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Empresas da região não encontram trabalhadores - Jornal de Leiria

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14 | 1 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2005 | SOCIEDADE | ENTREVISTA | JORNAL DE LEIRIA |Jaime Rocha, dramaturgo,poeta e escritor“O portuguêstem muitadificul<strong>da</strong><strong>de</strong>em aceitara crítica”“A mulher portuguesa é sóli<strong>da</strong> equando está no po<strong>de</strong>r é maisimpositiva, sabe o que quer e luta poresses objectivos. Lembro-me <strong>da</strong> minhamãe e <strong>da</strong> visão prática que ela tinha. E<strong>de</strong> outra gran<strong>de</strong> mulher, Maria <strong>de</strong>Lur<strong>de</strong>s Pintassilgo, que esteve no po<strong>de</strong>rcompletamente atira<strong>da</strong> aos bichos.Natália Correia era uma força”Como dramaturgo, já recebeudiversos prémios. Sente-se recompensado?Não sou muito conhecido, nemme sinto realizado, mas não mequeixo. Como autor português,tenho sido representado, premiadoe os livros têm sido editados.Não edito mais teatro porque nãoposso castigar o editor. Não é comoantes que se liam os textos <strong>de</strong> Sartreou Camus, porque a censuranão <strong>de</strong>ixava representá-los. Hojeas pessoas preferem ir ao teatroque ler o livro. A seguir ao jornalismo,o teatro é a coisa maisefémera. O jornalismo é tão efémeroque já me fazia aflição arepetição <strong>da</strong>s reportagens, ao longo<strong>de</strong> 30 anos. Embora no dia-adianão consiga viver sem jornais.Antes <strong>de</strong> comprar o jornal, pareceque ando perdido. O jornalismotambém tem essa força dopeso <strong>da</strong> informação.Como relaciona jornalismocom criação literária?Sempre vivi nessa contradição.Posição um poucodiferente <strong>de</strong> outros escritoresque acham que étudo a mesma coisa. A minhaliteratura está muito liga<strong>da</strong> àtransformação do real, à imaginaçãoe à ficção, enquantoque o jornalismo é o oposto.Sempre tive estas duas facetase <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> doisnomes. Acho que o jornalismonão me <strong>de</strong>ixava espaço para serescritor. E como nunca me quismeter em bicos dos pés, fui apagandoesse outro lado, até sairdo Público, há três anos.Mário Soarestambém é umindivíduo cultomas, do ponto <strong>de</strong>vista político, é umbocado aldrabão. Éuma raposa velhaGRAÇA MENITRAPorquê o pseudónimo JaimeRocha?Des<strong>de</strong> a adolescência que tinhao mito do poeta, confesso. Imaginavaque <strong>de</strong>via ser <strong>de</strong>sconhecido.O meu primeiro livro saiu com onome <strong>de</strong> Sousa Fernando porquesou Rui Fernando Ferreira e Sousa.Depois, no República, antes <strong>de</strong>ir para França, além do Juvenil, fizcrítica <strong>de</strong> cinema e assinava Rui <strong>de</strong>Sousa Fernando. Aquilo baralhavamuito. Para o segundo livro,comecei a pensar que a minha mãee avó se chamavam Rocha, apelidoque tinha perdido. E no meucrescimento, a linha que mais memarcou, sob o ponto <strong>de</strong> vista literário,foi a dos Rochas. Tinha quea recuperar. Jaime é uma homenagema Jaime Correia, pai <strong>da</strong> HéliaCorreia, que morreu quando elatinha 14 anos. Conheci a Hélia com20 anos, na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ela tambémescrevia para o Juvenil e <strong>de</strong>pois,com o an<strong>da</strong>r do tempo e com anossa ligação, achei que <strong>de</strong>via homenagearo pai, que foi um gran<strong>de</strong>resistente antifascista <strong>de</strong> Mafra eque morreu doente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sair<strong>da</strong> prisão. Achei que fazia sentidojuntar o Jaime ao Rocha.Refugiou-se em Paris para fugirà guerra colonial?Sim, era um contestatário <strong>da</strong>guerra mas não estava ligado aqualquer partido, nem era alinhadopoliticamente. Venho <strong>da</strong> linhados hippies, contra a guerra doVietname. Era contra a violênciae o regime, mas <strong>de</strong> forma isola<strong>da</strong>.Tinha gran<strong>de</strong> influência dos surrealistase dos “poetas malditos”ou marginais e na cabeça uma série<strong>de</strong> contradições estéticas e políticas.Como era estu<strong>da</strong>nte universitárioe tinha a licença <strong>de</strong> Verão doMinistério do Exército, <strong>de</strong>ixei duasca<strong>de</strong>iras para Outubro, para justificara volta. Só que fui e não voltei.Em Paris, matriculei-me numaescola e consegui a licença <strong>de</strong> estadia.Trabalhei como recepcionistanum hotel, “sem papéis”, e ia escrevendopoesia. E participei comvários artistas portugueses, entreeles o pintor <strong>de</strong> Torres Novas, AlexandreSal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama, quehoje vive em Bruxelas, e com outrosamigos e poetas franceses, numarevista que se chamava “Le cannail”(o canalha).A palavra “impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>” éa que mais gosta <strong>de</strong> usar quandoescreve. Porquê?A impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> tem-me atravessadoao longo dos anos. Impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> viver em Portugal eter <strong>de</strong> fugir para França. Impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> revolução do 25 <strong>de</strong> Abrilse construir. Impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> paze <strong>de</strong> levar as paixões até ao fim.Impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever coisasperfeitas, não no sentido profissional,mas porque há sempre maisqualquer coisa. A i<strong>de</strong>ia que tenhoé <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construiro mundo. Porque as pessoas nãoquerem, não po<strong>de</strong>m, porque o egoísmoé mais forte. O português temmuita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em aceitar a crítica,o que o leva imediatamente a<strong>de</strong>sistir. É um pouco mimado pelamãe e pelo pai. Sempre andámosnuma ponte <strong>de</strong> tristeza e auto-comiseração.É isto que alimenta a nossai<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.De que forma reflecte no palcoo quotidiano <strong>da</strong>s pessoas?Centrando-me nas últimas trêspeças: “A Casa <strong>de</strong> Pássaros”, leva<strong>da</strong>à cena por Carlos Avilez no TeatroExperimental <strong>de</strong> Cascais; “Ojogo <strong>da</strong> Salamandra”, feito na Comunapelo João Mota e encena<strong>da</strong> porCelso Cleto; e agora esta, “Homembranco, homem negro” (talvez amais política) e que tem a ver comemigração, racismo e preconceito,to<strong>da</strong>s têm a visão do real e tambémum lado absurdo. Gosto <strong>de</strong>agitar, levar as personagens ao limitee a <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>rem-se, a tirarempara fora to<strong>da</strong> a cruel<strong>da</strong><strong>de</strong>. É umteatro violento mas <strong>da</strong> palavra, porqueo que é mais cruel nas pessoassão as palavras. E o teatro, paramim, são as palavras ditas. Gostodo conflito interior do homem eaproveito o palco para mostrar oseu lado perverso.Como se situa politicamente?Ain<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ro que sou uma

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