Embalados porJamesBlakeAos 22 anos, o britânicoJames Blake, acaba <strong>de</strong>lançar um daqu<strong>ele</strong>s álbunsque po<strong>de</strong>m ficar comodocumento-sínte<strong>se</strong> <strong>de</strong> umperíodo da música popular.Será este <strong>som</strong> (esquelético,imperfeito, misto <strong>de</strong>composição clássica eprodução futurista) o <strong>som</strong><strong>de</strong> <strong>2011</strong>? E porque não?Vítor Belanciano6 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon
James Blakecomeçou atocar pianoaos <strong>se</strong>is ano<strong>se</strong>, até ao fim daadolescência,eram Bach ouo jazz <strong>de</strong> ArtTatum que oatraíam - atéconhecer odubstepEstá a <strong>se</strong>r tudo muito rápido para JamesBlake, um inglês <strong>de</strong> 22 anos quehá um ano fazia música para si próprionum estúdio ca<strong>se</strong>iro e que agoratem o mundo <strong>de</strong> olhos postos em si.Está longe <strong>de</strong> <strong>se</strong>r uma história virgem.É talvez mesmo a narrativa maisantiga da cultura popular. Mas no <strong>se</strong>ucaso é um pouco estranho. Pela música.Algumas das canções possuemcaracterísticas reconhecíveis – umavoz vulnerável aqui, uma melodia cintilanteali, uma estrutura <strong>de</strong> cançãovisível acolá –, mas a estranheza levavantagem sobre a familiarida<strong>de</strong>.É música lacónica. Até as letras (“Idon’t know about my dreamsI don’t know about my love / Allthat I know is that I’m fallin, fallin,fallin”, canta, em “The wilhelm scream”)parecem rascunhos, suspensos,<strong>se</strong>m princípio nem fim preciso.Se existe aqui alguma fórmula <strong>de</strong>sucesso, é a primeira vez que ela <strong>se</strong>traduz num convite <strong>de</strong>clarado à introspecçãopaciente. O que temos noálbum <strong>de</strong> estreia <strong>de</strong>ste inglês é umacolecção <strong>de</strong> canções, algumas <strong>de</strong>lasadoptando um carácter clássico, mascanalizadas por <strong>se</strong>quenciadores e caixas<strong>de</strong> ritmo.Há muito espaço. Há silêncio. Háintensida<strong>de</strong>. Há solidão. Há cançõe<strong>se</strong> ruídos <strong>ele</strong>ctrónicos vogando no espaço,comandados por qualquer coisa<strong>de</strong> afectivo que nos faz aproximar<strong>de</strong> uma música que, à primeira, pareceimpenetrável. “Por um lado, nãopercebo nada <strong>de</strong>sta música. Por outrolado, sinto que esta música é incrível”,alguém escreveu no YouTube.Faz <strong>se</strong>ntido.Não é comum termos no mesmocorpo um produtor <strong>de</strong> sons que nãotem medo <strong>de</strong> experimentar e um cantorvulnerável, bajulado – e <strong>de</strong>testado,evi<strong>de</strong>ntemente, como é comum emcasos <strong>se</strong>melhantes <strong>de</strong> exposição precoce– por muita gente. Como escrevíamoshá duas <strong>se</strong>manas, na críticaao homónimo álbum <strong>de</strong> estreia, esteé daqu<strong>ele</strong>s registos capazes <strong>de</strong> potenciarememoções com o mínimo <strong>de</strong>movimentos – ritmo, alma, silêncio,um minimalismo inquieto, mas aindaassim <strong>ele</strong>gante, e uma voz frágil, adulteradadigitalmente, que suspen<strong>de</strong> os<strong>se</strong>ntidos.Mesmo a sua canção mais conhecida,“Limit to your love”, versão <strong>de</strong>um tema da canadiana Feist, não épropriamente fácil <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r, misto<strong>de</strong> <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> clássica para pianoe voz, distorcida pela utilização doUma noite, JamesBlake entrou no clubelondrino FWD,em Brick Lane, e algomudou: “Senti-meenvolvido pela músicacomo nunca antesme acontecera”Ípsilon • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • 7