12.07.2015 Views

E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

E se ele fosse o som de 2011? - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DiscosO tenor norte-americanoMatthew PolenzaniClássicaLiszt <strong>2011</strong>Em ano <strong>de</strong> bicentenáriodo nascimento <strong>de</strong> Liszt,começam a <strong>se</strong>r lançadas nomercado diversas gravaçõesmerecedoras da maioratenção. Rui PereiraFranz LisztThe complete songs, 1º volumeMatthew Polenzani, tenorJulius Drake, pianoHypérion CDA 67782mmmmmFranz Liszt ficarápara <strong>se</strong>mpre nahistória como omaior pianista do<strong>se</strong>u tempo, um dosinventores dopianismo mo<strong>de</strong>rno, compositor <strong>de</strong>uma vastíssima obra para piano e paido poema sinfónico orquestral.Nasceu há 200 anos e <strong>se</strong> há coisasboas nas efeméri<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stesaniversários, o lançamento da ediçãocompleta das canções para canto epiano por parte da Hypérion merece,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, amplos louvores.Liszt escreveu canções em <strong>se</strong>isidiomas distintos, mas estas nuncaentraram no repertório dos cantoreslíricos, pelo mesmo ao nível dasobras congéneres <strong>de</strong> Schubert,Schuman ou até mesmo <strong>de</strong>Men<strong>de</strong>lssohn. As canções em alemão<strong>de</strong> Liszt enquadram-<strong>se</strong> na tradição doLied <strong>de</strong> Schubert mas alcançam umdramatismo muito mais intenso queaponta na direcção <strong>de</strong> um RichardStrauss. Nas canções italianas, atradição do bel canto e o lirismooperático, mesmo na pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong>recitativos, revelam uma outratradição plenamente assimilada porLiszt e que o virtuosismo da suaescrita pianística acompanha naperfeição. Neste âmbito, os TrêsSonetos do Petrarca são obras <strong>de</strong>referência e <strong>de</strong> audição obrigatória.Neste primeiro volume, a Hypérionescolheu o aclamado tenor norteamericanoMatthew Polenzani, umadas pre<strong>se</strong>nças mais assíduas daMetropolitan Opera <strong>de</strong> Nova Iorque,o qual é acompanhado pelo pianistaJulius Drake. A escolha foi acertada,revelando uma das vozes maisbonitas e timbricamente ricas daactualida<strong>de</strong>, com uma dicção perfeitae capaz <strong>de</strong> jogar nos registos do lied eda ópera. A escolha do repertório éreveladora <strong>de</strong> um Lisztabsolutamente genial e que merece<strong>se</strong>r <strong>de</strong>scoberto e todas as suasfacetas. Brilhante.PopEstas raparigas vão<strong>se</strong>r gran<strong>de</strong>sWarpaintThe FoolRough Tra<strong>de</strong>; distri. PopstockmmmmnQuando os Divalançaram o <strong>se</strong>udisco <strong>de</strong> estreiaem 1990, haviauma <strong>de</strong>finiçãomesmo à mão,prontinha a usar para <strong>de</strong>finir aquelamúsica: “<strong>som</strong> 4AD”. Ou, como <strong>ele</strong>slhe chamaram, “Ecos <strong>de</strong> Outuno”. Avoz em voo rasante <strong>de</strong> NatáliaCasanova, <strong>de</strong> tom lírico, e as guitarrasque pareciam tocadas no fundo <strong>de</strong>um poço, cristalinas, numareverberação circular que pareciainventada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong>lavar roupa, pareciam feitas para <strong>se</strong>enfiar no buraco da fechadura dacasa li<strong>de</strong>rada por Ivo Watts-Rus<strong>se</strong>ll.Na altura, corriam mesmo rumores<strong>de</strong> que a 4AD teria ficado interessadaem contratá-los. Depois, nada mais <strong>se</strong>soube.Mas o que é certo é que es<strong>se</strong> “<strong>som</strong>4AD” era algo <strong>de</strong> qua<strong>se</strong> palpável, etinha referências evi<strong>de</strong>ntes nosCocteau Twins, His Name Is Alive,Throwing Mu<strong>se</strong>s, Belly, Red Hou<strong>se</strong>Painters, Dead Can Dance ou Pixies.E no projecto This Mortal Coil, umainvenção do próprio Watts-Rus<strong>se</strong>ll. Amatriz existia, era i<strong>de</strong>ntificável ereflectia o gosto pessoal do <strong>se</strong>ufundador. Watts-Rus<strong>se</strong>ll afastou-<strong>se</strong>em 1999 e a editora tomou outrorumo. E só por isso é que as Warpaintsão dadas a conhecer ao mundoatravés da Rough Tra<strong>de</strong>, uma vez quea sua sonorida<strong>de</strong> apela a es<strong>se</strong>romantismo cinzento que habitavagran<strong>de</strong> parte do catálogo da 4AD. Em“The Fool”, tal como acontecia já noEP “Exquisite Corp<strong>se</strong>”, é dado umcheque em branco a essas guitarrasque gostam <strong>de</strong> <strong>se</strong> ouvir a elaspróprias (as guitarras, não osguitarristas, que isso <strong>se</strong>ria terrenopara virtuosismo onanista), a bateria<strong>se</strong>xtremamente pronunciadas e vozesque, uma vez mais, só entram nodisco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mostrar o cartão <strong>de</strong>embarque e passar por um apertadocontrolo alfan<strong>de</strong>gário.Daí que não espante ouvir aquirestos <strong>de</strong>s<strong>se</strong> catálogo da 4AD – com oacrescento dos Lush –, mais qualquercoisa dos Slowdive e <strong>de</strong> outras águaspassadas. Com a diferença <strong>de</strong> que obaixo das Warpaint não fica lá embaixo, é irrequieto, não anda aapanhar migalhas dos outrosinstrumentos. Ou <strong>se</strong>ja, as Warpaintépoca 2010/<strong>2011</strong> são um cruzamentoentre shoegazing e pop feérica, comum ligeiro travo pós anos 90. O quepo<strong>de</strong>ria acarretar anacronismo dapior espécie, mas que sobrevive comuma magnífica graciosida<strong>de</strong> graças aum espantoso lote <strong>de</strong> cançõesli<strong>de</strong>rado por “Un<strong>de</strong>rtow” e“Composure”. Estas raparigas vão <strong>se</strong>rgran<strong>de</strong>s. Ivo não as ouviu a tempo,mas Paul Jones, da Rough Tra<strong>de</strong>,assinou-as assim que as ouviu noMySpace, <strong>se</strong>m passar pela sala <strong>de</strong>concertos. Ou melhor, quando aeditora as viu em Nova Iorque, oacordo dizia que qualquer uma daspartes podia ainda <strong>de</strong>sistir. Ninguémo fez. Gonçalo FrotaPolly Jean HarveyLet England ShakeUniversalmmmmmPolly JeanHarvey:uma gran<strong>de</strong><strong>se</strong>nhora,um gran<strong>de</strong>discoWarpaint: um cruzamento entre shoegazinge pop feérica, com um ligeiro travo pós anos 90Depois <strong>de</strong> ler o“Ulis<strong>se</strong>s” <strong>de</strong>James Joyce, oescritor francêsAndré Gi<strong>de</strong> nãoencontroumelhor forma <strong>de</strong> elogiar o maisconhecido bêbedo irlandês com umproblema <strong>de</strong> literatura que dizer queuma coisa é inovar quando mal <strong>se</strong>saiu dos cueiros, outra é fazê-loquando a ida<strong>de</strong> já avançou. É nessaaltura, quando já há uma reputação amanter, quando o sofá já nos conheceas curvas e não apetece nada que noscortem a luz, é aí que ten<strong>de</strong>mos aaproveitar o prestígio, a amolecer. Osmelhores, claro, são os que nunca ofazem, que dizem “É só mais umavez”. Polly Jean Harvey pareciairremediavelmente perdida para olado mais fácil e imediato da músicapopular quando no último disco,“White Chalk”, resolveu voltar aconcentrar-<strong>se</strong> na música. Mas nada,nem todas as as<strong>som</strong>brações <strong>de</strong>s<strong>se</strong>disco, faziam prever coisa assim: não<strong>se</strong> trata <strong>de</strong> “Let Engalnd Shake” reinventaruma Inglaterra imaginária,pilhada e ensanguentada, a saque e<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, antes <strong>de</strong> ela inventar um<strong>som</strong> que repre<strong>se</strong>nte essa espécie <strong>de</strong><strong>de</strong>cadência global que nos envolve,<strong>de</strong> transformar um <strong>som</strong> numa bandasonorapara a falta <strong>de</strong> rumo, para otropeção. E fá-lo <strong>se</strong>m fugir ao registocanção, usando apenas pequenostruques: os coros ao lado e asharmonias cruzadas nas magníficas“The words that maketh murther” e“The colour of the earth”, a linha <strong>de</strong>xilofone na faixa-título, os metaissonolentos em “The last living ro<strong>se</strong>”.Fá-lo recorrendo a ritmos <strong>de</strong> marchamilitar, a mellotrons e a harpas e,mais que tudo, retirando o fulcro àscanções, <strong>de</strong>ixando-as tropeçar,retirando as ré<strong>de</strong>as aos instrumentos(que por vezes parecem estar àprocura do <strong>se</strong>u lugar na canção),libertando a voz (que <strong>se</strong> entrega amutações teatrais por todo o disco).Cada uma <strong>de</strong>stas canções podia terresultado aborrecida tives<strong>se</strong> a<strong>se</strong>nhora Harvey <strong>de</strong>cidido poli-las emexcesso, domá-las. Assim, é como <strong>se</strong>ela tives<strong>se</strong> olhado para cada uma<strong>de</strong>las e, achando-as <strong>de</strong>masiadocompostas, as tives<strong>se</strong> colocado numainfusão da mais antiga folk inglesa, e<strong>de</strong>pois partido cada uma e dado oscacos aos sobrinhos para colar.Apostamos nisto: <strong>se</strong> forem à página<strong>de</strong> Polly Jean Harvey no Facebook, nopost <strong>de</strong>dicado ao novo disco há-d<strong>ele</strong>r-<strong>se</strong> assim: Kurt Weill, Tom Waits,Scott Walker e muitos outros gostamdisto. Tudo boa gente a prestarhomenagem a uma gran<strong>de</strong> <strong>se</strong>nhora, aum gran<strong>de</strong> disco. João Bonifácio32 • Sexta-feira 11 Fevereiro <strong>2011</strong> • Ípsilon

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!