2000). E a luta desse segmento teve como palco a cidade, que é ao mesmotempo, espaço de controle e <strong>do</strong>minação mas, também, um espaço de construçãode possibilidades. Possibilidades que começaram pela luta em torno <strong>do</strong>reconhecimento <strong>do</strong> direito ao trabalho como elemento fundamental na conquistada <strong>cidadania</strong>. Como bem expressou Dona Geralda, “...eu recebi cesta básica avida toda e isso não me fez cidadã 93 . A cesta básica, aqui representa a aceitaçãoda condição que separa a “comunidade de cidadãos” da companhia <strong>do</strong>sindigentes objeto, no máximo, da caridade alheia.E essa luta se constituiu em torno de toda uma linguagem “<strong>do</strong> direito a ter direitos”e da <strong>cidadania</strong>, representativas daquilo que vem sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> de “novosmovimentos sociais”, surgi<strong>do</strong>s no final da década de 80 e que <strong>do</strong>minará o cenário<strong>do</strong>s anos 90. Doimo (1995), registra que nos anos 70/80, as palavras-chave<strong>do</strong>minantes eram “educação popular” e “direitos humanos”, já nos anos 90“...passam a girar em torno da ecologia, da democratização, das diferençasinerentes à sociedade civil, da diversidade cultural e, enfim, <strong>do</strong>s direitos de<strong>cidadania</strong>” (p.209). A autora, reconstitui de forma detalhada como essa novaparticipação movimentalista contou com a “...própria institucionalidadeorganizativa, material e simbólica desta robusta instituição que é a IgrejaCatólica”. De fato, o surgimento da ASMARE está visceralmente associa<strong>do</strong> àmediação dessa instituição religiosa, como registram os cata<strong>do</strong>res históricos:“...através da pastoral de rua, a Cristina né, começou as reuniões nos espaçosonde nós selecionávamos...” ou “...antes de conhecer a Pastoral, na rua, naqueletempo, a gente não tinha segurança nenhuma”. Foi a Pastoral de Rua, quemprimeiro enxergou a dimensão <strong>do</strong> sofrimento vivi<strong>do</strong> pelo cata<strong>do</strong>r e quemproblematizou a relação que a sociedade e o poder público tinham com omesmo. Foi a partir <strong>do</strong> seu suporte inicial, que uma grande rede de solidariedadea esse segmento foi articulada nas esferas pública e privada.Trabalhos de campo em outras comunidades de cata<strong>do</strong>res, apontam para aexistência de diversos fatores limitantes da capacidade de organização dessesegmento, como por exemplo, a tendência de trabalhar de forma isolada, o baixo93 Depoimento público em 25/04/00.74
nível de relações de confiança e reciprocidade, entre outros. 94 Birkbeck, porexemplo, referin<strong>do</strong>-se ao processo de organização <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res de Cali afirmaque “it is clear that outside agencies are essential in maintaining this kind oforganization” (1978) 95 . A complexa organização <strong>do</strong>s zabbaleen 96 no Cairo étestemunha da importância de agências externas propulsoras da organizaçãodesse segmento. No caso em questão, o agente media<strong>do</strong>r externo que aju<strong>do</strong>u adeflagrar o processo não é uma instituição religiosa, mas sim uma firma deconsultoria, a Environmental Quality International, que associada a umaorganização comunitária de base conseguiu aglutinar parceiros como a FordFoundation, OXFAM, o Banco Mundial, a Comunidade Européia e the CatholicRelief Services, entre outros. Um outro caso também ilustrativo é o da cooperativade cata<strong>do</strong>res de São Paulo, a COOPAMARE, cuja gênese está associada à açãoda Organização de Auxílio Fraterno – OAF.Assim, a presença da Pastoral de Rua foi vital no processo de organização <strong>do</strong>scata<strong>do</strong>res da ASMARE. Ao trabalho da Pastoral veio se somar, anos mais tarde, aintervenção <strong>do</strong> Poder Público quan<strong>do</strong> em 1993 assume a ASMARE como parceiroprioritário <strong>do</strong> Projeto de Coleta Seletiva da SLU. Com essa política pública, aintervenção <strong>do</strong> governo local traz a representação social <strong>do</strong> cata<strong>do</strong>r comoimportante para a limpeza urbana, possibilitan<strong>do</strong> uma ressignificação <strong>do</strong> lugarocupa<strong>do</strong> por esse segmento no imaginário social da sociedade belorizontina. Ascaracterísticas fundantes dessa parceria são objeto de discussão <strong>do</strong> próximocapítulo.94 O que não quer dizer que inexista situações de solidariedade entre os mesmos.95 Tradução: É claro que agências externas são essenciais na manutenção desse tipo deorganização.96 Os zabbaleen, são cata<strong>do</strong>res de lixo cuja origem remonta aos camponeses que, na década de40, migraram para o Cairo, Egito, ten<strong>do</strong> posteriormente se mistura<strong>do</strong> aos wahi, homens <strong>do</strong>s oásis<strong>do</strong> deserto ocidental que tinham na coleta de lixo a sua fonte de sobrevivência. Os zabbaleenforam com o passar <strong>do</strong>s anos se aglutinan<strong>do</strong> numa área da periferia <strong>do</strong> Cairo, Mokattamconhecida por muitos como “uma visão <strong>do</strong> inferno de Dante”. Essa comunidade abriga cerca de20.000 cata<strong>do</strong>res viven<strong>do</strong> quase que exclusivamente das atividades relacionadas à catação delixo, cuja triagem durante décadas era feita em suas próprias casas. Ver, sobre os zabbaleen, aedição 3 da revista Education to fight Exclusion , da UNESCO, 1999.75
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