11.07.2015 Views

Modelos coloniais - O Governo dos Outros

Modelos coloniais - O Governo dos Outros

Modelos coloniais - O Governo dos Outros

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não era então rigorosa a afirmação, tantas vezes repetida, a partir <strong>dos</strong> finais <strong>dos</strong>éculo XIX, na literatura colonial, de que Portugal seguia a França na concessão dedireitos políticos a to<strong>dos</strong> os habitantes nativos das colónias, porque tal não sucedeu emqualquer uma das políticas <strong>coloniais</strong>. Como se viu nas palavras iniciais desse texto,alguns autores afastaram-se desta afirmação, nomeadamente Marnoco e Souza, querecorreu mesmo ao exemplo argelino para mostrar que se podia “[…] seguir numacolónia a política de assimilação sem assimilar os indígenas. Assim a França tem feitoassimilação política, de um modo excessivo, na Argélia, mas não tem procuradoassimilar os indígenas. Têm sido conservadas, efectivamente, nesta colónia, as leis e asinstituições indígenas, ao mesmo tempo que os Árabes têm continuado a gozar dodireito muçulmano” 65 . O professor da universidade de Coimbra chegou mesmo aidentificar a fonte desse equívoco nos ensinamentos de Henri Hubertus van Kol (1852-1925): “Van Kolm nota que por onde as raças anglo-saxónicas e germânicas têmcolonizado se tem mantido a administração indígena. As raças latinas, pelo contrário,impulsionadas por um grande sentimento de fraternidade, procuraram assimilar oshabitantes de países longínquos aos da metrópole. Ora isto não é exacto, porquanto asraças latinas têm seguido a política da assimilação, mas nunca chegaram até àassimilação <strong>dos</strong> indígenas” 66 ).Não era também rigorosa, portanto, a ideia de que os indivíduos nativos teriamsido sujeitos, no regime colonial português e francês, sujeitos ao direito metropolitano.Pelo contrário, a menoridade do seu estatuto foi, em ambas as políticas <strong>coloniais</strong>,associada à tolerância para com os seus “usos e costumes”, designação que remetedesde logo para a inferiorização da ordem normativa tolerada. É certo, no entanto, quehavia uma intenção, subjacente aos discursos sobre o estatuto das populações nativasdas colónias, de conseguir uma “assimilação progressiva”, discurso no qual estavasubentendido – e, às vezes, explicitado - que as populações nativas acederiam àcidadania no momento em que se sujeitassem, voluntariamente, à justiça e aos Códigoseuropeus, sendo essa uma consequência natural da obra colonizadora. O próprio acto defazer códigos de “usos e costumes” era descrito, pela administração portuguesa, como65 V. Marnoco e Souza, “Regime Jurídico das populações [ …]”, cit., p. 101.66 V. Marnoco e Souza, “Regime Jurídico das Populações indígenas”, in Antologia Colonial Portuguesa,Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1946, vol. I: “Política e Administração”, p. 101. Mas o facto é queele mesmo acabou por afirmar, a certa altura, que os portugueses tinham praticado ambas as formas deassimilacionismo, “…leva<strong>dos</strong> pelo “[…] desejo de alargar as prerrogativas liberais, [pela] ignorância <strong>dos</strong>costumes e das instituições <strong>dos</strong> indígenas, [e pela] grande facilidade de obter leis para o Ultramar[…]”, V.Administração Colonial[…], cit., p. 201.26

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!