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96 > BEST BAIRRO BRANDS www.interbrandsp.com.br> CRÔNICA | PABLO SABORIDO 97Boa vizinhançaCRÔNICA E FOTOS | POR PABLO SABORIDOIbrahim, dono do Al SoltanMarcelo, da Mercearia Man BokCheiro de bolacha entrando pelo narize por todos os neurônios. É o que vocêsente quando chega ao Pari pelo meucaminho tradicional, descendo nometrô Armênia. Se for um domingo,logo depois desse cheiro você entraem uma feira que o faz esquecerSão Paulo e o coloca na Bolívia.Essa feira, nesse lugar, deixa claroque nesse bairro tem uma grandecolônia boliviana. Cabeleireiros, comdesenhos feitos à mão que ilustramos cortes de cabelo. Alguns comálbuns de fotos de festas popularesonde você se procura. Barracas deempanadas e pratos típicos. Isso é só aentrada do bairro do Pari.Por trás de tudo isso se encontra umacomunidade muito mais low profile.A dos coreanos. Os maiores símbolosdeles no bairro são imensas igrejascoreanas cristãs – talvez evangélicas,não sei. Elas convivem tranquilamentecom as mesquitas dos libaneses.O Pari conseguiu, em cem metros,uma sensação de harmonia que ahumanidade não atingiu em séculos.Dentro desse contexto, descobrilugares maravilhosos para comer. Souatendido pelos frequentadores dasmesquitas, da feira boliviana e dasigrejas coreanas.Existe um mercado coreano comuma diversidade de produtosdesconhecidos para mim. Coisas paracozinhar, preparar chás e utensíliospara o lar que são maravilhosos. Tematé pantufas ortopédicas. Panelasde cerâmica e bebidas alcoólicasindecifráveis. Foi um desafio podercircular livremente dentro dessemercado. O proprietário cada vezme perguntava o que eu estavaprocurando. Tive de comprar umainfinidade de chás, tipos de melestranhos e quilos e quilos de bolachade gergelim para ele ficar à vontadecom minha presença. Num dessesdias, fui pagar e, na hora que abri acarteira, ele viu aparecer timidamentemeu RNE, Registo Nacional deEstrangeiro.Pela primeira vez ele me fezuma pergunta.“Você é estrangeiro também?”E eu respondi “sim, sou da Argentina”.Eu já tinha percebido que ele tinha umsotaque hispano e perguntei: “Você jámorou em um país hispano?”.Ele respondeu: “En realidad, yo soyporteño”.**No canto mais escondido do Pariexiste uma família coreana argentinaque migrou para o Brasil há mais deuma década e preserva tradiçõesfamiliares com o leve sotaque deBuenos Aires. O pai do Marcelo, ElPorteño, não fala português nemespanhol. Mas com senhas egestos simpáticos explica para queserve cada produto do mercado.Trazendo consigo tradições e hábitoscoreanos que não podem nemdevem ser esquecidos.Eu fui mais dez vezes ao mercado paratentar conhecer o coreano. E aí eleera meu conterrâneo.**Na hora que eu entro em lugarescomo esse mercado ou como osrestaurantes do bairro, eu sintoque não estou simplesmentecomprando algo ou experimentandouma receita. Eu estou vivenciandouma tradição familiar, um atosocial de confraternização e decompartilhamento de culturas.Tem também o Ibrahim, dono doAl Soltan. Ele é cristão, mas norestaurante dele não se serve álcool.Grande parte da comunidade libanesaque frequenta o lugar é muçulmana,e por respeito a eles não é possívelconsumir bebidas ali.A tolerância do Pari é um fragmentoda grande virtude que eu vejo nacidade que escolhi como minha.“O PARICONSEGUIUEM CEMMETROSO QUE AHUMANIDADENÃOATINGIU EMSÉCULOS”Pablo Saborido, fotógrafo, é argentino daPatagônia e virou paulistano por amor àcidade. Ele é um dos autores do Guia SanPablo, “o melhor guia de restaurantes domundo”, que está em sua terceira edição.Já falou de casas latinas no centro, doslugares secretos do Pari e do Kintarô, umbar japonês na Liberdade cujos donos sãolutadores de sumô.

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