ArtigoJuarez de PaulaSociólogo e gerente da Unidade de Agronegóciose Desenvolvimento Territorial do SEBRAEO desafio da i<strong>no</strong>vaçãoPeque<strong>no</strong>s empreendimentos do agronegócio precisam investir decisivamenteem i<strong>no</strong>vação para serem competitivos. Novos produtos, estratégias de marketinge encadeamento produtivo, certificações e Indicações Geográficas, produçãoorgânica e agroenergia são algumas estratégias utilizadas pelos peque<strong>no</strong>s produtorespara se diferenciarem <strong>no</strong> mercadoOs peque<strong>no</strong>s empreendimentosde agronegócios produzemem pequena escala, oque geralmente implica numasignificativa redução da sua competitividadeem termos de preço final doproduto. Isso não significa que a pequenaprodução agropecuária seja eco<strong>no</strong>micamenteinviável. Apenas evidenciaque os peque<strong>no</strong>s negócios de baserural precisam investir decisivamenteem i<strong>no</strong>vação.Quando não dispomos de um produtocapaz de apresentar vantagemsobre os seus concorrentes pelo me<strong>no</strong>rpreço, a alternativa é apresentar outrostipos de vantagens, decorrentes deatributos de qualidade que promovam adiferenciação do produto. É justamenteesse o papel mais relevante da i<strong>no</strong>vação<strong>no</strong>s peque<strong>no</strong>s negócios.Entretanto, é necessário compreendero conceito de i<strong>no</strong>vação de umaforma mais abrangente. Geralmente associamosi<strong>no</strong>vação à idéia de “alta tec<strong>no</strong>logia”ou de “tec<strong>no</strong>logia de últimageração”. Esse, certamente, é um dossignificados possíveis. Porém, tambémé certo que o acesso das pequenasempresas a esse tipo de tec<strong>no</strong>logia égeralmente bastante difícil. Existemoutras formas de i<strong>no</strong>var.O modo de i<strong>no</strong>vação mais evidente,mais facilmente perceptível, é ai<strong>no</strong>vação do produto. Criar um produtoi<strong>no</strong>vador, sem similares <strong>no</strong> mercado, écertamente a forma mais absoluta dediferenciação. Isso geralmente estáassociado a investimentos em pesquisae desenvolvimento. Muitas vezes, oAgência <strong>Sebrae</strong> de Notíciascusto de pesquisa e desenvolvimentode um <strong>no</strong>vo produto pode ser bastanteelevado, mas nem sempre.O algodão naturalmente coloridodesenvolvido pela EMBRAPA e transformadoem produto pela marca NaturalFashion; as embalagens biodegradáveisproduzidas a partir da fécula demandioca desenvolvidas pela CBPAK; adomesticação e reprodução controladada “Sempre-viva” - uma flor nativa docerrado brasileiro – conseguida pelopesquisador Luiz Gluck Lima, possibilitandoa redução do extrativismo etransformando-a em produto de floricultura;a utilização de óleos, essênciase extratos naturais da <strong>no</strong>ssa biodiversidadepelas indústrias de fármacos ecosméticos para o desenvolvimento deprodutos, como os <strong>no</strong>vos bronzeador,protetor solar e creme hidratante daL’Occitane Brasil; são exemplos importantesde i<strong>no</strong>vação de produtos.Também é possível i<strong>no</strong>var atravésdo marketing, da promoção i<strong>no</strong>vadorado produto, buscando mudar hábitosde consumo, apresentar um produtotradicional de uma forma mais práticae atraente, mais adequada ao estilo devida do público-alvo que se quer atingir,ampliando a sensação de satisfaçãodos desejos e necessidades do consumidorfinal. A campanha “Um <strong>no</strong>voolhar sobre a carne suína” da ABCS –Associação Brasileira de Criadores deSuí<strong>no</strong>s é um ótimo exemplo de estratégiai<strong>no</strong>vadora de marketing de produto,com reflexos significativos não só <strong>no</strong>sresultados das vendas, mas também nareorganização da cadeia produtiva.Os alimentos orgânicos são um exemplo bem-sucedido de produtos diferenciados8 <strong>Sebrae</strong> Agronegócios
“Estamos certosde que acompetitividadedos agronegóciosde peque<strong>no</strong> portedepende fortementeda cooperaçãoe da i<strong>no</strong>vação”Juarez de PaulaOutra forma de i<strong>no</strong>var é buscar asubstituição de produtos por similares,com vantagens adicionais nem semprerelativas a preço. É o caso do mercadode agroenergia. O encarecimento dopreço do petróleo resultante da crescenteescassez do produto e os efeitosambientais da sua crescente utilização– aquecimento global e mudançasclimáticas – impulsionam a busca poralternativas re<strong>no</strong>váveis e limpas parageração de energia.A produção de biogás e biofertilizantea partir de dejetos animais e aprodução de biodiesel e saneantes apartir da gordura animal descartada ematividades de abate, eliminando resíduosde forte impacto ambiental, comona experiência da Fazenda Pork Terra,Sérgio Albertopode ser uma excelente e i<strong>no</strong>vadoraalter nativa de produção de energia paraautoconsumo em médias e pequenaspropriedades rurais, reduzindo custos epreservando o meio ambiente.Aproveitar o óleo vegetal utilizadoem frituras como biocombustível paramotores diesel, evitando o seu descarte<strong>no</strong> meio ambiente, o que geralmenteimplica na contaminação de recursoshídricos e obstrução de tubulações deesgoto, com custos sociais muito expressivos,é outro exemplo de produçãode energia para o autoconsumo, absolutamenteviável para micro e pequenasempresas urbanas e rurais. A tec<strong>no</strong>logiadesenvolvida por Paulo Lenhardtpara este fim, além de i<strong>no</strong>vadora, temas características de uma “tec<strong>no</strong>logiasocial”, por ser simples, barata e geradorade qualidade de vida.Porém, também é possível demonstrara viabilidade da participação depeque<strong>no</strong>s empreendedores <strong>no</strong> competitivomercado do eta<strong>no</strong>l, a exemplo daCooperativa Pindorama, proprietária deuma grande usina produtora de açúcare álcool, que i<strong>no</strong>va ao não reproduzir omodelo tradicional, seja pela integraçãodo plantio de cana-de-açúcar com afruticultura e a horticultura, escapandoda mo<strong>no</strong>cultura, seja pelo modelo degestão cooperativista e pela propriedadecoletiva do empreendimento.A forma mais comum de i<strong>no</strong>vação éa busca pela diferenciação do produto.Isso implica na valorização de atributosde qualidade, que precisam ser comprovadospara o consumidor através deprocedimentos de certificação.Os produtos certificados como“orgânicos”, isto é, comprovadamenteproduzidos sem a utilização de agroquímicos(fertilizantes, pesticidas,anti bióticos e outras substâncias quepodem deixar resíduos químicos <strong>no</strong>salimentos) são um exemplo exitosodeste tipo de diferenciação. Os produtosorgânicos são vendidos compreços geralmente 30% superiores aosconvencionais e mesmo assim o mercadode produtos orgânicos cresce entre20 a 30% ao a<strong>no</strong>. É um forte sinalde mudança de hábitos de consumo,onde o consumidor está cada vez maispreocupado com a aquisição de produtossaudáveis e disposto a pagar maispor isso.Empreendimentos de sucesso comoa Fazenda Malunga, a Cooperativa deAgricultura Ecológica do Portal da Amazônia,a Cooperativa Justa Trama, a CoopNaturale os chás Namastê demonstrama potencialidade deste mercado.A própria multiplicação da tec<strong>no</strong>logiasocial de Produção Agroecológica Integradae Sustentável – PAIS demonstrao forte apelo da agroecologia comoum modo i<strong>no</strong>vador de produção de alimentos.Outra forma de diferenciação deprodutos é a valorização de atributosde qualidade resultantes de característicasterritoriais, certificados atravésdas Indicações Geográficas e dasDe<strong>no</strong>minações de Origem dos produtos.O vinho do Vale dos Vinhedos, aCachaça de Paraty, a carne do PampaGaúcho da Campanha Meridional e oCafé do Cerrado são exemplos brasileirosdeste tipo de certificação.Há ainda uma forma de diferenciaçãode produtos através das certificaçõesde qualidade, com a obtençãode selos resultantes de processosde auditoria regulados por <strong>no</strong>rmasde conformidade. As certificações dequalidade com foco na sanidade e rastreabilidadede produtos tendem a seruma exigência de mercado cada vezmais comum. Os exemplos dos produtoresgaúchos de cachaça e dos fruticultoresdo Vale do Rio São Franciscodemonstram a importância da certificaçãode qualidade como instrumentode i<strong>no</strong>vação da gestão dos processosprodutivos.O SEBRAE, ao dar visibilidade atodas estas experiências, busca evidenciara importância da i<strong>no</strong>vaçãoem seus diversos aspectos, inclusivea i<strong>no</strong>vação nas formas de organizaçãodos peque<strong>no</strong>s empreendedores, valorizandoo cooperativismo e a gestãoparticipativa. Estamos certos de que acompetitividade dos agronegócios depeque<strong>no</strong> porte depende fortemente dacooperação e da i<strong>no</strong>vação.<strong>Sebrae</strong> Agronegócios 9