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Edição integral - Adusp

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Março 2009um tempo, conta Freire, vinha o leitee a conversa com o companheiro.Entre os prisioneiros, a conversaera como uma celebração.Um episódio marcante foi a noitedo assassinato de Carlos Marighella.Segundo o relato de Freire,o delegado Raul Ferreira desceuas escadas carregando fotografias,uma bíblia, uma estola nas mãos.À frente da cela 2, o delegado, cujoapelido era “Pudim”, começou acantar: “Olê, olá! Marighella se f.foi no jantar!”. Ofendidos, os presosnão aceitaram a notícia da mortedo veterano militante comunista,líder do grupo armado clandestinoAção Libertadora Nacional (ALN).“A gente não acreditou e ele mostrouas fotos do Marighella morto”,deslinda Freire. Rindo, o delegadoseguiu pelos corredores do Deopsexibindo as fotografias e cantando.Na contrapartida dessa tentativa dedesmoralização, os presos cantarama Internacional Comunista.Em entrevista, Freire, que chegouao Deops em 6 de julho de 1969,relembra outros aspectos da cotidiano:“Durante a semana, de segundaa sexta, nós subiamos para ser interrogadose torturados. Vários companheiros.Toda vez que alguém estavalá em cima, aqui em baixo tinha umsilêncio sepulcral, porque a gentenão sabia o que estava acontecendocom esse companheiro, não sabia seele voltaria. Nesse período você nãoexistia legalmente, não existia mandadojudicial. Nesse período muitoscompanheiros desapareceram parasempre”.Freire, que assessorou a reconstituição,destaca a importância daexistência do Memorial: “O antigoAlípio Freire revê o localDeops, hoje Memorial da Resistência,nome absolutamente adequado,é apenas um importantíssimo passo,o projeto é maior do que está aí.Temos que ir em frente. Devemosnos apropriar de todos os espaçosde memória deste país, não só deSão Paulo. Porque foram muitoscentros de tortura e eles vão demolindo.Demoliram o quartel ondefuncionava a Oban e o Presídio Tiradentes”.Sérgio Gomes, jornalista que ficoupreso no Deops em 1975, reclamada inexistência de um memorialnão só para lembrar as agrurasdo regime, mas também das idéiaspolíticas que pautavam a ação dosgrupos e indivíduos perseguidosdurante a Ditadura. Segundo ele,faltam iniciativas da parte dos própriosmilitantes do Direito à Memória,à Verdade e à Justiça paraque os projetos políticos dos prisioneirosda época ganhem fôlego nosdias de hoje tal e qual as históriasde repressão.Revista <strong>Adusp</strong>Anderson BarbosaO projeto do Memorial começoua ser implantado em maio de2008 e foca desde as ações educativase culturais até a disseminaçãode estudos e pesquisas científicassobre o Deops. Ele abriga tambémum Centro de Referência Bibliográficae de Bens Patrimoniais queexpõe objetos retirados de inquéritos,bem como reproduções defichas de presos políticos que constamdos registros do Deops e hojeestão em posse do Arquivo Públicodo Estado de São Paulo. O trabalhode pesquisa fica por conta doProin, um projeto que integra aUniversidade de São Paulo e o ArquivoPúblico do Estado, que existehá 12 anos e hoje já permite aconsulta parcial de fichas do Deopspela internet. O projeto do Memorialda Resistência é de autoria dasprofessoras Maria Cristina OliveiraBruno, do Museu de Arqueologiae Etnologia da USP, e Maria LuizaTucci Carneiro, do Departamentode História da FFLCH-USP.18

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