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Fevereiro 2015<br />
Opinião<br />
Lusitano de Zurique<br />
37<br />
A Grécia, nós e a coragem<br />
Pedro Barroso<br />
Ai Amigos,<br />
Causa-lhes apreensão a<br />
Grécia. Pois.<br />
Desde os altos quadros do BCE,<br />
FMI, aos ministros e chanceleres e<br />
presidentes; e mais os 1ºs Ministros<br />
todos, maiores e menores. Do Parlamento<br />
Europeu, aos comentadores<br />
das televisões “de estado”, tudo<br />
pessoas decentes, bem postas, sabedoras.<br />
Todos foram Charlie há 3 semanas<br />
mas agora, a guerra superior é de<br />
dinheiro, poder, futuro.<br />
Os próprios pivots de noticias nos<br />
telejornais, apreensivos. Nós, também,<br />
espreitando a noticia sobre<br />
a hora. Na nossa nacional Tv, com<br />
o inefável dos Santos - grande piscador<br />
de olho no telejornal e que<br />
veste por vezes a pele de repórter<br />
de colete com muitos bolsos, quando<br />
sai para a guerra, mas sempre<br />
com um bom cheque a cobrir as<br />
viagens.... perorando sobre o que<br />
não conhece.<br />
Todos preocupados. Gosto. A Grécia<br />
a querer fugir da maré de austeridade<br />
a dizer basta; o “nosso mar<br />
é azul e a nossa Historia é antiga. E<br />
estamos fartos da miséria!”<br />
E os senhores da grande Europa -<br />
esses sim... os Donos disto tudo -<br />
todos tão engraçados a olhar o país<br />
das ilhas de sonho. Com cara de<br />
agência funerária como quem diz:<br />
“se o futuro é isto, ou controlo estes<br />
malucos, ou é o descalabro e terei<br />
de fugir, mas para onde?”<br />
E os nossos políticos, para não ficar<br />
atrás, tão engraçados. Todos.<br />
Uns apanhando mal jeitosamente<br />
a boleia. Outros disfarçando a ansiedade.<br />
Caramba, até os nossos<br />
nacionais profissionais comentaristas.<br />
Tudo de luto camuflado, por<br />
uma Europa do capital subitamente<br />
ferida. Pela simples vontade que<br />
um país teve de dizer uma evidencia<br />
que todos pretendiam calar. A<br />
evidência de que “já basta”.<br />
Ah,deixem-me este divertido gozar<br />
com a cara de tanta gente séria.<br />
Perturbada com os seus tachos e<br />
comentários. Aliás, a vida de comentador<br />
já teve dias mais fáceis,<br />
todos sabemos.<br />
E nem sempre - saindo de trás da<br />
secretaria de “comentadura”...- as<br />
suas vidas politicas têm tido desenlaces<br />
felizes, não será assim, professor<br />
“Bom!”?...<br />
Mas fiquem bem.<br />
...<br />
E agora surge o “Podemos”, vindo<br />
do nada, que, aparentemente, também<br />
vai ganhar. Olé.<br />
E nós? chiça, e nós?<br />
Pois por cá, meus senhores, pulverizados<br />
em mil Marinho Pinto’s,<br />
Gritos, Paulo Morais, Dragos, Mil’s,<br />
Partidos Humanistas, direitos de<br />
tendência avulsos, blogs guerreiros<br />
de palavras - como nós...-, Partidos<br />
“livres”, Araujos, BE’s e suas muitas<br />
e divertidas ramificações, Garcia<br />
Pereiras, Louçãs, Movimento “que<br />
se lixe a troika”, Movimentos pela<br />
Cidadania, Forças de Facebook, etc<br />
etc, assim...tudo vai ficar na mesma.<br />
Não haverá coragem de superar o<br />
medo de não ter coragem?<br />
A mim, sobra-me a apreensão por<br />
um Portugal que podia estar também<br />
a dobrar uma esquina maior.<br />
E que vai ser uma vez mais, na sua<br />
pequenez e aselhice desconfiada,<br />
uma espécie de espectador da mudança<br />
alheia. Na forma esdrúxula e<br />
esquiva como olha a coragem dos<br />
outros.<br />
Na ausência de um líder com capacidade,<br />
posição, verve e inteligência<br />
que, no espaço e a tempo, arrisque<br />
a hombridade e o arrojo, acima das<br />
questiúnculas. Alguém que supere<br />
as divergências com as convergências.<br />
Alguém que reúna à mesa todos os<br />
desiludidos que tanto gritam por<br />
novos protagonistas. Todos os que<br />
já agoniaram estes e já não podem<br />
ver mais do mesmo.<br />
Precisa-se desse Alguém que motive<br />
um povo e o faça ressentir e repartir<br />
para uma jornada de assomo<br />
e coragem ante esta velha Europa<br />
encanecida e vagamente decrépita.<br />
Alguém, senhores, alguém.<br />
Alguém. Dão-se alvíssaras em<br />
nome da Liberdade.