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E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

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LivrosaMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExc<strong>ele</strong>nteAngélica Lid<strong>de</strong>ll, uma das figuras incontornáveisdo teatro espanhol contemporâneoque faz triunfar a força anónima davida <strong>se</strong>m qualida<strong>de</strong>s e a “força <strong>de</strong> umestilo indiferente à dignida<strong>de</strong> daspersonagens”. Po<strong>de</strong>-<strong>se</strong> falar da glóriapossível e única do qualquer um. Issoocorreu primeiro na literatura,<strong>de</strong>pois nas artes plásticas, ainda nãono político. O <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pelahistória das mentalida<strong>de</strong>s, apsicanáli<strong>se</strong>, a fotografia, um certocinema (Pedro Costa e o <strong>se</strong>u“Juventu<strong>de</strong> em Marcha”)compreen<strong>de</strong>-<strong>se</strong> neste alinhamento.Resumindo, o “Regime Estético dasArtes é o que i<strong>de</strong>ntifica a arte nosingular, dissociando-a <strong>de</strong> qualquerhierarquia dos temas, dos géneros edas artes. O que implica <strong>de</strong>struir abarreira mimética que distinguia asmaneiras da fazer arte das outrasmaneiras <strong>de</strong> fazer, <strong>se</strong>parando as suasregras da or<strong>de</strong>m das ocupaçõessociais. Este regime afirma a absolutasingularida<strong>de</strong> da arte e, ao mesmotempo, <strong>de</strong>strói qualquer critériopragmático <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar essasingularida<strong>de</strong>”. O que aviva umaaporia, ou no limite, encerra as artesnum ensimesmamento auto-télico.Rancière não cessa <strong>de</strong> insistir que “aestética <strong>de</strong>ve tornar <strong>se</strong>nsível aimaterialida<strong>de</strong> do <strong>se</strong>nsível que é amaterialida<strong>de</strong> do pensamento”. Acada passo, o <strong>se</strong>nsível duplica-<strong>se</strong> num<strong>se</strong>nsível que, diferindo, advém outro,e o pensamento <strong>de</strong>sdobra-<strong>se</strong> numpensamento outro. Per<strong>se</strong>guem-<strong>se</strong>, ouper<strong>se</strong>guem um ponto intotalizável,suspenso no infinito - a coincidência,e a comunida<strong>de</strong> por vir.Muito fica por dizer, O autor é umamáquina voraz. E que tal um frente-afrentesobre a Wikileaks entreRancière e Badiou?TeatroMáscaramorta,máscarapostaDuas dramaturga<strong>se</strong>spanholas, Luïsa Cunillée Angélica Lid<strong>de</strong>ll: umapermanecerá, a outratalvez não. Jorge LouraçoFigueiraBarcelona, Mapa <strong>de</strong> Sombras +Après Moi, le DélugeLluïsa Cunillé(Trad. Ângelo Ferreira <strong>de</strong> Sousa)Livros CotoviammmmmCão Morto em Tinturaria: osFortes e outras peçasAngélica Lid<strong>de</strong>ll(Trad. Joana Frazãoe Raquel Marques)Livros CotoviammmnnA última leva<strong>de</strong> autorescontemporâneospublicados nosLivrinhos <strong>de</strong> Teatrodos Artistas Unidosincluiu duasdramaturgas <strong>de</strong> queo público po<strong>de</strong> veruma amostra naspróximas <strong>se</strong>manas:Angélica Lid<strong>de</strong>ll (n.1966) em pessoa,com “La Casa <strong>de</strong> LaFuerza”, hoje eamanhã naCulturgest; e LluïsaCunillé (n. 1961),cuja “Libração”, montada pelas BoasRaparigas, estará a 18 e 19 <strong>de</strong> Marçono São Luiz, em <strong>Lisboa</strong>. Com JuanMayorga, são as duas autorasnascidas na Espanha da década <strong>de</strong> 60que mais <strong>se</strong> <strong>de</strong>stacam no panoramamundial da dramaturgia, tendoobtido nos últimos anos oreconhecimento dopúblico, da crítica e da clas<strong>se</strong> teatral.O livrinho <strong>de</strong> Cunillé inclui duaspeças, “Barcelona, Mapa <strong>de</strong>Sombras” (2004) e “Après Moi, leDéluge” (2007). O <strong>de</strong> Lid<strong>de</strong>ll quatro:“Cão Morto em Tinturaria: os Fortes”(2007), “O Ano <strong>de</strong> Ricardo” (2007),“E Como Não Apodreceu...: Branca<strong>de</strong> Neve” (2005), “E os Peixes Saírampara Combater Contra os Homens”(2003).O problema central para ambas asautoras parece <strong>se</strong>r como construirficções teatrais on<strong>de</strong> caiba a tragédiacontemporânea, feita tanto do dia-adiaem Espanha como das notícias <strong>de</strong>horrores no estrangeiro. Que ritualcénico po<strong>de</strong> reproduzir algum tipo<strong>de</strong> pasmo, e através <strong>de</strong> queconvenções? As respostas nãopodiam <strong>se</strong>r mais diferentes. Lid<strong>de</strong>lloferece-<strong>se</strong> a si mesma como bo<strong>de</strong>sacrificial, ao mesmo tempo quemostra o que po<strong>de</strong> acontecer aqualquer um <strong>de</strong> nós. As suastragédias não <strong>se</strong> referem a heróis,muito menos a <strong>se</strong>mi-<strong>de</strong>u<strong>se</strong>s, mas avários casos banais - e é a banalida<strong>de</strong>da violência que horroriza. Em “CãoMorto em Tinturaria: os Fortes”, oartista é apre<strong>se</strong>ntado como um pária,pertencendo a uma casta intocável, e“cada plateia é uma reprodução damesquinhez universal”. Fazendo aponte com a sua biografia, a própriaLid<strong>de</strong>ll encarna o dito cão, que faz asvezes <strong>de</strong> um mestre <strong>de</strong> cerimóniasartaudiano pairando sobre a acção. Apeça conta a história <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>personagens num futuro fictício, alvo<strong>de</strong> uma contaminação espiritual queas lança na <strong>de</strong>cadência. O <strong>se</strong>xo étratado como um coisa <strong>de</strong>sgostosa.“Fo<strong>de</strong>r é igual a fazer autópsias”, dizàs tantas uma personagem. “CãoMorto” é uma distopia que tenta<strong>de</strong>nunciar a herança maligna, oupelo menos <strong>de</strong>svirtuada, <strong>de</strong>Rous<strong>se</strong>au, expondo a má consciênciae a hipocrisia dos her<strong>de</strong>iros doIluminismo. A maior tragédia é a daindiferença geral perante as mortes<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas nas cida<strong>de</strong>sfora da Europa, <strong>de</strong> quem não noslembraríamos <strong>se</strong> não houves<strong>se</strong>notícias e viagens <strong>de</strong> longo curso.“Tudo é vaida<strong>de</strong>” parece <strong>se</strong>r o motepara <strong>de</strong>smontar a socieda<strong>de</strong> doespectáculo e mostrar os écrãs sujos<strong>de</strong> sangue. Lid<strong>de</strong>ll confronta oespectador e espera com isso obter asua atenção, mas as suas personagensparecem adolescentes automutilando-<strong>se</strong>para compensar aimpotência.Ao contrário <strong>de</strong> Lid<strong>de</strong>l, Cunillé éconhecida pela sua reclusão pessoal,raramente aparecendo paraentrevistas. A sua arte está toda naspersonagens fictícias, preparadaspara lidar com todas aspotencialida<strong>de</strong>s da encarnação eassim focar os temas que preten<strong>de</strong>,enunciados por actores que <strong>se</strong> vê queescolheram estas histórias e estespapéis <strong>de</strong>liberadamente. Em “AprésMoi, le Déluge”, uma intérpretetraduz o pedido <strong>de</strong> um velho al<strong>de</strong>ãodo Congo a um homem <strong>de</strong> negócio<strong>se</strong>uropeu para que empregue o filho,ex-soldado enquanto criança. Oal<strong>de</strong>ão nunca está pre<strong>se</strong>nte e, nofinal, a surpresa é que o filho morreue toda a história foi inventada. Aintérprete aparece mais como umacontadora <strong>de</strong> histórias. De repente,apercebemo-nos <strong>de</strong> que fala nãoapenas pelo peticionário, mas portodos os peticionários. Cunillésintetiza muito bem as lições <strong>de</strong>Brecht, Piran<strong>de</strong>llo, Genet, namaneira como o artifício teatral e averosimilhança das personagens não<strong>se</strong> excluem. A empatia do espectadorvem da própria empatia que <strong>se</strong>estab<strong>ele</strong>ce e vai aumentando entre aspersonagens, e que contradiz oconflito dramático, humanizando-o,tornando-o mais complexo. No final,tudo parece ter sido um jogo <strong>de</strong>máscaras. Mas aconteceu perante osnossos olhos. A realida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> <strong>se</strong>rvista pelos olhos <strong>de</strong> alguém. Aspersonagens <strong>de</strong> Cunillé têm plenaconsciência <strong>de</strong> que a sua interacção éum número social, parte doespectáculo da história. É essaconsciência do mundoem que estão metidos que faz<strong>de</strong>stas personagens verda<strong>de</strong>irosheróis e <strong>de</strong>sta dramaturgia uma obrasubtil mas lancinante. As peças <strong>de</strong>Cunillé falarão à humanida<strong>de</strong>durante muito tempo.IsabelCoutinhoCiberescritasOcaso era sério. Luiz Schwarcz, o editor dabrasileira Companhia das Letras, tinhaprometido que durante as férias nãoescreveria nenhum post no Blog daCompanhia. Teve <strong>de</strong> quebrar a promessaquando, em Nova Iorque, resolveu ir à livraria Barnes &Noble da sua “predilecção”, aquela que ficava em frente aoLincoln Center, e verificou que ela fechou. “This Barnes &Noble location is now clo<strong>se</strong>d. Plea<strong>se</strong> visit our store at 82ndand Broadway. Thank you for your patronage over the past15 years”, lia-<strong>se</strong> na montra. “Antes lamentávamos ofechamento <strong>de</strong> cada uma das maravilhosas livrariasin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e os vilões eram as ca<strong>de</strong>ias, da qual aBarnes & Noble é a maior repre<strong>se</strong>ntante. Agora são asca<strong>de</strong>ias que estão mal (...) e, para minha surpresa, amelhor, ou uma das melhores lojas da Barnes & Noble,acaba <strong>de</strong> fechar. É claro que o vilão da vez é o livro<strong>ele</strong>trônico. Essa é uma longa discussão, na qual faço mevaler do fato <strong>de</strong> estar <strong>de</strong> fériasFoi numa Barnes &Noble que percebi queuma livraria podia tersofás e um café lá<strong>de</strong>ntro. Ainda nãoestou preparada parair ao <strong>se</strong>u enterroBlog da Companhiahttp://www.blogdacompanhia.com.br/Dale Peck no Thedailyhttp://www.thedaily.com/page/<strong>2011</strong>/02/07/020711-opinions-opedbookstorespeck-1-2/Mischief &Mayhemhttp://www.mischiefandmayhembooks.com/(Ciberescritasjá é um bloguehttp://blogs.publico.pt/ciberescritas)O enterro dasca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> livrariaspara não entrar, pelo menosneste momento”, escreveSchwarcz.Esta <strong>se</strong>mana, numa coluna<strong>de</strong> opinião do “The Daily”, apublicação lançada por RupertMurdoch exclusivamente parao iPad, o romancista Dale Peckvoltava ao tema numa colunaprovocatória. Para <strong>ele</strong>, osleitores estão treinados parapensar das livrarias aquilo queos fãs do “rock and roll”pensam dos concertos: é o sítio on<strong>de</strong> vemos os nossosartistas preferidos e on<strong>de</strong> nos encontramos com pessoascom os nossos gostos e valores. “À primeira vista pareceum sistema exc<strong>ele</strong>nte. Há espaço para todos os tipos d<strong>ele</strong>itores, quer <strong>se</strong> goste <strong>de</strong> Dan Brown e <strong>de</strong> Stephenie Meyerou <strong>de</strong> David Markson e <strong>de</strong> Angela Carter. Qual é oproblema?”, pergunta o autor, que é também fundador <strong>de</strong>uma pequena editora, a Mischief + Mayhem Books. A <strong>se</strong>guiranalisa todos os problemas do processo <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> livros(as comissões com que ficam os distribuidores e oslivreiros, a lógica da consignação, etc) e vai avisando que aInternet simplifica a compra <strong>de</strong> livros directamente ao<strong>se</strong>ditores e que, com os avanços tecnológicos na área doprint-on-<strong>de</strong>mand (impressão a pedido), os editores já nãoprecisam <strong>de</strong> imprimir <strong>de</strong>z mil livros <strong>de</strong> um título <strong>se</strong> sabemque só vão con<strong>se</strong>guir ven<strong>de</strong>r cinco mil. “Se o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>impressão a pedido, directamente para o consumidor, foraplicado por toda a parte, <strong>se</strong>m dúvida que levará a Amazone a Walmart para fora do negócio do livro, e também vaiafastar a Barnes & Noble do negócio, ponto final. Isso <strong>se</strong>riamau?”, pergunta. Provocador, diz que <strong>se</strong> as gran<strong>de</strong>sca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>saparecerem talvez as livrarias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesaumentem. “Leitores <strong>de</strong> todo o mundo, uni-vos. Não têmnada a per<strong>de</strong>r a não <strong>se</strong>r as ca<strong>de</strong>ias.”Não posso concordar. Eu gosto muito <strong>de</strong> não precisar <strong>de</strong>sair do sofá para comprar um livro <strong>ele</strong>ctrónico e começar alê-lo nes<strong>se</strong> instante. Também gosto da atenção que me dãonas livrarias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Mas não quero que umaca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> livrarias como a Barnes & Noble, espalhada portodas as cida<strong>de</strong>s norte-americanas, <strong>de</strong>sapareça do mapa.Nos anos 90, foi numa Barnes & Noble que percebi pelaprimeira vez que uma livraria podia ter sofás e um café lá<strong>de</strong>ntro. Pas<strong>se</strong>i a ir lá todos os dias, para <strong>de</strong>scobrir novoslivros e meter conversa. Quando hoje entro numa livraria,a Barnes & Noble que me marcou naquela época está<strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte e é o termo <strong>de</strong> comparação. Ainda nãoestou preparada para ir ao <strong>se</strong>u enterro.isabel.coutinho@publico.pt38 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon

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