18 | 16 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009 | SOCIEDADE | OPINIÃO | JORNAL DE LEIRIA |Alguns dias <strong>de</strong> pausa… e na<strong>da</strong> aconteceuentretanto em Portugal; apenas e só ouvinum segundo <strong>de</strong> emissão: o resultado doPorto e o vencedor do Rally <strong>de</strong> Portugal.Na<strong>da</strong> aconteceu que merecesse a atençãodos media a nível internacional. Nem gran<strong>de</strong>s<strong>de</strong>sastres, nem acontecimentos fantásticos que nosatirassem para as primeiras páginas dos telejornais. Tudona mesma. À chega<strong>da</strong>, um cartaz novo com Manuela adizer que é do PSD, mesmo <strong>ao</strong> lado <strong>de</strong> outro a lembrarnosa todos que somos europeus. Será que aconteceualguma coisa e nós somos, mas os outros já <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong>ser? Dinheiro gasto para quê?Numa outra ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, europeia, não vi um único cartaz<strong>de</strong> nenhum candi<strong>da</strong>to: in<strong>da</strong>guei, porquê? “Estamos emcrise, há que poupar dinheiro e temos <strong>de</strong> procurar outrasformas <strong>de</strong> nos aproximarmos dos ci<strong>da</strong>dãos! Mas nós europeussomos diferentes! Eles também são, mas dispensamcartazes inúteis. Não vi nenhum.”Acumulamos ain<strong>da</strong> outros hábitos caros. Nas nossasci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, não dispensamos o carro, se possível até <strong>ao</strong> balcãodo supermercado; eles an<strong>da</strong>m <strong>de</strong> bicicleta. Aos milhares.Nós ain<strong>da</strong> an<strong>da</strong>mos a discutir os acessos para os ci<strong>da</strong>dãosportadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, eles discutem formas <strong>de</strong>transportar a bicicleta nos eléctricos, autocarros e comboios.Eu Portuguesa, <strong>de</strong>sculpei-me: “mas aqui é tudoplano; é mais fácil” E continuei com a consciência pesa<strong>da</strong>.Convenci<strong>da</strong> <strong>de</strong> que tenho <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> hábitos. Oambiente transforma-se totalmente: menos ruído, menospoluição. E tudo aju<strong>da</strong>. Estacionar no centro… um pesa<strong>de</strong>lo.Escolher alternativas… uma facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong>| O p i n i ã o |Uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> diferenteQue ci<strong>da</strong><strong>de</strong>scriámos? Queci<strong>da</strong>dãos formámos?O que nos separa dosoutros europeus?A geografia?A história?A educação?A política? O queaconteceu para esseseuropeus seremdiferentes <strong>de</strong>steseuropeus?ANA NARCISOProfessora do ensino básicoestá prepara<strong>da</strong> parar os peões e ciclistas: sinalética a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>,transportes públicos à escolha <strong>de</strong> 10 em 10 minutos(mesmo!). Uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> efervescente <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, apinha<strong>da</strong><strong>de</strong> gente que passeia <strong>ao</strong> ar livre, enche as esplana<strong>da</strong>s, usufruios recantos <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> feita para gozo <strong>de</strong> quemali está.Nós por cá <strong>de</strong>ixámos a capital vazia, ruas <strong>de</strong>sertas ecreio que alguns centros comerciais cheios! Que ci<strong>da</strong><strong>de</strong>scriámos? Que ci<strong>da</strong>dãos formámos? O que nos separa dosoutros europeus? A geografia? A história? A educação? Apolítica? O que aconteceu para esses europeus serem diferentes<strong>de</strong>stes europeus? A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Munique está habita<strong>da</strong>no centro e na periferia; há vi<strong>da</strong>, há restaurantes,lojas, mercados tradicionais, cerveja (claro!). Uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>com gente, on<strong>de</strong> há espaço para todos: novos e velhos,resi<strong>de</strong>ntes e turistas.Há eleições outra vez: o que nos po<strong>de</strong>m dizer os candi<strong>da</strong>tospara trazer outra vez as pessoas para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s?Quais as medi<strong>da</strong>s que anunciam para repovoar os centros,reduzir os níveis <strong>de</strong> poluição atmosférica e <strong>de</strong>senvolverum sistema <strong>de</strong> transportes a<strong>de</strong>quados às profissões e horáriosdos tempos mo<strong>de</strong>rnos?Porto <strong>de</strong> Mós é um bom exemplo do que está por fazerem termos <strong>de</strong> transportes públicos que sirvam todo o concelho,em especial os locais i<strong>de</strong>ntificados com um potencialturístico fabuloso como: o Centro <strong>de</strong> Interpretação <strong>da</strong>Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota em S. Jorge; a Pousa<strong>da</strong> <strong>de</strong> Alvados,a Estra<strong>da</strong> Romana no Alqueidão <strong>da</strong> Serra, as grutase 0 Castelo. Como unir o que está dividido e <strong>de</strong>sarticuladocom horários <strong>de</strong> transportes do século passado?Nós, ci<strong>da</strong>dãos precisamos <strong>de</strong> saber. ■| L e i r i a E s t e |Mu<strong>da</strong>nçaApartir <strong>da</strong> presente edição mudámos <strong>de</strong> posição. AClara Martins <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ilustrar os temas que eulhe fui propondo <strong>ao</strong> longo dos últimos meses, eupassarei a tentar escrever a partir <strong>da</strong>s suas criações.Mudámos por mu<strong>da</strong>r. Certamente por <strong>de</strong>safio,pouco reflectido por mim, porque imagino muitomais difícil. Talvez motivados por esta procura constante <strong>de</strong>fazer, construir, inovar. Talvez, sabe-se lá, se por esta Primaveraque rebenta numa imparável explosão <strong>de</strong> cores e aromas, numarelação profun<strong>da</strong> com a Mulher/Natureza que emana <strong>da</strong> obra <strong>da</strong>Clara. Porque acredito na sua compreensão, ouso atentar sobrea quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> muito escondi<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua obra, que um dia, um<strong>de</strong>stes dias, conhecerá na plenitu<strong>de</strong>, o mais que justificado reconhecimentopúblico. Talvez por ontem ter ouvido, também inespera<strong>da</strong>mente,Clara, uma <strong>da</strong>s muitas obras-primas do meu eternamentepreferido Jacques Brel. Por tudo isto e sabe-se lá maisporquê, lanço um olhar atento sobre este Irishead, <strong>de</strong> 2006, pastela óleo, tinta-<strong>da</strong>-china e tinta acrílica. Sou tentado a traduziro título e a começar por aí. Pior, sou tentado a telefonar àClara e a “roubar-lhe” o que na altura lhe ia na alma. Mas não,isso seria <strong>de</strong>masiado fácil, evitando o risco imenso <strong>de</strong> todos osdisparates que se seguirão. Se acredito que a Clara me compreen<strong>de</strong>rá,temo que os leitores que porventura se arrisquem atentar ler, não o façam e que mesmo os responsáveis re<strong>da</strong>ctoriaisdo jornal, me expurguem <strong>da</strong>s suas páginas, motivados poreste raiar <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> e do sequente <strong>de</strong>sinteresse. Peço <strong>de</strong>sculpa,como tem incessantemente repetido um importante responsávelautárquico <strong>da</strong> nossa região. Peço <strong>de</strong>sculpa, aqui nãotanto pelo que fiz, mas sobretudo pelo que me arrisco a fazer.Irishead relembra-me as Mulheres/Natureza que preenchema obra <strong>da</strong> Clara Martins, numa relação <strong>de</strong> força que emana dointerior <strong>da</strong> própria terra, <strong>de</strong>senvolvendo-se numa estranha misturaentre o humano e to<strong>da</strong> a sua vivência <strong>de</strong> luxúria e aparência,e as flores e plantas que lhe <strong>de</strong>sconfiguram o rosto e a puxampara a mais simples e inicial <strong>da</strong>s essências. Relembrando que “dopó vieste e <strong>ao</strong> pó voltarás”, a Mulher tenta agarrar e a ela seUm <strong>de</strong>les <strong>de</strong>siste emorre. Outrosparecem tentarlibertar-se <strong>da</strong> forçaavassaladora <strong>da</strong>smãos <strong>da</strong> Mulher,dominadora crucial<strong>da</strong> existência e porisso <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong>todos os po<strong>de</strong>resFRANCISCO VIEIRAfv.leiria@gmail.comagarram aqueles que em <strong>de</strong>sespero lutam por sobreviver. Um <strong>de</strong>les<strong>de</strong>siste e morre. Outros parecem tentar libertar-se <strong>da</strong> força avassaladora<strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> Mulher, dominadora crucial <strong>da</strong> existênciae por isso <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> todos os po<strong>de</strong>res. Da Vi<strong>da</strong> e aqui pareceque também <strong>da</strong> Morte. ■
| JORNAL DE LEIRIA | OPINIÃO |16 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009 | 19ARepública não bateusó no fundo. Está<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>le, tapa<strong>da</strong>por um mantoin<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> lamaque nos <strong>de</strong>veriacobrir a todos nós <strong>de</strong> vergonha. Anós, porque somos um povo apáticoque refila por causa do futebol,dos penáltis e <strong>de</strong> coisas menores masse cala perante sucessivos atropelos<strong>ao</strong>s seus direitos e garantias. Mas,esta lama que cobre a República,<strong>de</strong>veria sobretudo envergonhar umaclasse política que in<strong>de</strong>corosamentenos <strong>de</strong>sgoverna e que utiliza a suajustiça, o seu direito, os seus trâmites,os seus prazos, os seus segredos,o seu segredo <strong>de</strong> justiça para quetudo pareça que avança sem nuncaavançar, que faz que investigapara <strong>de</strong>pois cobrir as suas <strong>de</strong>scobertascom o lodo dos po<strong>de</strong>rosos.No Parlamento, os <strong>de</strong>putados sãotratados como criados pelos ministros:veja-se as respostas, na<strong>da</strong> esclarecedorase ofensivas, <strong>da</strong> equipa doMinistério <strong>da</strong> Educação <strong>ao</strong>s <strong>de</strong>putados.O Parlamento, salvo honrosasexcepções, respon<strong>de</strong> perante oGoverno, invertendo a lógica do sistema<strong>de</strong>mocrático on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veríamosviver. Num país <strong>de</strong>cente e higiénicoa Ministra <strong>da</strong> Educação e seussecretários já teriam sido, há muito,<strong>de</strong>spedidos. Porque são, como ca<strong>da</strong>| O p i n i ã o |A República <strong>da</strong>s bananas podresvez salta mais à vista, maus no relacionamentohumano, péssimos politicamentee obtusos tecnicamente.O país vive ultimamente suspensoe em clima <strong>de</strong> suspeição, estando osque <strong>de</strong>vem investigar, dizem, sobpressão. O que qualquer dirigentepolítico sob suspeita, mediática eoutras, <strong>de</strong>veria exigir a bem <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocraciae do direito <strong>ao</strong> bom nome,seria uma investigação rápi<strong>da</strong> e esclarecedora,que chegasse <strong>ao</strong> fundo <strong>da</strong>squestões e que castigasse quem <strong>de</strong>vessecastigar e ilibasse os inocentes,limpando a sua honra. Mas a queassiste o ci<strong>da</strong>dão comum, ca<strong>da</strong> diamais confundido por sinais contraditóriosvindos dos órgãos <strong>de</strong> soberania?A um discurso do vamos-criar-mais-uma-comissão-<strong>de</strong>--inquérito-para-que-na<strong>da</strong>-se-faça,a uma postura institucional que parecequerer dizer que tudo está bem,quando tudo não está bem, a intimi<strong>da</strong>çõesjudiciais para que a poeiraassente e se transforme em lama.Portugal não po<strong>de</strong> ser uma Repúblicados dirigentes partidários, nem<strong>da</strong> classe política, mas sim dos ci<strong>da</strong>dãos.E os ci<strong>da</strong>dãos têm o direito asaber a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>.Vemos, ouvimos e lemos, nãopo<strong>de</strong>mos ignorar, assim escreveuSophia <strong>de</strong> Mello Breyner Andresen.Dirigentes autárquicos confessam,como se fosse a coisa mais naturalO homem que teveas posturas e políticasmais neo-liberaisdos últimos anos,passando <strong>da</strong>s pessoas<strong>de</strong> Guterres para osnúmeros <strong>de</strong> Sócrates,tem apenas odiscurso do políticoque nunca fez maisna<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong>, a nãoser fazer promessas ediscursos que sabemossoarem a ocoFERNANDOJOSÉ RODRIGUESProfessor, escritordo mundo, que têm dinheiro em contasna Suíça ou que não apresentaram,correctamente, to<strong>da</strong>s as suas<strong>de</strong>clarações fiscais, pois assim se costumafazer. Vemos, ouvimos e lemose ficamos atónitos com a <strong>de</strong>sfaçatezcom que falam, com o tempo <strong>de</strong> antenaque lhes é <strong>da</strong>do, com a falta <strong>de</strong>ética e <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia queexibem, com os mo<strong>de</strong>los que passampara o resto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, comas marcas <strong>de</strong> corrupção que, orgulhosamente,ostentam. E pensa e dizo português comum, Hão-<strong>de</strong> ficartodos ilibados e ain<strong>da</strong> se riem!Ao mesmo tempo que isto se passa,o Fisco envia milhares <strong>de</strong> cartaspara outros tantos ci<strong>da</strong>dãos, na maioriareformados, exigindo mais pagamentos;<strong>ao</strong> mesmo tempo que exige<strong>de</strong> todos o cumprimento <strong>da</strong>s suas obrigações,como <strong>de</strong>ve ser, o Fisco poupaà banca 4 milhões <strong>de</strong> euros emimpostos… Vemos, ouvimos e lemose não conseguimos acreditar. No entantoé a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a triste ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> umPortugal europeu, membro <strong>de</strong> umapo<strong>de</strong>rosa União, on<strong>de</strong> a justiça e aigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>veriam serpedra <strong>de</strong> toque, um Portugal governadoem favor <strong>da</strong>s oligarquias e nãodos ci<strong>da</strong>dãos. Neste Portugal, dito<strong>de</strong>mocrático, todos nascíamos, presumia,iguais, mas crescemos em perfeitae maldosa <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>, numasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> pseudo-<strong>de</strong>mocrática, on<strong>de</strong>os direitos a saber como se é governado,a uma justiça célere, o direito aque os nossos governantes nos prestemcontas, nos são, na prática, todossonegados.Quando ouvimos José Sócratesbracejar, agora, contra o neo-liberalismojá nem confusos ficamos. Porqueo homem que teve as posturase políticas mais neo-liberais dos últimosanos, passando <strong>da</strong>s pessoas <strong>de</strong>Guterres para os números <strong>de</strong> Sócrates,tem apenas o discurso do políticoque nunca fez mais na<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong>,a não ser fazer promessas e discursosque sabemos soarem a oco. E,ain<strong>da</strong> a procissão vai no adro, já ossecretários <strong>de</strong> estado começaram ainaugurar lavadouros…Trinta e cinco anos após o 25 <strong>de</strong>Abril os ci<strong>da</strong>dãos têm que voltar aexigir participação activa nas escolhase nas políticas. Uma maioriaabsoluta não significa, em <strong>de</strong>mocracia,o po<strong>de</strong>r absoluto. Ser político<strong>de</strong>ve ser sinónimo <strong>de</strong> serviço àcomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> entendimento<strong>de</strong> que o seu trabalho sótem sentido com os ci<strong>da</strong>dãos.Portugal bateu no fundo. Por cim<strong>ao</strong> manto <strong>da</strong> lama. Com estes políticosa taparem a luz do sol.Portugal é uma república. De bananas.Podres.No entanto nos ci<strong>da</strong>dãos resi<strong>de</strong> aesperança. ■Uma breve análisesobre os partidospolíticos, <strong>de</strong>monstraterem poucavisão <strong>de</strong> futuro. Osinteresses que afiguramsão difusos, representam--se a si mesmos e entre eles nãodiferem em substância as formas“clientelares” <strong>da</strong> relação com osci<strong>da</strong>dãos. É aquilo que se <strong>de</strong>signapor “crise <strong>de</strong> representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Ca<strong>da</strong> dia os partidos representammenos a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Que fazer, cruzamosos braços? Preocupamo--nos com saí<strong>da</strong>s individuais? Lançamo-nosnuma corri<strong>da</strong> aliena<strong>da</strong>contra a participação política, <strong>de</strong>sprestigiando-a?Talvez o segredoesteja no tipo <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia existenteou na que se possa promover.Ela é por vezes, uma face oculta<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que po<strong>de</strong> estar pinta<strong>da</strong><strong>de</strong> esperança ou ser a expressãodura do veneno que injecta<strong>de</strong>salento à esquer<strong>da</strong> e à direita. Aci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia é a principal fonte <strong>de</strong>mu<strong>da</strong>nça social que é necessárioser-se capaz <strong>de</strong> associar, juntar ouagregar. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nçanuma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> formacomo os ci<strong>da</strong>dãos se relacionamcom a política e o nível <strong>de</strong>participação que são capazes <strong>de</strong>sustentar. A existência <strong>de</strong> maioresou menores probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para<strong>de</strong>senvolver organizações partidárias<strong>de</strong> maior compromisso com a<strong>de</strong>mocracia e o bem-estar colectivo,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaque ca<strong>da</strong> um exerce. Vejamos quatrotipos.1º - “O imóvel apático”: não lheinteressa nenhuma espécie <strong>de</strong> participação,lembra-se <strong>da</strong> política paraa maldizer e culpa-a dos malessociais e erros dos governos. Istojustifica a sua abstenção e a cómo<strong>da</strong>indiferença social. Os erros <strong>da</strong>sinstituições são pretexto para legitimara preguiça, porque a inacçãocívica é uma cómo<strong>da</strong> posição política.2º - “O <strong>de</strong>siludido militante”:maneja as mo<strong>de</strong>rnas tecnologias etem razoável formação académica,mas <strong>de</strong>ste conforto esparge vírus <strong>de</strong><strong>de</strong>salento e fracasso. Um ou outroparticipa em organizações sociais,mas diz abominar a política e asvirtu<strong>de</strong>s na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> existem, segundoele, nas organizações que controlae nas quais milita. Quem nãoestá sujeito <strong>ao</strong> seu comando ou nãose submeta <strong>ao</strong>s seus <strong>de</strong>sígnios é satanizado.Adopta uma visão autoritária<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na mesma proporçãoque tem incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> paraparticipar ou agregar-se em grupos.| O p i n i ã o |Rostos na penumbraO importante (creio)seria promover ummo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> “ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaactiva nãoclientelar”, por ser aque representa melhora seiva criadora<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e po<strong>de</strong>estimular mu<strong>da</strong>nçase possibilitar a re<strong>de</strong>finiçãodo pactosocial que nos dávi<strong>da</strong>ANTÓNIO DELGADOProfessor universitárioa<strong>de</strong>lgado@ubi.ptCrê que as suas i<strong>de</strong>ias são a panaceiaque salva o mundo. Há outrosque não participam em na<strong>da</strong>, vivem<strong>da</strong> intriga e <strong>da</strong> mentira contra quem<strong>de</strong>seja actuar. São profissionais <strong>da</strong><strong>de</strong>smoralização e especialistas emescamotear qualquer iniciativa ousabotá-la. Para eles, todo obstáculoé a evidência objectiva <strong>de</strong> que qualqueresforço carece <strong>de</strong> sentido. Sãosumamente irresponsáveis, não lhesimporta as consequências <strong>da</strong>s suaspalavras <strong>ao</strong> julgar as acções <strong>de</strong> outros.Recreiam-se na negativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e jactam-sequando logram frustrar alguém.Regozijam com o fracasso <strong>da</strong>s iniciativasdos outros porque justificaa sua passivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Junto <strong>ao</strong> “ imóvelapático” contribuem para mantero clientelismo político e a corrupção.3º - “A ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia activista”: movese<strong>de</strong> forma clientelar e pelo benefícioindividual imediato. Represent<strong>ao</strong> lema “venha a nós o vosso reino”.Estimula a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e a exclusão,e não consi<strong>de</strong>ra a política umaactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nobre ou que <strong>de</strong>va serexerci<strong>da</strong> por gente <strong>de</strong> bem. Os postospúblicos são património exclusivodos eleitos. Possuem o cartãodo partido <strong>de</strong> maiores possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>seleitorais: cobiçar empregos enomeações políticas é o objectivo.A política é fonte primogénita <strong>de</strong>privilégios e a melhor via para obterpo<strong>de</strong>r e compensações exclusivamentepriva<strong>da</strong>s.4º - “A ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia activa não clientelar”:Tenta estabelecer regras claras,precisas e iguais para todos. Uneas pessoas <strong>de</strong> igual sentimento e(grupos) que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os mesmosinteresses. Sabem que as regras dojogo quando são claras e aceites pelamaioria e usa<strong>da</strong>s como o principalcritério para o tratamento equitativosão mais sustentáveis no tempoe serão <strong>de</strong> maior beneficio para si esua <strong>de</strong>scendência. É uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaactuante, crítica, às vezes áci<strong>da</strong>, incómo<strong>da</strong>,insuportável. Reconhece asocie<strong>da</strong><strong>de</strong> como um processo <strong>de</strong>construção colectivo e vê nos privilégiosindividuais uma selva perigosa.Nenhum <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaexiste em estado puro, porvezes, encontramos misturas estranhase combinações inexplicáveis.O importante (creio) seria promoverum mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> “ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia activanão clientelar”, por ser a querepresenta melhor a seiva criadora<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e po<strong>de</strong> estimular mu<strong>da</strong>nçase possibilitar a re<strong>de</strong>finição dopacto social que nos dá vi<strong>da</strong>. É otipo <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que se necessita<strong>de</strong> forma maioritária e é a que <strong>de</strong>veriaganhar a a<strong>de</strong>rência <strong>da</strong>s nossasmentes almas e corações. ■