26 | 16 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009| ECONOMIA | AUTOMÓVEL | JORNAL DE LEIRIA |Com Super Especial em São Pedro <strong>de</strong> MoelRally Vidreiro aceleraeste fim-<strong>de</strong>-semanaA edição <strong>de</strong>ste ano do RallyeVidreiro, que se realiza amanhã esábado, apresenta várias novi<strong>da</strong><strong>de</strong>sem relação à prova do ano passado.Artur Martins Fonseca, presi<strong>de</strong>ntedo Automóvel Clube <strong>da</strong>Marinha Gran<strong>de</strong>, enti<strong>da</strong><strong>de</strong> que organizaa prova, <strong>de</strong>staca a super especial,em São Pedro <strong>de</strong> Moel, primeiraetapa a contar para aclassificação geral.“É o nosso trunfo este ano, alémdisso São Pedro <strong>de</strong> Moel é um sítiolindíssimo”. Artur Martins Fonseca<strong>de</strong>staca ain<strong>da</strong> o papel <strong>da</strong> organizaçãoneste rallye, consi<strong>de</strong>randooum dos melhores em Portugal.“Esta prova vai envolver cerca <strong>de</strong>40 viaturas <strong>da</strong> organização. Vãocolaborar também mais <strong>de</strong> 300 pessoas”.No entanto, e apesar <strong>de</strong> havermais inscrições em relação a 2008,a crise afectou o rallye, sobretudo<strong>ao</strong> nível <strong>da</strong> angariação <strong>de</strong> patrocínios.“Des<strong>de</strong> há um ano, a organizaçãotem tentado reestruturar oscustos, tentando cortar em coisasinúteis. O maior gasto é no policiamentopois, no resto, não há problemasem financiar a prova”.Artur Martins Fonseca <strong>de</strong>stacaain<strong>da</strong> que o Rallye Vidreiro é tambémrampa <strong>de</strong> lançamento paramuitos pilotos, entre os quais oactual campeão nacional ArmindoAraújo, que já <strong>de</strong>monstrou o seuvalor nesta prova. “O objectivo passatambém por arranjar novos ejovens pilotos para este troféu.”O Rallye Vidreiro 2009 contacom cinco provas e inclui o CampeonatoOpen <strong>de</strong> Ralis. “Tentamossempre <strong>da</strong>r o máximo, para que,no final, todos se sintam <strong>de</strong>scansados,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a organização <strong>ao</strong>s pilotos,e que tenham a certeza que fizemoso nosso melhor”, afirma opresi<strong>de</strong>nte do Automóvel Clube <strong>da</strong>Marinha Gran<strong>de</strong>.Este ano, a Fiat - A. Braz Helenomarca presença no Rallye Vidreiro,como patrocinadora oficial. Além<strong>de</strong> outros apoios <strong>de</strong>staca-se a cedência<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 25 viaturas paraÚnica equipa <strong>de</strong><strong>Leiria</strong> em provaA RF Competição é a únicaequipa leiriense a participarnesta edição do Rallye Vidreiro.Salvador Gonzaga e JoãoSoares serão, respectivamente,piloto e co-piloto do Peugeot206 ex-Troféu, que irá acelerarno asfalto <strong>da</strong>s várias etapasprevistas na prova. “Não éum carro muito exigente e éfácil <strong>de</strong> conduzir”, analisaSalvador Gonzaga, que consi<strong>de</strong>raeste rallye uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>para ganhar ritmo. É aprimeira vez que esta tripulaçãocorre junta em provas oficiais,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter participadoem alguns treinos com umToyota Yaris. “Há ambição”,resume o co-piloto João Soares.Salvador Gonzaga manteve-sefora <strong>da</strong> competiçãodurante dois anos, tempo emque esteve internado no IPOdo Porto <strong>de</strong>vido a leucemia, equer retribuir todo o apoioprestado para o aju<strong>da</strong>r a curara doença. “Vou colocar umagra<strong>de</strong>cimento <strong>ao</strong> IPO junto àminha porta durante a prova”,afirma. ■para a organização e elementos <strong>da</strong>FPAK (Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa <strong>de</strong>Automobilismo e Karting). Amanhã,primeiro dia <strong>da</strong> prova, seráapresentado o gran<strong>de</strong> Punto Abarthe o 500 Abarth.■Damien PiresDados <strong>da</strong> FleetData apontam para “que<strong>da</strong> a pique”Importação <strong>de</strong> automóveissem futuro“A importação <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong>ixou<strong>de</strong> compensar”. Quem o dizé Roberto Gaspar, director-geral<strong>da</strong> FleetData Portugal, empresaresponsável pelo fornecimento<strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para a indústria automóvel,citado pela Agência Lusa.Apesar <strong>da</strong> fiscali<strong>da</strong><strong>de</strong> do País seruma <strong>da</strong>s mais altas na Europa, eos importados serem uma alternativaa acessível para a bolsados portugueses, registou-se umaquebra <strong>de</strong> 30% nas importações<strong>de</strong> usados no primeiro trimestre.Uma <strong>da</strong>s principais razões paraa quebra regista<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve-se, explic<strong>ao</strong> responsável <strong>da</strong> FleetData, <strong>ao</strong>facto <strong>da</strong> fiscali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre estastransacções ter aumentado, comoaliás, o Governo já havia anunciado,no final do ano passado.Segundo um relatório <strong>de</strong>staempresa, os portugueses compramquase três carros usados por ca<strong>da</strong>automóvel novo. “A proporção, noúltimo ano, foi <strong>de</strong> 2.6 usados porca<strong>da</strong> novo”, explica Roberto Gaspar.Mas o excesso <strong>de</strong> oferta levoua uma “que<strong>da</strong> a pique” <strong>de</strong> ven<strong>da</strong>se preços. Esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> levaRoberto Gaspar a antecipar queos níveis do mercado <strong>de</strong> automóveisusados para 2009 estarãomuito próximos dos valoresatingidos em 2008. ■Mira <strong>de</strong> AireConcentração<strong>de</strong> vespasOs Gan<strong>da</strong>'s Vespas <strong>de</strong> Mira<strong>de</strong> Aire promovem, domingo,o II Vespeiro <strong>de</strong> Mira <strong>de</strong> Aire,concentração <strong>de</strong> Vespas que<strong>de</strong>correrá no largo <strong>da</strong> igreja,a partir <strong>da</strong>s 9 horas. A iniciativaconsiste num passeiopelo Parque Natural <strong>da</strong>s Serras<strong>de</strong> Aire e Can<strong>de</strong>eiros e umavisita às grutas <strong>de</strong> Mira <strong>de</strong>Aire. Será permitido, paraquem preten<strong>de</strong> vir um diaantes, pernoitar no quarteldos bombeiros voluntários. Ovalor <strong>da</strong> inscrição, limita<strong>da</strong> a200 pessoas, é <strong>de</strong> 15 euros. ■DR
CURTAS . BEST OF . ADVOGADO DO DIABO . ENTREVISTA . OBRIGATÓRIO . AGENDADRTRADUCTOR TRADITOR“- Para quantos idiomas foi traduzido o livro?- Para <strong>de</strong>zassete.- Dizem que a tradução para o inglês foi excelente.- Excelente, sim. A linguagem, <strong>ao</strong> comprimir-se em inglês, ganha força.- E as outras traduções?- Trabalhei muito com o tradutor italiano e com o tradutor francês. As duas traduções são boas; não obstante, não sinto o livro em francês.”Conversa entre García Márquez e Plinio Apuleyo Mendoza, incluí<strong>da</strong> no livro Cheiro <strong>de</strong> Goiaba. A referência é <strong>ao</strong> título Cem Anos <strong>de</strong> Solidão.Durante a apresentação recente<strong>de</strong> Arquipélago <strong>da</strong> Insónia, AntónioLobo Antunes afirmou que nuncatinha conseguido um bom tradutorpara Francês e que, sempre sentiuque, naquele idioma, as suas palavraseram altera<strong>da</strong>s, per<strong>de</strong>ndo-se osentido.Triste com a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em transmitiro seu pensamento para a língua<strong>de</strong> Moliére e Descartes, emendoua mão sublinhando que, pelocontrário, já tinha assistido a casosem que escritos medianos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>traduzidos para outras línguas, sehaviam tornado em obras-primas <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> valor literário, referências <strong>da</strong>literatura mundial.A excepção <strong>de</strong>scrita por LoboAntunes po<strong>de</strong>ria ser suficiente paracontrariar a velha máxima que dizque um tradutor é um traidor. Oepíteto latino - Traductor Traditor– serve para mostrar o terror quea tradução provoca <strong>ao</strong>s leitores quepreferem edições bilingues e gostam<strong>de</strong> comparar versões traduzi<strong>da</strong>s,e <strong>ao</strong>s próprios autores. Sãoconhecidos os casos <strong>de</strong> editorasque escolhem os tradutores <strong>de</strong> acordocom o preço e não com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.A problemática <strong>de</strong>ve ser analisa<strong>da</strong>tendo em conta a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> obra a ser traduzi<strong>da</strong>, os meandros<strong>da</strong> linguagem, os duplos e terceirossentidos, a beleza e a sonori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>spalavras, a busca <strong>de</strong> termos e <strong>de</strong>mecanismos que permitam a traduçãomais correcta e <strong>de</strong>ntro do espíritooriginal. O esforço é gran<strong>de</strong> e otradutor dá tanto <strong>de</strong> si que há mesmoquem consi<strong>de</strong>re que o seu nome<strong>de</strong>veria vir na capa, juntamente como do autor.Vasco Graça Moura, conhecidoescritor e tradutor <strong>de</strong> obras clássicas,é um dos que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> isso. Escutadopelo JORNAL DE LEIRIA, refereque, pela importância do trabalho<strong>de</strong> quem verte os textos <strong>de</strong> uma línguapara a outra, o tradutor tambémpo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado quase umco-autor.Já o escritor valter hugo mãe dizque o tradutor é um escritor com afunção peculiar <strong>de</strong> criar para mantera fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma obra quandoesta mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> língua. “A mu<strong>da</strong>nça<strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> uma língua par<strong>ao</strong>utra é sempre um jogo <strong>de</strong> hipóteses,e nunca uma ciência acaba<strong>da</strong> esem polémicas. A angústia do autorperante o seu trabalho traduzido nãovai acabar em tempo algum”, afirma.Por não acreditar que haja quem,<strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente faça traduções semo cui<strong>da</strong>do e o respeito <strong>de</strong>vido pel<strong>ao</strong>bra original valter hugo ressalvaque por mais cui<strong>da</strong>do e interesse queo autor coloque numa tradução quese faça do seu texto, é impossívelperseguir a perfeição.Acostumado à árdua tarefa <strong>da</strong>tradução dos termos plenos <strong>de</strong> sentidosocultos <strong>de</strong> Oví<strong>de</strong>o e outros autorescomplexos, o docente universitárioCarlos André, reforça a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>valter hugo mãe e sintetiza: “A traduçãofiel é uma impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> prática,em especial quando se trata <strong>de</strong>um texto literário e, por maioria <strong>de</strong>razão, se for poesia. Ou se traduz osentido e se per<strong>de</strong> tudo quanto otransmite - o peso <strong>da</strong>s palavras, aforma, a retórica, a elegância -, ouse reproduz a elegância e a arte, mas<strong>de</strong>srespeitam-se as palavras, ou otradutor se apega <strong>ao</strong> significado eper<strong>de</strong> a música, ou preten<strong>de</strong> manteresta e corre o risco <strong>de</strong> infringiraquele”.António Gregório, editor <strong>da</strong> revista365 e autor publicado em Itáliae na América do Sul, diz ter <strong>de</strong>senvolvidoum artifício para percebera quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> tradução. “Quandoleio uma obra que não conheço nalíngua <strong>de</strong> origem, uma pergunta,que faço <strong>de</strong> mim para mim é sempre:Nota-se que isto não foi escritoem português? Não é a mesmacoisa que perguntar 'isto está bemescrito?' - é que po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r-se o caso<strong>de</strong> o original também não o estar,e o tradutor não tem <strong>de</strong> fazer milagres-, ou seja, trata-se <strong>de</strong> algo maissubtil e íntimo, algo parecido como que na música funky se chama <strong>de</strong>groove”.DOS CUS DE JUDASAO BEIJO DE JUDASPara o tradutor e intérprete HenriqueManuel, muito dificilmente esó em casos estritamente excepcionais,ou até por acaso fortuito seconseguem achar traduções melhoresque o original. “Po<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>rseo caso <strong>de</strong> ser um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro virtuosoa traduzir. Costuma dizer-seque para traduzir poesia, pela suaestrutura inerente, é preciso um poeta,e estou inteiramente <strong>de</strong> acordo”.Resumindo, o tradutor crê queum autor tem <strong>de</strong> estar preparadopara o seu trabalho no estrangeiroser diferente do que é na sua línguamaterna. “Na obra do próprio LoboAntunes, o Os Cus <strong>de</strong> Ju<strong>da</strong>s foi traduzidopara alemão com o título DerJu<strong>da</strong>s Kuss, isto é 'O beijo <strong>de</strong> Ju<strong>da</strong>s'apenas porque se privilegiou aí asonori<strong>da</strong><strong>de</strong> semelhante. O <strong>de</strong>svio dooriginal e do sentido não po<strong>de</strong>ria sermaior e, no entanto, foi aceite.”E se o tradutor, em vez <strong>de</strong> funcionarcomo autor, fosse uma espécie<strong>de</strong> médium ou canal psíquico doautor? “Ele tem <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar possuir- salvo seja – pelo escritor e imaginá-loa pensar, sonhar, praguejar,enfim, a criar noutra língua”, equacionaAntónio Gregório, mas ressalvaa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um limite. “A<strong>da</strong><strong>da</strong> altura, o tradutor, chegando àconclusão <strong>de</strong> que to<strong>da</strong> a estrutura<strong>da</strong> obra na nova língua seria diferente,meter-se-ia ele próprio reestruturá-la.”Jacinto Silva Durov i v e r . 2 7<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> . 16 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009