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Edição integral - Adusp

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Revista <strong>Adusp</strong>Março 2009Samuel Pessoa sob o crivoda Fundação RockefellerO suposto “desvio ideológico”de Samuel Pessoa já fora notadopela Fundação Rockefeller, da qualo médico foi bolsista. Luiz Antoniode Castro Santos pesquisou, no RockefellerArchive Center, as fichasde acompanhamento dos bolsistas.“Talvez a mais insólita das anotaçõespertença ao perfil do parasitologistaSamuel Pessoa”, comenta,no prefácio do livro Norte-americanosno Brasil: Uma história daFundação Rockefeller na Universidadede São Paulo (1934-1952), deMaria Gabriela Marinho.Os primeiros registros, nosanos 1920, elogiavam o desenvolvimentoacadêmico do médico.Paralelamente ao acirramento daGuerra Fria, porém, as consideraçõesmudam de tom: Pessoa estariaatuando, ao mesmo tempo,como professor e “doutrinadorsubversivo”. Seus assistentes estariam“provavelmente recebendosubsídios além de seus saláriosnormais”, supostamente para realizarproselitismo político.Pesava contra o médico sua filiaçãoao antigo Partido Comunistado Brasil: em 1945, candidatou-se adeputado federal pelo então PCB.Sua visita à China comunista, nosanos 1950, confirmaria as suspeitas.Ainda que tenha viajado comomembro de uma comissão científica,aos olhos da Fundação Rockefellerele “prostituiu” sua “indiscutívelcompetência científica”.Em um discurso na UniversidadeFederal da Bahia, já em 1962,Pessoa denunciaria o que, ao seuver, era um dos objetivos do imperialismonorte-americano: “transformaro estudante brasileiro emum ‘técnico’, desligado do mundoem que vive, tal como se passa como estudante norte-americano”.Depois que deixou a USP, o assédiocontra Pessoa seria mantidopor longos anos: a última investida,segundo Luiz Hildebrando, veioem 1976, quando, aos 77 anos deidade, foi levado encapuzado à sededo DOI-CODI, na rua Tutóia, esubmetido a interrogatório. Morreriaum ano depois. Sua mulher, JovinaPessoa, engajada politicamentedesde jovem, adentraria os anos1980, já idosa, saindo às ruas paradenunciar as atrocidades das ditadurasdo Cone Sul, como membrodo Comitê Feminino pela Anistia.trotskista. Maack, que lembrou oepisódio durante a homenagem naFMUSP, acabou preso no mesmoano, depois de ter sua casa invadida.Exilou-se nos EUA, após setemeses aprisionado no navio-presídioRaul Soares, em Santos — noqual também foi confinado LuizHildebrando, que se exilou em Paris,onde se tornou pesquisadordo Instituto Pasteur (e, filiado aoPCB, atuou no Comitê Brasileirode Anistia de Paris).Ao lado desses e de outros professorescom trajetória de militânciapolítica, figuravam na lista de perseguidosalguns que não expressavamoposição direta ao regime fora doâmbito acadêmico, e outros aindaque sequer poderiam ser consideradosde esquerda. O “indesejável”traço que os unia, identifica Maack,era a defesa da reforma universitáriae do papel social da universidade.Carvalho da Silva, por exemplo,não desempenhou atividade político-partidária.“Mas em política universitáriafoi muito ativo”, lembraMalnic, que foi seu orientando nodoutorado, “tanto assim que fundoua Associação dos Auxiliares deEnsino, que anos mais tarde dariaorigem à <strong>Adusp</strong>”. As reivindicaçõesdos professores reunidos na associaçãogiravam em torno de melhoriasna carreira (como tempo <strong>integral</strong> eaumento salarial) e, especialmente,da extinção da cátedra vitalícia. “Sóo catedrático tinha um posto fixona universidade. O resto, se brigavacom o catedrático, era mandado embora”,recorda Malnic.As disputas internas à USP, muitasligadas à obtenção de cátedras,convergiriam com as práticas de delaçãoengendradas pelo golpe. Em1978, a publicação da <strong>Adusp</strong> O livronegro da USP apresentou provas daatuação do conservadorismo internoem perseguições políticas (estaobra foi relançada em 2004 sob o65

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