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36 Lusitano de Zurique<br />
Literatura<br />
Fevereiro 2015<br />
Olá, amigo.<br />
Espero que estejas bem. Por aqui sopram ventos<br />
adversos.<br />
Nas grandes superfícies as pessoas andam<br />
entretidas como crianças a brincar, com umas<br />
maquinetas que usam para irem fazendo as<br />
compras passando aquela treta nos códigos de<br />
barras. “ Self-Scanning . “ Depois não passam<br />
pelas caixas normais. Simplesmente descarregam<br />
aquela coisa numa máquina especial e<br />
assim, na verdade vão poupar tempo.<br />
Talvez por isso, talvez só por ser moda, talvez<br />
Carmindo de<br />
por comodismo, talvez sem sequer pensarem<br />
Carvalho<br />
__ porque pensar dá muito trabalho! …<br />
Agora não enxergam que pelo uso de algumas<br />
daquelas maquinetas, são alguns postos de<br />
trabalho que se vão perder. É poupança nos<br />
ordenados dos empregados das caixas que<br />
vão desaparecer e isso é lucro para os bolsos<br />
gananciosos do grande capital.<br />
Mas, se um dia ficarem no desemprego vão<br />
finalmente entender a montanha de porcaria<br />
que ajudaram a fazer.<br />
Infelizmente e irremediavelmente nessa altura<br />
já vai ser tarde, de nada vão valer os arrependimentos.<br />
Os ventos adversos que por aqui sopram, já<br />
puseram as cabeças pensadoras, que contabilizam<br />
até ao cêntimo, que para compensar o<br />
prejuízo nas vendas, querem que comecemos<br />
a trabalhar duas horas a mais por semana e<br />
perdermos dois dias de férias.<br />
É a ganância desenfreada de pessoas que querem<br />
ganhar sempre e em todas as frentes. Não<br />
lhes basta a condição de: está mal para vender,<br />
mas está bom para comprar. E se perdem<br />
numa forma, ganham noutra.<br />
Resta-me a esperança de que a brisa agradavelmente<br />
fresca que senti hoje pela Tv. se multiplique,<br />
que cresça e se transforme num ciclone<br />
que derrube estes muros que aprisionam a<br />
minha vontade de gritar: Sim podemos!<br />
Esperança que estas duas palavras se transformem<br />
em ventos de mudança e sirvam de<br />
alavanca para empurrar o mundo num rumo<br />
mais justo e solidário, sem esmolas, apenas<br />
com respeito pelos direitos que cada cidadão<br />
tem direito, para viver a sua vida com a dignidade<br />
que merece.<br />
Assim seja.<br />
Amigo, fica bem. Boa noite.<br />
31 de Janeiro de 2015<br />
Ser mãe<br />
Ser mãe, é na essência<br />
Máxima da palavra<br />
A consagração<br />
Da condição<br />
Feminina de ser mulher.<br />
Ser mãe, é o despertar<br />
De um sonho<br />
Tantas vezes sonhado!<br />
Ser mãe, é o concretizar de um desejo<br />
Que ansiosamente transportava no<br />
peito.<br />
Ser mãe, é o florir de uma roseira<br />
Lindas e charmosas rosas!<br />
Ser mãe , não é só o gozar ao fazer<br />
um filho<br />
Que ao pari-lo como cadela danada o<br />
enjeita e atira<br />
Prá sarjeta da vida<br />
Tal como algo putrefacto<br />
Um velho e roto trapo .<br />
Ser mãe, é dar - lhe o seu sangue,<br />
uma vida.<br />
Ser mãe, é estar do seu lado<br />
Vigilante a todo o instante<br />
Para que nada falte ao seu filho<br />
Tão querido, tão amado !<br />
Ser mãe, é isso e muito mais!<br />
É em silêncio sofrer sem ais.<br />
É rir de contente<br />
Do mais pequeno instante<br />
Que faz feliz o seu petiz.<br />
Ser mãe, é defender até à morte<br />
O seu filhote<br />
Como a loba<br />
Ferozmente com valentia<br />
Defende a sua cria.<br />
A todas vós mães e avós<br />
Mães galinhas extremosas<br />
Mulheres de todo o mundo:<br />
Neste dia em todo lado comemorado<br />
Vos peço perdão pela demora<br />
Mas aqui e agora<br />
Vos rendo vassalagem<br />
Me curvo à vossa passagem .<br />
E ao lembrar-me de minha mãe<br />
Velhinha, lá longe sozinha<br />
No seu cantinho<br />
No silêncio do meu quarto<br />
Meus olhos choram lágrimas silenciosas<br />
Que molham e deslizam pelo meu<br />
rosto devagarinho.<br />
São mágoas<br />
Águas derramadas<br />
Que eu seco com o meu lenço de linho.<br />
Se é feio um homem chorar, não me<br />
importo de ser feio.