Março 200930pido, porque não há reconciliação sese interrompe este processo dizendo,por exemplo, que não há mais o quefazer com 140 corpos de brasileiros ebrasileiras que foram mortos pela repressãopolítica do regime militar.O Estado tem condição de organizaruma busca que não necessariamenteresultará na localização dos140 restos mortais, porque pode serque alguns tenham sido jogados nomar, ou no meio da selva amazônica,mas há abundantes registros de militantesde direitos humanos, organizações,jornalistas, que sem parar vãoapresentando depoimentos de participantesdos órgãos de repressão,dando locais de sepultamento. O governoLula certamente realizará umaexpedição consistente para atender aessa exigência. Qualquer processo dereconciliação nacional tem que passarpor cicatrizes como esta.Então foi importante o lançamentopúblico no Palácio do Planalto,com o Presidente da República presidindoesse ato, com vários ministros,e com um discurso, inclusive omeu, de mostrar que aquilo não eraum evento de clivagem, de oposiçãoàs Forças Armadas, pelo contrário,numa democracia os cidadãos têmde ter respeito pelas suas Forças Armadas.A exigência dessa abertura deinformações, localização dos corpos,é que correspondia à real defesa dasForças Armadas numa democracia, enão a atitude corporativista de “nãosabemos, não temos informações, osarquivos foram destruídos”.A partir do livro prosseguimos notrabalho, que é planejado para crescer.A idéia é de começar pequeno etomar corpo com o tempo, e eu planejoisso numa perspectiva transmandatos,não é um processo só para governoLula. Então fomos começando,com pequenos painéis em acrílico, emmetal, homenageando [militantes daoposição à Ditadura], e já temos agoraum planejamento para 2009, 2010,digamos, tentando um por mês, espalhadospelo Brasil, já fizemos umadúzia, não sei quantos, e o Brasil podeter uma experiência comparável às ruasde Paris, onde é muito comum vernas esquinas uma placa registrando:“Aqui neste local os estudantes tal e“A exigência de aberturade informações,localização dos corpos,é que corresponde àreal defesa das ForçasArmadas numademocracia, e não aatitude corporativista de‘não sabemos, não temosinformações, os arquivosforam destruídos’”tal foram mortos num enfrentamentocom uma brigada nazista durante aocupação”. A Itália também tem isto.Então o Brasil... é uma guerra de dimensãoincomparavelmente menor,o número de mortos e desaparecidoscontabilizado é em torno de 400, e nãopassará de 500, se conseguirmos umdia fazer um estudo sistemático sobreos camponeses mortos em 1º de abrilde 1964, sobretudo em Pernambuco,Paraíba, onde as Ligas Camponesasenfrentavam diretamente o latifúndio.Revista <strong>Adusp</strong>Este trabalho começou a tomarvulto, os movimentos de familiarestambém são, por um lado, os grandesprotagonistas, o mérito maiordesse debate está nessa tenacidade,resistência, capacidade de se manterarticulado. Mas também vivia ummomento de desalento. Revigorou-senestes últimos dois anos. Além dasduas ações judiciais que você referiu,precisa acrescentar uma sentença deuma ação na Justiça Federal iniciadaem 1982 por algumas dezenas defamílias, que em 2003 já teve umasentença da juíza Solange Salgado,que determinava basicamente umprazo para localização dos corpos, noAraguaia, em números arredondadosalgo na faixa de 70 corpos, que seusfamiliares ainda não tiveram esse direitomilenar, sagrado, antropológico,de prantear e sepultar, fazer ofuneral. E também determinava aabertura de toda a documentação, asinformações sobre isso.Em 2003, no início do governoLula, quando esta sentença foi exarada,o governo federal através daAGU decidiu recorrer da sentença,e isso gerou críticas muito bem fundadas,do círculo de familiares e demilitantes dos direitos humanos. Opresidente Lula respondeu a essascríticas legítimas com a criação deuma Comissão Interministerial sobreo Araguaia, que o secretário de DireitosHumanos integrava — eu nãoestava no governo ainda, era meuantecessor. Quando assumi o cargo,percebi que esta Comissão praticamentenão tinha cumprido a sua determinação,e consegui pressionar osdemais integrantes, concluímos em 8de março de 2007 um relatório quefoi apresentado ao presidente Lula,
Revista <strong>Adusp</strong> Março 2009“Ministério da Defesa precisa se consolidar”com recomendações que no fundoreforçam as determinações da juízaSolange Salgado.Então houve uma grande perdade tempo, mas entre a decisão derecorrer, em 2003, e março de 2007,quatro anos de intervalo, se recuperao ponto de partida. O Presidente,quando recebeu [o relatório] dasminhas mãos, junto com a ministraDilma, manifestou a intenção de,em seguida, fazer uma reunião comos três chefes militares, para fazer oencaminhamento naqueles termos.Semanas, no máximo um mêsdepois, o ministro Jobim assume aDefesa e avoca esta responsabilidade,e recomenda que ele tivesse umtempo, como ministro recém-empossado,primeiro para contornar a“crise aérea”, que eraum problema agudo daconjuntura, em seguidapara ele fazer a discussão[com as ForçasArmadas]. É a pessoaadequada para isso, nosentido de que a Lei9.140 tinha sido feitapor ele, como ministroda Justiça de FernandoHenrique Cardoso, tendocomo chefe de gabineteJosé Gregori, quefoi o arquiteto da lei.Por último, existeum procedimento internacional,da OEA,que teve início, eu diria,em 1999, e acabade ter seu relatório demérito, em 30 de outubrode 2008. E no dia19 de novembro o embaixadorjunto à OEArecebeu formalmente, e o prazo é de60 dias, o que é muito desfavorável(19 de janeiro), então é praxe se pedirmais um mês, dois meses de prazo.Este relatório termina com seterecomendações: que a Lei de Anistianão continue sendo obstáculo àapuração e responsabilização penaldos responsáveis pela violação dedireitos humanos; e, quanto ao Araguaia,seis recomendações na linhade proceder à reparação indenizatória,à reparação simbólica, localizaros corpos, abrir todos os arquivos.Existem também o procedimentodo MPF, as duas ações, das famíliasMerlino e Teles, e recentemente umgrupo de deputados federais visitou oProcurador Geral da República, paraque faça o procedimento devido paraum torturador de Minas Gerais, doDOI-CODI, Marcelo Paixão Araújo,que numa [revista] Veja, de 1998 possivelmente,fez a declaração: “Eu matei,eu torturei, quem disser que nãohouve tortura está mentindo” etc.Por onde tenho ido, nesses eventos,tenho registrado que essa pressão terámais êxito se corresponder a umainteração de atores diferentes. O atorsociedade civil: movimentos, TorturaNunca Mais, Fórum de Ex-Presos,com a sua pressão, como a bela manifestaçãopública em Brasília, debaixode chuva, um passo adiante queo Brasil não tinha feito ainda: bannersde mais de um metro, com fotosdos mortos, com sinais evidentes dascondições em que foram mortos. Ogoverno tem de agir através da atuaçãoda SEDH, Ministério da Justiçae vários outros ministros que estãosolidários, enfrentando a divergênciainterna que se tornou pública.E a OAB também entrou no SupremoTribunal Federal com Arguiçãode Descumprimento de Preceito Fundamental(ADPF). Na minha estratégiaeu deixaria para mais tarde. Deixaa sociedade civil pressionar mais,deixa o Judiciário ferver mais, deixa ogoverno federal avançar mais, porquese o Supremo, provocado agora, respondernegativamente, agora tem asúmula vinculante, nós poderemos terum problemão. Que não vai acabarcom o assunto, mas cria uma grandebarreira ao procedimento judicial.Revista <strong>Adusp</strong>- Ministro, deixemefazer uma ponderação. É verdadeque houve mais provocação naArgentina e no Chile da parte dosfamiliares etc. Mas também houveuma intervenção importante do presidenteKirchner no sentido de re-31
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