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E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

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Des<strong>de</strong> que o <strong>se</strong>uálbum foi lançado,precisamente esta<strong>se</strong>mana, a cotação<strong>de</strong> James Blakeno mercado não pára<strong>de</strong> aumentar, mas issonão parece preocupálo:“Esta atenção pod<strong>ele</strong>var-me ao paraíso,mas tambémconduzir-meao inferno”Em JamesBlake, aestranhezalevavantagemsobre afamiliarida<strong>de</strong>:o álbum <strong>de</strong>estreia é umconvite àintrospecção,cheio <strong>de</strong>silêncio e <strong>de</strong>solidão, que àprimeirapareceimpenetrávelno. “No início tentava soar como osDigital Mystikz, que ouvia com insistência,mas agora oiço o que fiz e nãosinto que tenha muito a ver, para alémdos aspectos rítmicos”, confessa.A verda<strong>de</strong> é que foi adoptado pelacomunida<strong>de</strong> dubstep <strong>de</strong> Londres, fazendoremisturas (Snoop Dogg ou Lil’Wayne) com a <strong>de</strong>signação Harmonimixe integrando os Mount Kimbienos espectáculos ao vivo.Depois viriam os três primeiros EPspara editoras conotadas com o género(Hemlock, Hes<strong>se</strong>l e R&S). Mesmo“Limit to your love” foi concebida apensar nos clubes <strong>de</strong> dança – “puxeipela linha <strong>de</strong> baixo a pensar nisso” –,apesar da nu<strong>de</strong>z que atravessa a ção. “O dubstep tem tudo: ritmo, <strong>de</strong>signsonoro, emoção”, diz.Há dois nomes que ajudam a expli-cancaro interes<strong>se</strong> que suscita: Burial eos The xx. Com dois álbuns lançados(“Burial”, <strong>de</strong> 2006, e “Untrue”, <strong>de</strong>2007), o inglês Burial tornou-<strong>se</strong> ummicro-fenómeno <strong>de</strong> culto, através <strong>de</strong>um <strong>som</strong> fantasmagórico, feito <strong>de</strong> indícios,espectros do dub, superfíciesamplas e fragmentos <strong>de</strong> vozes que <strong>se</strong>diluem entre camadas adas <strong>de</strong> <strong>som</strong> queparecem vindas <strong>de</strong> paragens muitolongínquas.O primeiro a anunciar nciar uma realida<strong>de</strong>in<strong>de</strong>finível que, à falta <strong>de</strong> melhor<strong>de</strong>signação, acabou por <strong>se</strong>r <strong>de</strong>finidacomo pós-dubstep p foi Burial. Emalguma da melhor música editadano ano passado (How To DressWell, Forest Swords, Mount Kim-bie, Balam Acab, Jamie Woon)essa <strong>de</strong>scendência pres<strong>se</strong>ntia-<strong>se</strong>.E James Blake não constituía excepção.Todos <strong>ele</strong>s <strong>se</strong> situam,algures, entre a pop p futurista ea i<strong>de</strong>ia clássica do autor <strong>de</strong> ções, apostando na escuta do-canméstica,estando mais sados em gerar ambientes e<strong>se</strong>nsações do que agitaçõesdançantes.interes-Burial e, principalmente, osThe xx, quando há dois anoslançaram o álbum homónimo,abriram caminho para a da em cena <strong>de</strong> Blake.Há algumas <strong>se</strong>melhança<strong>se</strong>ntre os três, na forma comoencaram noções como espaçoentra-e tempo e organizam <strong>de</strong> formaenxuta as emoções, mas é maisdo que isso: “Os The xx têmuma audiência mista, ‘indie<strong>ele</strong>ctrónica’,que acaba por <strong>se</strong>rimportante para a minha aceitação”,reflecte.“Foi através d<strong>ele</strong>s es que muitoscomeçaram a ouvir musica <strong>ele</strong>ctrónicapausada e ampla e isso abriunovos caminhos. Através d<strong>ele</strong>s a nha música tornou-<strong>se</strong> mais aceitável.O tipo <strong>de</strong> produção d<strong>ele</strong>s é muito mi-‘do-it-your<strong>se</strong>lf’. Na minha música também,ou na dos Mount Kimbie, ma<strong>se</strong>les fizeram-no primeiro.”O piropo é <strong>de</strong>volvido pelos The xx,através <strong>de</strong> Jamie xx, que tem vindo acimentar a sua posição a solo na culturabass britânica – algo que vai <strong>se</strong>rfortalecido a 21 <strong>de</strong> Fevereiro quandofor lançado o <strong>se</strong>u exc<strong>ele</strong>nte álbum“We’ re New Here”, com versões <strong>de</strong>Gil Scott-Heron. “Conhecemo-nos todos,eu, James Blake, Mount Kimbie,Ramadanman ou Joy Orbinson, erevejo-me completamente na músicaque todos <strong>ele</strong>s fazem. Há uma série<strong>de</strong> produtores em Brixton, para on<strong>de</strong>me mu<strong>de</strong>i, e acaba por <strong>se</strong>r uma espécie<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>” diz <strong>ele</strong>.Se do ponto <strong>de</strong> vista sónico, apesarda singularida<strong>de</strong> do <strong>se</strong>u <strong>som</strong>, <strong>se</strong> con<strong>se</strong>guediscernir uma linha <strong>de</strong> acção,quando <strong>se</strong> tentam encontrar paralelismosvocais com Blake enunciam-<strong>se</strong>nomes tão diferentes como o <strong>de</strong> Antonyou David Sylvian. Mas, nes<strong>se</strong>plano, uma das influências confessasdo <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia, que apenasouvidos testados perceberão, são osOutKast, duo americano <strong>de</strong> rap quemarcou a década passada com algunsdos discos mais aventureiros do género:“São uma enorme influência.A sua aproximação à produção é tãolivre. Existe qualquer coisa na formacomo a voz funciona com a músicaque me inspirou a libertar a minhaprópria voz”, diz James Blake. Issoaconteceu há poucos me<strong>se</strong>s. Ante<strong>se</strong>ra um cantor relutante.Aliás, em comparação com os trêsanteriores EPs, a gran<strong>de</strong> diferençaque o <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia transportaé essa. A reinvenção é acima <strong>de</strong>tudo vocal. On<strong>de</strong> antes a voz era utilizadaapenas como mais um <strong>ele</strong>mentona construção da arquitectura sonora,agora ganha lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque,mostrando-<strong>se</strong> límpida ou manipulada.“É óptimo po<strong>de</strong>rmos utilizar avoz. Às vezes é a diferença entre terum tema <strong>de</strong>spersonalizado e umacoisa visceralmente única.”Depois das canções e do crescendo<strong>de</strong> interes<strong>se</strong> à sua volta, só faltavamesmo o ex-DJ apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> ao vivo.E é isso que tem acontecido ocasionalmente<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do ano: <strong>ele</strong>no piano, nos teclados e na voz, fazendo-<strong>se</strong>acompanhar <strong>de</strong> um baterista e<strong>de</strong> um guitarrista. O silêncio, no palcocomo em estúdio, joga um papel fundamentalnas apre<strong>se</strong>ntações ao vivo:“Gosto <strong>de</strong> ouvir o ranger das ca<strong>de</strong>iras.Gosto <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntir a tensão e o prazer queo silêncio provoca quando estamosnuma sala com outras pessoas”.Há uma coisa que parece certa.Des<strong>de</strong> que o <strong>se</strong>u álbum <strong>de</strong> estreia foilançado, precisamente esta <strong>se</strong>mana,a sua cotação no mercado <strong>de</strong>ve teraumentado consi<strong>de</strong>ravelmente. Masisso não parece preocupá-lo. “Estaatenção po<strong>de</strong> levar-me ao paraíso,mas também conduzir-me ao inferno.”Para já é nas nuvens que <strong>ele</strong> está.Ele e quem <strong>se</strong> <strong>de</strong>ixar embalar pelasua música.Citações: “The Guardian”, “Fact”,“Clash”, “Pitchfork”, “BBC” e “Fa<strong>de</strong>r”10 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon

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