não é possível somente utilizando os postulados gerais da<br />

MQ.<br />

41


Capítulo 4<br />

<strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong><br />

Até agora vimos conceitos de <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica e <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>. Em<br />

particular, analisamos o operador densidade no contexto da <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>. Vamos a<br />

seguir unir estes dois formalismos na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong> [13, 14, 15]. Sempre<br />

que possível, faremos uma comparação entre os resultados obtidos neste capítulo com os<br />

apresentados no segundo.<br />

4.1 Entropia<br />

Conforme vimos anteriormente, a entropia é um conceito de fundamental importância na<br />

Termodinâmica e na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong>. Um mínimo de informação <strong>sobre</strong> o estado do<br />

sistema ocorre quando a entropia é máxima, ou seja, a entropia representa o total de<br />

desordem no estado. Uma visão mais geral do conceito de entropia pode ser encontrada<br />

na referência [3]. Nesta seção estudaremos o Operador Entropia e suas implicações na<br />

<strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>.<br />

4.1.1 Operador Entropia<br />

Vamos introduzir o operador entropia de…nido como sendo [13],<br />

^S (^) = k ln ^; (4.1)<br />

42


onde a constante k só será a constante de Boltzmann quando a de…nição mecânicoestatística<br />

da entropia for igual <strong>à</strong> termodinâmica. Usando a de…nição do operador densidade,<br />

Eq.(3:41) ; podemos escrever o operador entropia como:<br />

^S (^) = k ln ^ k ln X m<br />

! m jv m i hv m j : (4.2)<br />

Em decorrência das propriedades do operador densidade, anteriormente estudadas,<br />

podemos também a…rmar que o operador entropia é hermitiano e não-negativo.<br />

outras palavras, os autovalores do operador entropia são reais e não-negativos.<br />

Em<br />

Mais<br />

ainda, da mesma forma que o operador densidade, o operador entropia satisfaz a equação<br />

de Von Neumann, ou seja:<br />

d ^S<br />

dt = 1 h<br />

^H; ^Si<br />

: (4.3)<br />

ih<br />

O operador entropia satisfaz a aditividade, pois se ^ descreve ensembles independentes,<br />

ele é produto direto dos operadores ^ 1 e ^ 2 nos espaços vetoriais " 1 e " 2 ; e portanto pode-se<br />

demonstrar neste caso que:<br />

^S (^ 1 ^ 2 ) = ^S (^ 1 ) + ^S (^ 2 ) ; (4.4)<br />

que representa a propriedade de aditividade.<br />

4.1.2 De…nição e Propriedades da Entropia<br />

O valor médio do operador entropia é dado, num ensemble caracterizado pelo operador<br />

densidade ^; por:<br />

D<br />

S ^SE<br />

= k hln ^i<br />

= kT r^ ln ^ (4.5)<br />

e é chamado de Entropia de Informação, Entropia de Von Neumann ou, como utilizaremos<br />

no texto, simplesmente entropia.<br />

No caso de um ensemble puro, w m só poderá assumir os valores 0 ou 1. Neste caso<br />

S = 0; ou seja, o máximo de informação possível implica em um mínimo valor da entropia<br />

43


(vemos também daí que, pelo quarto postulado da Termodinâmica, para um ensemble<br />

puro a temperatura é nula) Analogamente, um mínimo de informação <strong>sobre</strong> o estado do<br />

sistema ocorre quando a entropia é máxima. Por essa razão a entropia é considerada uma<br />

medida da desordem ou falta de informação <strong>sobre</strong> o sistema.<br />

Para entender melhor estes conceitos vamos, novamente usando o aparato de Stern-<br />

Gerlach, determinar a entropia do feixe de átomos de spin 1=2.em duas preparações.<br />

Na primeira preparação vamos considerar um feixe completamente polarizado na direção<br />

~z.<br />

Conforme vimos na seção (3:3:2), o operador densidade para essa especí…ca<br />

preparação é dado por:<br />

0 1<br />

^ = j+i h+j =<br />

: @ 1 0 A : (4.6)<br />

0 0<br />

Podemos calcular diretamente a entropia do sistema, pois a matriz já é diagonal,<br />

0 1 0 1<br />

S = kT r^ ln ^ = kT r @ 1 0 A ln @ 1 0 A<br />

0 0 0 0<br />

= k (1 ln 1 + 0 ln 0) = 0; (4.7)<br />

como deveríamos esperar, já que o ensemble é puro.<br />

Agora, tomando o feixe não polarizado com 50% dos átomos no estado j+i e 50 /% no<br />

estado j<br />

i, o operador densidade é dado pela Eq.(3:82) ; ou seja:<br />

0 1 0 1<br />

^ = 1 @ 1 0 A =<br />

: @ 1=2 0 A : (4.8)<br />

2 0 1 0 1=2<br />

Calculando a entropia do sistema nesta preparação, temos:<br />

S = kT r^ ln ^ = kT r X w i jii hij ln X w j jji hjj<br />

i=<br />

j<br />

1<br />

= k<br />

ln<br />

2 h+j 1 <br />

2 (j+i h+j + j i h j) j+i + h j<br />

ln 1 <br />

2 (j+i h+j + j i h j) j i<br />

<br />

= k ln 1 2 + ln 1 <br />

2<br />

1<br />

= k<br />

2 ln 1 2 + 1 2 2<br />

ln 1 = k ln 2 = k (0; 693) (4.9)<br />

Neste caso S é máxima e dada pela dimensão do espaço de spin 1=2; que é 2.<br />

44


4.1.3 Evolução temporal do operador entropia<br />

Nesta subseção mostraremos que a entropia de um sistema isolado permanece inalterada<br />

no decorrer do tempo. Para isso vamos utilizar que a evolução temporal da entropia é<br />

dada por:<br />

*<br />

dS<br />

dt = 1 Dh<br />

^S; ^HiE<br />

d<br />

+<br />

^S<br />

+<br />

ih<br />

dt<br />

(4.10)<br />

Substituindo a derivada temporal do operador entropia dada pela equação de Von<br />

Neumann, Eq.(4:3) ; temos:<br />

dS<br />

dt<br />

= 0; (4.11)<br />

e portanto, S (t) = S (t 0 ). Este resultado parece absurdo, haja vista que a entropia de um<br />

sistema isolado tende ao valor máximo de acordo com a segunda lei da Termodinâmica.<br />

Gibbs estudou esse problema na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica e de acordo com sua análise,<br />

devido a nossa incapacidade de acompanhar exatamente a evolução temporal do sistema<br />

isolado, sua entropia pode crescer. Klein estudou o mesmo problema na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>,<br />

onde mostrou que nossa incapacidade de determinar o operador densidade exato<br />

do sistema equivale a uma adaptação do estudo de Gibbs. Klein mostrou também que<br />

nesse caso, podemos apenas determinar o operador densidade granulado. Este operador<br />

não será abordado neste texto, mas informações <strong>sobre</strong> ele podem ser encontradas nas<br />

referências [13, 19].<br />

4.1.4 Ensembles Estatísticos de Gibbs<br />

Conforme observações feitas nas seções anteriores, percebemos que para que a descrição<br />

de um ensemble em equilíbrio termodinâmico possa ser feita é necessário que o operador<br />

densidade ^ independa do tempo, ou seja:<br />

h<br />

^H; ^<br />

i<br />

= 0; (4.12)<br />

conforme a equação de Von Neumann,.Eq. (4:3) :<br />

Gibbs a…rmou que isso só é satisfeito se ^ for uma função unicamente do hamiltoniano<br />

^H, do momento linear ^p e do momento angular ^L; que são constantes aditivas de<br />

45


movimento. Mas como o sistema permanece em repouso, o momento linear e o momento<br />

angular são nulos.<br />

unicamente do hamiltoniano, ou seja:<br />

Então podemos expressar o operador densidade como uma função<br />

<br />

^ = ^ ^H : (4.13)<br />

Nestas situações dizemos que temos um ensemble estatístico de Gibbs.<br />

4.2 Ensemble Microcanônico<br />

Já vimos que na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica o ensemble microcanônico é aquele<br />

constituído por sistemas isolados. Ele é o mais difícil de se trabalhar, pois requer a<br />

contagem do número total de estados microscópicos acessíveis ao sistema, o que, muitas<br />

vezes não é trivial de se determinar. Mesmo assim, é nele que se aplica o postulado de<br />

probabilidades iguais e portanto é a partir dele que podemos encontrar os operadores<br />

densidade dos sistemas abertos, conforme vimos no segundo capítulo.<br />

4.2.1 Operador Densidade do Ensemble Microcanônico<br />

Vamos considerar um ensemble caracterizado pelo volume V, pelo número de partículas<br />

N e pela energia, compreendida entre E e E + E, onde E é a incerteza na energia. Essa<br />

variação da energia é uma consequência da imprecisão experimental do sistema, haja<br />

vista não ser possível se ter um sistema totalmente isolado. Nosso objetivo é determinar<br />

o operador densidade que descreve esse ensemble.<br />

Para isso consideremos a equação de autovalordo operador hamiltoniano:<br />

^H jni = E n jni (4.14)<br />

Podemos escrever um ket para o sistema como uma combinação linear da base ortonormal<br />

fjnig e chamaremos de w a dimensão do subespaço " 0 gerado pelos kets jni com<br />

energia E n entre E e E + E: Um ket no subespaço " 0 é então escrito como:<br />

0X<br />

jvi = c n jni ; (4.15)<br />

n<br />

46


onde a soma P 0n é <strong>sobre</strong> todos os w valores de n tais que E‹E n‹E + E. Os kets são<br />

normalizados, então:<br />

hvjvi =<br />

=<br />

0X<br />

c n c n 0 hnjn0 i<br />

nn 0<br />

0X<br />

jc n j 2 = 1: (4.16)<br />

n<br />

Como escrevemos o ket do sistema como uma combinação linear dos elementos da<br />

base, podemos dizer que a contribuição do ket jvi ao operador densidade é dada por:<br />

Logo, ^ pode ser escrito como:<br />

jvi hvj = X nn 0 c n c n 0 jni hn0 j : (4.17)<br />

^ = jvi hvj<br />

= X nn 0 c n c n 0 jni hn 0 j ; (4.18)<br />

onde a barra representa a média aritmética (todos os estados possuem aproximadamente<br />

a mesma energia) feita <strong>sobre</strong> todos os possíveis kets do ensemble.<br />

Outro ponto a salientar é que além da média no ensemble realizada na Eq.(4.18),<br />

também no cálculo dos valores esperados dos observáveis no formalismo quântico, iremos<br />

utilizar a Eq.(3.48). Em outras palavras, na teoria estatística quântica, realizamos<br />

dois tipos de média, como era de se esperar, pois elas representam a teoria estatística<br />

propriamente dita, bem como a indeterminação da teoria quântica.<br />

Voltando ao cálculo de ^, se c n são números complexos, podemos escrevê-los como:<br />

c n = X n exp (i n ) ; X n ›0: (4.19)<br />

Então, usando a Eq.(4.16), temos que:<br />

0X<br />

jc n j 2 = 1 =<br />

n<br />

0X<br />

jX n j 2 = 1: (4.20)<br />

n<br />

47


De acordo com o postulado Fundamental da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong>, temos que todos os<br />

estados são igualmente prováveis. Então a probabilidade associada a um particular ponto<br />

no espaço " 0 é dada por:<br />

P = (fX n g ; f n g) =<br />

1<br />

(2) w ; (4.21)<br />

onde (2) w é a área do espaço de fases, representado por x n e n . Portanto, a média<br />

c n c n é dada por:<br />

Z<br />

c n c n<br />

= 0<br />

d ( k d k ) P (fX n g ; f n g) c n c n0; (4.22)<br />

com a integral varrendo todos os possíveis kets, o que signi…ca varrer todos os possíveis c n :<br />

A média acima é calculada nas referências [13, 5]. Nos retringiremos a utilizar o resultado,<br />

ou seja:<br />

c n c n 0 = nn 0<br />

w<br />

Assim, podemos escrever o operador densidade, Eq. (4.18), como:<br />

^ =<br />

= 1 w<br />

0X<br />

c n c n<br />

jni hn 0 j =<br />

0<br />

nn 0 0X<br />

n<br />

0X<br />

nn 0 nn 0<br />

w jni hn0 j<br />

hnjn 0 i = ^I<br />

w ; (4.23)<br />

onde ^I é o operador identidade no subespaço " 0 . Este resultado é exatamente o postulado<br />

fundamental, que se aplica a sistemas isolados, ou seja a probabilidade, que é proporcional<br />

ao operador densidade, é o inverso do número de microestados acessíveis ao sistema, neste<br />

caso, a dimensão do subespaço " 0 : Somente para ressaltar este resultado, vamos recuperar<br />

as Eq.(4:12) e (4:13). Neste caso, a dimensão do subespaço de spin é 2, compatível com<br />

os resultados.<br />

Introduzindo a função:<br />

8<br />

< 1; se 0 x E<br />

(x) =<br />

: 0; outro caso<br />

(4.24)<br />

temos:<br />

<br />

M ^H<br />

<br />

E = X n<br />

M (E n E) jni hnj =<br />

0X<br />

jni hnj (4.25)<br />

n<br />

48


Utilizando o traço:<br />

<br />

T r M ^H<br />

<br />

E = T r<br />

!<br />

0X<br />

jni hnj = w; (4.26)<br />

n<br />

podemos escrever o operador densidade como:<br />

<br />

^ = ^I 0 M ^H E<br />

w = ; (4.27)<br />

T r M ^H E<br />

que é chamado de operador densidade microcanônico. Esta é uma função unicamente<br />

do hamiltoniano do sistema, satisfazendo, portanto a condição de que seja ensemble de<br />

Gibbs.<br />

4.2.2 Entropia<br />

Sabemos que a entropia é dada pela Eq.(4.5) e ^ do ensemble microcanônico pela Eq.(4.23) :<br />

Então podemos escrever a entropia S na forma:<br />

"<br />

!<br />

1<br />

0X<br />

S = kT r jni hnj ln<br />

w<br />

Usando a propriedade do traço T r jui hvj = hvjui, S …ca:<br />

S = k 1 w<br />

= k 1 w<br />

n<br />

0X<br />

n<br />

<br />

hnj ln ^I<br />

0X<br />

(ln 1<br />

n<br />

= k 1 0X<br />

w ln w 1<br />

n<br />

1<br />

w<br />

!#<br />

0X<br />

jni hnj<br />

n<br />

ln w ^I<br />

<br />

jni<br />

ln w) hnjni<br />

(4.28)<br />

= k ln w; (4.29)<br />

que é conhecido como Princípio de Boltzmann., e é consistente coma de…nição (2:12) no<br />

ensemble microcanônico, desde que façamos a interpretação de w como sendo o número<br />

de estados acessíveis, conforme ressaltamos anteriormente.<br />

49


4.2.3 Gás Ideal<br />

Vamos considerar um sistema formado por N partículas idênticas e sem spin, de massa m<br />

colocadas em uma caixa cúbica com paredes impenetráveis e de comprimento L, (dentro da<br />

caixa as partículas podem mover-se livremente). Por estarem livre, podemos compará-las<br />

a um gás ideal.<br />

Aqui vamos usar o ensemble microcanônico para determinar a entropia do sistema.<br />

Como estamos com um sistema de N partículas, o espaço de estados do sistema " é o<br />

produto tensorial:<br />

O hamiltoniano de uma partícula livre é dado por:<br />

" = " 1 " 2 ::: " N : (4.30)<br />

^H = ^p2<br />

2m ; (4.31)<br />

onde ^p 2 é o operador momento linear. Os autoestados do momento satisfazem a equação<br />

de autovalor:<br />

e são também autoestados do hamiltoniano, com autovalor:<br />

Então:<br />

^p jki = hk jki (4.32)<br />

= h2 k 2<br />

2m : (4.33)<br />

Vamos usar a completeza (3:5) e a projeção do ket jki na equação de autovalor (4:32).<br />

Da representação coordenada sabemos que:<br />

Z<br />

d 3 r 0 hrj^pjr 0 i hr 0 jki = hk hrjki (4.34)<br />

hrj^pjr 0 i = ih M 3 (r r 0 ) : (4.35)<br />

Ainda usando a representação coordenada hrjki = k (r), obtemos a seguinte equação<br />

diferencial para a função de onda:<br />

r k (r) = ik k (r) :<br />

50


Então, a solução mais geral dessa equação, normalizada no volume V = L 3 da caixa,<br />

pode ser escrita como:<br />

k (r) =<br />

i p<br />

V<br />

exp (ik r) :<br />

Aplicando as condições de contorno periódicas de Born-Von Kárman, dadas por:<br />

k (r) = k (r + Li) + k (r + Lj) + k (r + Lk) ;<br />

podemos escrever os vetores de onda como:<br />

k i = 2 L n i , i = o; 1; 2; ::: (4.36)<br />

Entretanto, até agora trabalhamos apenas com uma única partícula. Assim, para N<br />

partículas, vamos escrever uma base ortonormal fjk i ig do espaço de estados " i da i-ésima<br />

partícula. Assim, os kets<br />

jk 1 i jk 2 i ::: jk N i = jk 1 k 2 :::k N i ; (4.37)<br />

também formam uma base ortonormal em " = i " i : O hamiltoniano para N partículas<br />

pode ser escrito como:<br />

^H tot =<br />

e os autoestados do hamiltoniano satisfazem<br />

E tot =<br />

NX<br />

i=1<br />

NX<br />

i=1<br />

^H i ; (4.38)<br />

h 2 k 2 i<br />

2m : (4.39)<br />

Cada estado jki ocupa um volume V = L 3 no espaço k. Isso implica que a soma <strong>sobre</strong><br />

todos os valores de k de (4:36) pode ser substituída pela integral, ou seja:<br />

X<br />

! V Z<br />

d 3 k; (4.40)<br />

h 3<br />

k<br />

onde h = 2h é constante de Planck. No limite de V ! 1 os valores possíveis de p<br />

formam um contínuo. O número de estados w com energias entre E e E + E é dado por:<br />

w (E; V; N) =<br />

X<br />

E‹E toto‹E+E<br />

51<br />

1 =<br />

Z E+E<br />

E<br />

D (E) dE; (4.41)


onde D (E) é a densidade de estados do sistema<br />

D (E) = X k 1<br />

X<br />

k 2<br />

::: X k N<br />

E<br />

NX<br />

i=1<br />

h 2 k 2 i<br />

2m<br />

e é dada por [1, 13]:<br />

3N<br />

2m<br />

D (E) = V N 2<br />

E 3N 1 2<br />

h 2 3N<br />

1 !<br />

2<br />

Assim, o peso estatístico w, …ca:<br />

w (E; V; N) =<br />

e podemos escrever a entropia como:<br />

S<br />

k = N ln V ln 3N<br />

2<br />

V N<br />

3N<br />

2<br />

1 !<br />

2m<br />

Utilizando a fórmula de Stirling (2:19) chegamos a:<br />

S<br />

k = N ln V + 3N 2<br />

h 2<br />

!<br />

3N<br />

2<br />

E<br />

E<br />

<br />

1 ! + 3N 2mE E<br />

2 ln + ln<br />

h 2<br />

E<br />

4mE<br />

3Nh 2 <br />

+ 3N 2 + O (ln) + ln E<br />

E<br />

: (4.42)<br />

(4.43)<br />

(4.44)<br />

<br />

: (4.45)<br />

<br />

: (4.46)<br />

Desprezando os últimos termos, que são muitos pequenos comparados com os termos<br />

de primeira ordem, temos:<br />

e<br />

S (E; V; N) = kN<br />

<br />

ln V + 3 4mE<br />

2 ln + 3 <br />

3Nh 2 2<br />

(4.47)<br />

Usando as de…nições da termodinâmica para a temperatura e pressão, respectivamente,<br />

chegamos a:<br />

1<br />

T = @S<br />

@E = 3 Nk<br />

2 E ; (4.48)<br />

P<br />

T = @S<br />

@V = Nk<br />

V ; (4.49)<br />

E = 3 NkT; (4.50)<br />

2<br />

e<br />

P V = NkT; (4.51)<br />

que são as mesmas expressões que obtivemos na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica, estando<br />

de acordo com o teorema da Equipartição da Energia.<br />

52


4.3 Ensemble Canônico<br />

O Ensemble Canônico no formulação quântica é de…nido de maneira análoga ao caso<br />

clássico, ou seja, o sistema isolado consiste do reservatório a temperatura T e o sistema<br />

S cujas dimensões são muito menores que a do reservatório, de forma a manter a sua<br />

emperatura constante. Para o sistema isolado, o hamiltoniano total pode ser escrito<br />

como:<br />

^H 0 = ^H R + ^H S (4.52)<br />

onde ^H 0; ^HR e ^H S representam os operadores hamiltoniano do sistema isolado, do reservatório<br />

e do sistema, respectivamente, de…nidos nos espaços 0 = R S; R e S : As<br />

equações de autovalor para os operadores hamiltonianos são dadas por:<br />

^H 0 jn R n S i = (E nR + E nS ) jn R n S i ; (4.53)<br />

^H R jn R i = E nR jn R i (4.54)<br />

e<br />

^H S jn S i = E nS jn S i : (4.55)<br />

O sistema isolado (R + S) representa um ensemble Microcanônico, cujo operador<br />

densidade é dado pela Eq. (4.24), ou seja:<br />

^ 0 = ^I<br />

w ; (4.56)<br />

onde w representa a dimensão do espaço 0 . Para obter o operador densidade do sistema<br />

S, basta tomarmos o traço parcial de ^ 0 nos estados de R : No limite de reservatório ideal<br />

chegamos a:<br />

^ S =<br />

e ^H S<br />

T re ^H S<br />

; (4.57)<br />

que é o operador densidade num sistema a temperatura constante T .<br />

53


4.3.1 Paramagneto de spin 1/2<br />

Vamos analisar o o paramagneto de spin meio de…nido no capítulo 2 usando o operador<br />

densidade ^ S : A hamiltoniana do sistema é dada por<br />

^H S = 0 Bb z : (4.58)<br />

Na base fjig dos autovetores de ^S z o operador densidade é escrito como:<br />

0<br />

1<br />

: 1<br />

^ S = @ e 0 B 0<br />

A : (4.59)<br />

e 0 B + e 0 B 0 e 0 B<br />

A energia interna é de…nida como sendo o valor esperado no ensemble do operador<br />

hamiltoniano, ou seja:<br />

que é o mesmo resultado obtido no capítulo 2.<br />

D E<br />

U = ^HS = T r^ S ^HS (4.60)<br />

<br />

0 H<br />

= H 0 tanh ; (4.61)<br />

kT<br />

54


Capítulo 5<br />

Conclusões e Pespectivas<br />

O objetivo deste trabalho foi estudar a <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. Mais especi…camente,<br />

buscamos entender o operador densidade na teoria quântica, realizando análises<br />

na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> e na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>.<br />

Inicialmente, vimos na <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> Clássica os ensembles microcanônico e<br />

canônico, alguns exemplos de suas aplicações, além de fazermos sua conexão com a Termodinâmica.<br />

Na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, vimos alguns conceitos básicos de álgebra vetorial e seus postulados,<br />

que foram de fundamental importância para o entendimento do trabalho aqui<br />

desenvolvido.<br />

Depois da análise desses conceitos, …zemos um estudo detalhado do operador densidade<br />

e suas implicações na <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>. Estudamos a experiência de Stern-Gerlach,<br />

onde concluímos que, ao utilizarmos o operador densidade para o cálculo do valor médio<br />

de uma grandeza, não precisamos necessariamente conhecer o ket do sistema.<br />

Finalmente estudamos <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>. Vimos o operador entropia em<br />

geral e em particular, realizamos uma análise dos ensembles microcanônico e canônico.<br />

Através dos cálculos necessários, concluimos que o valor médio do operador entropia é a<br />

própria entropia do sistema.<br />

Somente para ressaltar alguns dos pontos principais discutidos no texto, vamos voltar<br />

<strong>à</strong> experiência de Stern-Gerlach. Se preparamos o feixe em um ensemble puro, como por<br />

55


exemplo, com todos os átomos orientados com o spin para cima, temos o conhecimento<br />

completo do sistema; em outras palavras conhecemos o seu ket, e neste caso encontramos<br />

que a entropia é nula, Eq.(4:11). Agora, se preparamos o sistema, misturando feixes totalmente<br />

polarizados, aumentamos a entropia do sistema ou, em outras palavras, perdemos<br />

informação <strong>sobre</strong> o sistema. Não podemos mais escrever o seu ket de maneira única (somente<br />

utilizando os postulados básicos da MQ) e o máximo de informação que podemos<br />

obter está no operador densidade. Qualquer uma das possibilidades de ket que constituem<br />

o ensemble pode ser representada pelo mesmo operador densidade Na preparação escolhida<br />

no texto, com metade do feixe com spin up e metade com spin down, vimos que<br />

temos entropia máxima, dada por k ln 2:<br />

A motivação inicial para este trabalho era aplicá-lo no entendimento da formulação<br />

térmica da Teoria <strong>Quântica</strong> de Campos. Assim, como perspectiva de continuidade deste<br />

estudo podemos desenvolver uma análise da Teoria <strong>Quântica</strong> de Campos a temperatura<br />

…nita.<br />

56


Referências Bibliográ…cas<br />

[1] SALINAS. S., <strong>Introdução</strong> <strong>à</strong> Física <strong>Estatística</strong>, Edusp, 1997.<br />

[2] REIF. F., Fundamentals of Statistical and Thermal Physics, Mc Gran-Hill<br />

International, 1985.<br />

[3] CALLEN. H., Thermodynamics and an Introduction to Thermostatistics,<br />

University of Pennsylvania, 1985.<br />

[4] HUANG. K., Statistical Mechanics, Second Edition, 1987.<br />

[5] NAZARENO. H., <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> e Funções de Green, Universidade de<br />

Brasília, 1986.<br />

[6] KUBO, R., Statistical Mechanics, North-Holland, 1993.<br />

[7] SAKURAI. J., Modern Quantum Mechanics, San Fu Tuan Edition, 1985.<br />

[8] DAS. A., Quantun Mechanics, Hindustan Book Agency, 2003.<br />

[9] COHEN-TANNOUDJI, C., Quantum Mechanics, John Wiley, 1977.<br />

[10] VIZEU. S., Notas de aula do curso de <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>, UFPA, 2005.<br />

[11] FANO. U., "Description of States in Quantun Mechanics by Density Matrix and<br />

Operator Techniques", Phys. Rev. Lett. 29, 74, 1957.<br />

[12] TER HAAR. B., "Theory and Application of The Density Matrix", Rep. Prog. Phys.<br />

24, 304, 1961.<br />

57


[13] YOKOI. C., Notas de aula do curso de <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong> <strong>Quântica</strong>, USP,<br />

1997.<br />

[14] BASSALO, J. M. F. et all, "Aspectos Contemporâneos da <strong>Mecânica</strong> <strong>Estatística</strong>",<br />

Rev. Bras. Ens. Fis. 21, 528, 1999.<br />

[15] BASSALO, J. M. F. , "Relações Termodinâmicas de Maxwell Via Formas Diferenciais",<br />

Rev. Bras. Ens. Fis. 210, 214, 2000.<br />

[16] LEBOWITZ, J. et all, "Modern Ergodic Theory", Physics. Today,23, 1973.<br />

[17] LANDAU, L. D., "The damping probleman in wave mechanics"., Z. Phys.,45, 1927.<br />

[18] NEUMANN, J. VON, Mathematical Foundations of Quantum Mechanics,<br />

Princeton University Press, 1955.<br />

[19] GIBBS. J., Elementary Principles in Statistical Mechanics. Yale University<br />

Press, New Havem, 1902. [1981 reimpressão publicada por Ox Bow Press, Woodbridge]<br />

58

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!