Modelos coloniais - O Governo dos Outros
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As classificações atrás descritas e as imagens que lhes estavam associadas eramsimplificadoras em vários senti<strong>dos</strong> e por vários motivos. Em primeiro lugar porque,como se referiu no início deste texto, é difícil falar de modelos de colonização, nãoobstante ser possível falar de “tendências” que caracterizaram, com maior ou menorevidência, as políticas <strong>coloniais</strong> seguidas por cada país. Por outro lado, as classificações<strong>dos</strong> regimes <strong>coloniais</strong> prosseguiam, muitas vezes, para além <strong>dos</strong> objectivos científicosinerentes à construção destas tipologias, o objectivo de enaltecer as capacidadescolonizadoras/civilizadoras das Nações, num discurso onde cada uma se apresentavacomo seguidora do modelo mais justo ou mais eficaz. Esse efeito estava desde logopresente no facto de surgir sempre, ao lado <strong>dos</strong> regimes legítimos da assimilação e daautonomia, um outro, menos aceitável nos “tempos modernos”, que era o da sujeição.Este último, que to<strong>dos</strong> remetiam para o passado colonial da Europa e admitiam serainda praticado, numa versão moderada, pela Holanda, era menos legítimo, porqueenvolvia a exploração das colónias em favor exclusivo da metrópole, nãocontemplando, ao contrário <strong>dos</strong> dois primeiros, um <strong>dos</strong> objectivos mais nobres dacolonização, a civilização <strong>dos</strong> povos “atrasa<strong>dos</strong>” 9 . Apreciada à luz do regime desujeição, a administração colonial francesa podia ser descrita como o regime ideal,porque “corresponde melhor ao fim superior da colonização, de expandir a civilizaçãoda mãe pátria em regiões bárbaras e selvagens” 10 .Outras vezes, as mesmas classificações foram usadas para favorecer discursos deautocrítica, que fundamentassem alterações nas políticas <strong>coloniais</strong> seguidas, por meio dadenúncia das fragilidades <strong>dos</strong> “modelos”, ainda que legítimos, segui<strong>dos</strong> até então. Apartir <strong>dos</strong> finais do século XIX, por exemplo, o regime de assimilação foisistematicamente criticado, nas literaturas <strong>coloniais</strong> francesa e portuguesa (sobretudoem relatórios de governadores, de militares e de ministros, mas também na literaturaacadémica), em todas as suas dimensões teóricas: por ser um modelo uniformizador,9 Para haver colonização, torna-se necessário[…] que os emigrantes exerçam uma acçãocivilizadora sobre as coisas e as pessoas, utilizando os recursos do solo em que se estabelecem,explorando as suas riquezas, abrindo vias de comunicação, educando os indígenas e promovendo odesenvolvimento económicos e social” (v. Marnoco e Souza, Administração colonial…, cit.p. 43). Pelocontrário, “a política de sujeição inspira-se simplesmente no interesse egoísta da metrópole. Nestaconcepção, o Estado que coloniza trabalha unicamente para si próprio. O fim da obra colonial é aumentara riqueza da nação e a influência política do seu governo. Os interesses, as aspirações, as necessidades dascolónias são completamente postos de lado”, v. Marnoco e Souza, Administração colonial…, cit., p. 100.A utilização destas observações de Marnoco e Souza com o objectivo de desvalorizar a governo colonial<strong>dos</strong> países que praticavam regimes de sujeição foi sendo crescente na literatura colonial do século XX.10 V. Marnoco e Souza, Administração colonial…, cit., p. 123.6