não conseguem acompanhar as exigências de disciplina, produção e eficiência <strong>do</strong>empreendimento.As exigências geram tensionamentos, reclamações e impasses. Acompatibilização das exigências de produtividade esgarçam o teci<strong>do</strong> relacional,geram dificuldades, inclusive, de participação nas reuniões coletivas, fóruns ondeas decisões importantes são tomadas. Assim, ouvem-se reclamações <strong>do</strong> tipo:“nós somos humanos, não devia ter tanta cobrança na produção” ou “na épocaque não tinha ASMARE, a gente era muito mais livre. Aqui, a gente tem queobedecer as normas, que nem firma” 133 . No entanto, como aponta o DiagnósticoParticipativo da ASMARE, os associa<strong>do</strong>s conseguem perceber que a Associaçãoconseguiu melhorar porque aumentou sua produção, apesar “disto ter afeta<strong>do</strong> oclima de trabalho, crian<strong>do</strong> mais tensão” (p.25). Um cata<strong>do</strong>r afirma que “...aASMARE, está 85% melhor que há três anos. Melhorou a administração. Antestinha uma briga por dia. Hoje, já tem advertências e o povo sente que tem querespeitar os outros” 134 .Segun<strong>do</strong> um cata<strong>do</strong>r <strong>do</strong> galpão da Itambé, os cata<strong>do</strong>res reclamam, mas “...narealidade eles não querem sair; eles falam que a ASMARE é ruim, mas é aqueledita<strong>do</strong>, só da boca pra fora, né? No fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> coração, ninguém quer sair. (...)Porque eles sabem das vantagens, nos depósitos as desvantagens sãomuitas...” 135 .O que se observa no cotidiano é que o associa<strong>do</strong> sabe, <strong>do</strong>mina o discurso daparticipação, mesmo que nem sempre o pratique. O não praticar a participaçãoestá associa<strong>do</strong> tanto ao “background” <strong>do</strong> associa<strong>do</strong>, quanto com as crescentesexigências de aumento da produtividade: “...a gente faz reunião prá discutir e elesfalam que não têm tempo e tem que descansar um pouco. (...) É a necessidade,porque o material caiu muito. Se o cata<strong>do</strong>r catava 2000 kilos, agora ele tem que133 Extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> Diagnóstico Participativo da ASMARE.134 Extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> Diagnóstico Participativo da ASMARE.135 Entrevista com Cláudio, 21/08/01.128
catar 3000, 4000 kilos para ele ganhar o que ganhava”. 136 Há tambémdificuldades quanto à participação que são relacionadas à uma certa visãoutilitarista da ASMARE por parte de alguns associa<strong>do</strong>s: “...tem muito cata<strong>do</strong>r queestá aqui agora, <strong>do</strong>s 356 sócios, que não viu a fundação da ASMARE, então eleacha que a ASMARE é uma empresa rica, e na verdade, não é. Tu<strong>do</strong> que ela fazé pra distribuir com nós no final <strong>do</strong> ano...” 137 . Um agente técnico, menciona,referin<strong>do</strong>-se à dificuldade em mobilizar alguns cata<strong>do</strong>res para o desfile decarnaval, que muitos perguntam “...a gente vai receber?” No entanto, o mesmoagente acrescenta, referin<strong>do</strong>-se à pre<strong>do</strong>minância de um “gostar de participar”entre os associa<strong>do</strong>s que “às vezes a gente escuta uma Taninha, dizer que tádesiludida com a ASMARE, mas mesmo assim participar com garra no desfile decarnaval” 138 .Apesar da existência das comissões de trabalho, “...na opinião de muitos, quemtrabalha mais é a comissão central, responsável pela distribuição <strong>do</strong> trabalho” 139 .Isto acaba sobrecarregan<strong>do</strong> os membros da Diretoria que se vêm com a duplatarefa, de combinar as atividades de liderança com o trabalho que lhes asseguraa sobrevivência. Um <strong>do</strong>s coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong> galpão da Curitiba fala dessasdificuldades: “...nós somos cata<strong>do</strong>res, né? Nós temos que dar conta da nossaprodução e preocupar com nossos ganhos e preocupar, também, com os ganhosde to<strong>do</strong>s. Essa é uma dificuldade que a gente passa. Outra é a participação dealguns sócios que pode ser mais efetiva, entenden<strong>do</strong> o que a gente está fazen<strong>do</strong>,o reconhecimento dessas pessoas é pouco” 140 . Como acrescenta outro membroda Diretoria:...prá ser diretor de uma associação <strong>do</strong> porte da nossa, tem que termuita consciência, tem que saber mesmo o que é a ASMARE etambém conseguir descobrir o outro, não visar lucro para si próprio.136 Entrevista Dona Geralda de 14/08/01.137 Entrevista Dona Geralda, 14/08/01.138 Entrevista com Cristiano Pena <strong>do</strong> Grupo teatral Cênica Balaiuô (10/08/01).139 Diagnóstico Participativo da ASMARE, p.26.140 Entrevista de Luiz Henrique, 21/08/01.129
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