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Empresas da região não encontram trabalhadores - Jornal de Leiria

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| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | ENTREVISTA |1 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2005 | 15pessoa <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> e gosto <strong>de</strong> marcarque sou a favor <strong>de</strong> que há esquer<strong>da</strong>e direita. Mas não estou emnenhum partido e muitas vezes nãovoto. E quando voto faço-o no candi<strong>da</strong>toque se aproxima mais doBloco <strong>de</strong> Esquer<strong>da</strong>. Nunca fui muitoapoiante <strong>de</strong>sta alternância querepete erros e intrigas. Se houveruma movimentação <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> partidos, lá estarei.Como não sou muito organizadore me <strong>de</strong>diquei mais ao teatroe à literatura... Num certo sentido,o meu teatro também intervém nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Como vê Mário Soares na candi<strong>da</strong>turaa Belém?O que vejo nele é a ausência <strong>de</strong>outros. Embora a i<strong>da</strong><strong>de</strong> não sejaum problema, às vezes, Mário Soaresain<strong>da</strong> é mais à esquer<strong>da</strong> que asgerações que vieram. Mas o meucandi<strong>da</strong>to, se tivesse <strong>de</strong> votar contrao Cavaco, seria o Manuel Alegre.Mário Soares também é umindivíduo culto mas, do ponto <strong>de</strong>vista político, é um bocado aldrabão.É uma raposa velha. Acho oManuel Alegre um indivíduo comética, com peito, afecto e emoções.Não é só um festivaleiro <strong>da</strong>s peixeiras,.É um bom escritor, óptimopoeta. O País precisa <strong>de</strong> qualquercoisa além do discurso económico.O nosso imaginário e culturaestão a ir por água abaixo, o quequer dizer que o lado auto-<strong>de</strong>strutivoe melancólico dos portuguesestem campo para germinar. Sampaiotenta empurrar o País, e vê-seque está a fazer um esforço. Masain<strong>da</strong> bem que faz esse papel.Acha que se houvesse maismulheres no po<strong>de</strong>r, seria diferente?Acho. As mulheres são maisinteligentes, no sentido do futuro.A mulher portuguesa é sóli<strong>da</strong> equando está no po<strong>de</strong>r é mais impositiva,sabe o que quer e luta poresses objectivos. Em vez <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rtempo com jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, vai duasou três horas resolver o problema<strong>da</strong> casa e dos filhos e <strong>de</strong>pois volta.O homem tem esta aprendizagemporque sempre esteve no po<strong>de</strong>r.Lembro-me <strong>da</strong> minha mãe e <strong>da</strong>visão prática que ela tinha. E <strong>de</strong>outra gran<strong>de</strong> mulher, Maria <strong>de</strong> Lur<strong>de</strong>sPintassilgo, que esteve no po<strong>de</strong>rcompletamente atira<strong>da</strong> aos bichos.Natália Correia era uma força. Escritorae dramaturga, tinha as farpasaponta<strong>da</strong>s para aquilo que há <strong>de</strong>pior na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: machismo, corrupção,preconceitos. Era umamulher fantástica.Qual a sua actual relação coma Nazaré?Durante muitos anos estive ligadoà Biblioteca Pública, <strong>da</strong> qual omeu pai foi um dos dirigentes, àfeira do livro e agora à fun<strong>da</strong>çãodo grupo <strong>de</strong> teatro Chaby Pinheiro.De Verão é que não gosto muito.A Nazaré sempre foi uma terra<strong>de</strong> jovens. Não sei como é quese fazem tantos filhos. Depois tema vantagem <strong>de</strong> ter aquela marginalque chama muita gente. Ain<strong>da</strong>hoje se quero encontrar-me comalguém digo: até logo, lá ao norteou lá ou sul. Os códigos mantêm-se,assim com o linguajar dosGRAÇA MENITRAnazarenos, o que já não se verificacom a roupa. Vemos as filhas<strong>da</strong>s peixeiras vesti<strong>da</strong>s como se estivessema passear no Chiado. Apresentam-seto<strong>da</strong>s pós-mo<strong>de</strong>rnistas,mas quando abrem a boca vê-selogo: são nazarenas. E eu gostodisso. Depois há as mais velhas queain<strong>da</strong> mostram o bor<strong>da</strong>do do avental.Estou para sempre ligado àNazaré, on<strong>de</strong> tenho a casa dos meuspais, já falecidos.E com <strong>Leiria</strong>?Os meus avós maternos viviamem <strong>Leiria</strong>, junto ao Mercado <strong>de</strong>PercursoSantana. Era o Carlos Ferreira, barbeiroe cabeleireiro, e a minha avó,Maria Rocha, filha <strong>de</strong> peixeira.Quando chegavam os carros <strong>de</strong>peixe a minha avó vinha à janelaou <strong>de</strong>scia e sabia logo as novi<strong>da</strong><strong>de</strong>spelas nazarenas. “À miga, sabesque aquela casou com aquele?”.Era como se o mercado estivessena Nazaré. O regatear: isso é fresco?É o meu neto. Ah! O filho <strong>da</strong>menina A<strong>de</strong>lina? Des<strong>de</strong> miúdo quelá ia passar um mês <strong>de</strong> Verão e osfins-<strong>de</strong>-semana. Era uma gran<strong>de</strong>festa, também porque via os meusirmãos mais velhos que estavamlá a estu<strong>da</strong>r no liceu. Com oito ounove anos, já ia com o meu irmãoao Colonial jogar bilhar. Sou dotempo em que <strong>Leiria</strong> parava no jardime numa igreja muito antiga.As ruas estreitinhas que iam <strong>da</strong>r àSé, o castelo, a esplana<strong>da</strong> <strong>da</strong>s arca<strong>da</strong>s.Gostava <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, até pelo contrastecom a Nazaré. Ia à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.Gostava muito <strong>de</strong>stes avós. Todosos dias, <strong>de</strong>pois jantar, ia passearJaime Rocha nasceu em 1949, na Nazaré. Estudou na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Letras <strong>de</strong> Lisboa e viveu em França nos últimos anos <strong>da</strong> ditadura. Vivehá 36 anos com a escritora Hélia Correia e exerceu a profissão <strong>de</strong> jornalistadurante cerca <strong>de</strong> 30 anos. Tem edita<strong>da</strong>s várias obras <strong>de</strong> poesia,ficção e teatro, algumas <strong>de</strong>las premia<strong>da</strong>s e mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena jáencena<strong>da</strong>s por grupos <strong>de</strong> teatro do País e também <strong>de</strong> Inglaterra. Amais recente é “Homem branco, homem negro”, em cena no TeatroAberto em Lisboa, com a qual ganhou, no ano passado, o Gran<strong>de</strong> Prémio<strong>de</strong> Teatro <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Autores. Aquando <strong>da</strong> reediçãodo seu livro <strong>de</strong> poesia “Do extermínio”, publicado em 2003,Eduardo Prado Coelho escreveu no suplemento literário do Público,“Mil Folhas”, que Jaime Rocha “é sem dúvi<strong>da</strong> um dos nomes maisimportantes <strong>da</strong> actual poesia portuguesa”. Recentemente, o grupo <strong>de</strong>teatro “O Bando”, que integra uma re<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong> teatros, escolheuJaime Rocha para representar Portugal no projecto “A Odisseia” <strong>de</strong>Homero. A obra foi dividi<strong>da</strong> em 14 partes e foram convi<strong>da</strong>dos 14 dramarturgoseuropeus para transpor o livro para os dias <strong>de</strong> hoje. A peçaestreou na Suiça e, na passa<strong>da</strong> sexta-feira, na se<strong>de</strong> do Bando, em Palmela.Os actores são <strong>de</strong> nove nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, incluindo a portuguesa,Susana Branco. O encenador, um austríaco, fez a colagem dos textos econstruiu um espectáculo. É um projecto que se chama Cultura 2000 eque tem a ver com o cruzamento <strong>de</strong> culturas e <strong>de</strong> línguas.com o meu avó ao Marachão, juntoao rio. Apanhava pirilampos equando chegava a casa ele faziameuma rábula, numa campânulacom sal. Fechava a luz e eu dizia:“pirilampo, pirilampo”!!!. Depoisacendia a luz e apareciam umasmoedinhas <strong>de</strong> um ou dois tostões<strong>de</strong>ntro do sal. Era muita magia paraum miúdo <strong>de</strong> cinco, seis anos.Durante a hora <strong>de</strong> expediente ganhava<strong>de</strong>z tostões por dia a aju<strong>da</strong>r omeu avô a pôr o algodão e os bigodinsnas cabeças <strong>da</strong>s senhoras.Depois escovava-as e <strong>da</strong>vam-mesempre mais uns tostões. O meuavô queria <strong>da</strong>r-me o sentido dotrabalho e a minha avó era o meulado mais cómico/trágico. Sempreconheci a minha avó <strong>de</strong> preto (omeu tio, com 25 anos, suicidou-sedo Sítio) e em momentos <strong>de</strong> choroíntimo. Mas também me lembro<strong>de</strong>la a <strong>de</strong>scascar legumes nacozinha. Não sabia ler, escreviacomo ouvia e fazia as contas parao meu avô ver no mármore <strong>da</strong> lareira.Era uma espécie <strong>de</strong> jogo do casal.Chamava-me e dizia: em vez <strong>de</strong>dois vamos pôr aqui três tostões.A diferença era para mim. O meuavô <strong>de</strong>pois dizia: hoje gastaste muito.“Ah não sabes o preço a que ascoisas estão”, respondia ela. Erauma espécie <strong>de</strong> teatro. Havia cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong>,como se eles fossem osactores e eu o espectador.O seu lado trágico vem-lhesobretudo do mar?Na poesia utilizo paisagens violentasque são o mar a bater nasrochas e a areia. Nunca a paisagemadocica<strong>da</strong> do pôr-do-sol. Nascinaquele mar violento e, <strong>da</strong> minhacasa, ouvia <strong>de</strong> noite aquele barulhoe tinha medo. A relação do pescadorcom o mar é tratá-lo comrespeito. Daí a imagem do leão.Depois sempre assisti à chega<strong>da</strong>dos pescadores. Era uma tragédiadiária, com as mulheres aos gritos,ajoelha<strong>da</strong>s, vira<strong>da</strong>s para a Senhora<strong>da</strong> Nazaré a prometer litros <strong>de</strong>azeite. As crianças entravam empânico e agarravam-se às saias <strong>da</strong>smães. Alguns barcos viravam quandochegavam à areia e os pescadores,como é sabido, não sabemna<strong>da</strong>r. Era um colectivo trágico queme impressionava muito. À medi<strong>da</strong>que chegavam os barcos, asmulheres corriam a abraçar os maridos.E então havia o lado masculino,com o homem a ralhar coma mulher e a mandá-la para a casa,em vez <strong>de</strong> estar ali a fazer figuras.Havia risos, lágrimas e festa. Asomar a isto, havia as cega<strong>da</strong>s noCarnaval, feitas só por homens,ensaia<strong>da</strong>s nas tabernas e apresenta<strong>da</strong>snos bailes <strong>de</strong> Carnaval. Eramsátiras à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local, e on<strong>de</strong> sesabiam coisas clan<strong>de</strong>stinas, às vezespor metáforas: o homem que fugiucom a outra, pequenas corrupçõesna Câmara ou o <strong>de</strong>saparecimento<strong>de</strong> uns can<strong>de</strong>eiros.“Tonho e as almas”, <strong>de</strong> 1984,é o seu primeiro romance. De quetrata?Quando o “<strong>Jornal</strong> Hoje” fechou,estive um ano na Nazaré e escreviesse livro com a personagem do“Tonho” (António). Em Portugalvaloriza-se muito o Zé Povinho eeu achei que <strong>de</strong>via colocar o “Tonho”numa situação <strong>de</strong> contestação ao<strong>de</strong>stino do pescador que vai ao marpara morrer. E que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> não ir,indo contra o olhar julgador dosoutros pescadores. Porque não irao mar é ser cobar<strong>de</strong>. O Tonho <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>só voltar ao mar se <strong>de</strong>scobriron<strong>de</strong> estão as almas dos seus antepassados,os naúfragos. Faz entãouma incursão, a partir do buracoque existe na capela do Sítio, juntoao promontório, do qual <strong>de</strong>s<strong>de</strong>miúdo sempre ouvi contar muitashistórias. O Tonho faz essa travessia,encontra o avô mas tambémo fra<strong>de</strong> que inventou o milagre <strong>de</strong>D. Fuas e assiste a um teatro dodiabo. Depois <strong>de</strong>ssas peripécias, opromontório transforma-se numdragão que abre a boca e expulsao Tonho para o mar. Este vem ana<strong>da</strong>r para terra mas já com umavisão fantástica e mo<strong>de</strong>rna <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,sobretudo porque encontrou a almados náufragos. ■Graça MenitraPerguntasdos outrosCândido Ferreira, encenadordo Teatro Chaby Pinheiro, NazaréO que pensa do facto <strong>de</strong> emPortugal a maioria dos actorese encenadores procuraremmais as temáticas dosautores clássicos e evitaremabor<strong>da</strong>r temas que inci<strong>da</strong>msobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> actual?À parti<strong>da</strong>, é por pensarem queo sucesso junto do público émaior, porque as peças já têmnome. A segun<strong>da</strong> razão po<strong>de</strong>ser porque se acha mais fácilter subsídios. E po<strong>de</strong> ser tambémpor uma questão <strong>de</strong> preconceito.Dá mais trabalhofazer uma peça sobre temasactuais. Pensando no espectrodo teatro contemporâneoportuguês, também ain<strong>da</strong> nãohá muitas peças, embora jáhaja diversas experiências,como Hél<strong>de</strong>r Costa <strong>da</strong> Barracaou Jorge Silva Melo, nosArtistas Unidos. Mas o futurodo teatro português, abertoe não planfetário, passa pelotratamento <strong>de</strong> temas quetenham a ver com as pessoas:a violência, a cruel<strong>da</strong><strong>de</strong>, a solidão,a amiza<strong>de</strong>.Cátia Ribeiro, actriz, <strong>Leiria</strong>/Lisboa“A meta é o esquecimento eeu cheguei antes. Esse pensamentoé do coronel Lawrencee <strong>de</strong> Almafuerte. A i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> que a meta do homem éo fracasso. O que fracassachega antes dos outros, que<strong>de</strong>morarão em tempo. Mastodos serão esquecidos”(JorgeLuís Borges)É a questão do sucesso e <strong>da</strong>fama. Para quê tanta guerra eluta pelo sucesso, quando omundo um dia vai <strong>de</strong>saparecer?Para quê esta angústia eansie<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando no horizonteo que há é o esquecimento?Luís Borges tinha essavisão do fim, tanto mais queera cego. Mas também pensava:já que cheguei antes,vou escrever, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<strong>de</strong> ser esquecido. ■

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