trabalho conjugada com as crises financeira, ideológica e filosófica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> deBem-estar Social”, já que neste país as referências de proteção próxima, família eterritório, foram substituídas pela “...proteção social secundária das açõespúblicas institucionalizadas, pelos direitos de <strong>cidadania</strong> relaciona<strong>do</strong>s com ainserção formal no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho” (p.146).Já no Brasil, o fenômeno adquire especificidades devi<strong>do</strong> à expansão e oaprofundamento de vulnerabilidades associadas à pobreza fruto <strong>do</strong> modelo dedesenvolvimento econômico implanta<strong>do</strong>. A família permaneceu como oprincipal suporte das relações sociais da classe trabalha<strong>do</strong>ra pobre,que nunca chegou a ser substituí<strong>do</strong> ou significativamentecomplementa<strong>do</strong> por ações públicas. A <strong>cidadania</strong> não foiuniversalizada e o merca<strong>do</strong> informal desempenhou um importantepapel como mecanismo de inserção. Nesse contexto, a pobrezaestrutural associada às intensas desigualdades sociais configuram oprincipal eixo de desvinculação (p.146-147).O fenômeno em nosso país está extremamente vincula<strong>do</strong> às questões dadesigualdade social e da pobreza. Nascimento, aponta para o fato de que osconceitos de desigualdade e pobreza são diferentes entre si e igualmentedistintos <strong>do</strong> de exclusão social. 91 Apesar <strong>do</strong> fato da pobreza e da desigualdadesociais serem elementos constantes na nossa história, o que diferenciaria ostempos atuais é “...a separação, pela crise <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, entre osmun<strong>do</strong>s da riqueza e da pobreza que se vai tornan<strong>do</strong> excluída”, o que se91 Segun<strong>do</strong> o autor, o conceito de desigualdade social refere-se à “...distribuição diferenciada,numa escala de mais a menos, das riquezas materiais e simbólicas produzidas por umadeterminada sociedade e apropriadas pelos seus participantes”. Pobreza, significa a “...situaçãoem que se encontram membros de uma determinada sociedade de despossuí<strong>do</strong>s de recursossuficientes para viver dignamente, ou que não têm as condições mínimas para suprir as suasnecessidades básicas”. O conceito de exclusão social estaria “...mais próximo, como oposição, <strong>do</strong>de coesão social ou, como sinal de ruptura, <strong>do</strong> de vínculo social. Por similitude, encontra-sepróximo, também, <strong>do</strong> conceito de estigma e mesmo, embora menos, <strong>do</strong> de desvio. Neste caso,entre outras, a diferença reside no fato de que o excluí<strong>do</strong> não necessita cometer nenhum ato detransgressão (...). A condição de excluí<strong>do</strong> lhe é imputada <strong>do</strong> exterior, sem que para tal tenhacontribuí<strong>do</strong> direta ou mesmo indiretamente” (2000:58-59). O autor, adverte ainda, que pobreza eexclusão são apenas aparentemente idênticas, não ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> no passa<strong>do</strong> uma relação tãoestreita entre os <strong>do</strong>is fenômenos.70
diferenciaria <strong>do</strong> elo orgânico, no passa<strong>do</strong>, existente entre os mun<strong>do</strong>s da riqueza eo da pobreza (Bursztyn, 2000:36).E ao perder os laços com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, as pessoas vão cada vez maisperden<strong>do</strong> os vínculos que os conectam à família, aos vizinhos, à proteção social ea si mesmos, num processo de desvinculação e rebaixamento social cada vezmaior. Ao serem desconecta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> oficial, passam quan<strong>do</strong> muito ahabitarem o mun<strong>do</strong> da caridade. Em países onde nunca houve um verdadeirowelfare state, a perda <strong>do</strong>s laços familiares assume uma dimensão dramática. Anova exclusão social, segun<strong>do</strong> Nascimento, se “...constrói num processo múltiplo,simultaneamente econômico (expulsão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho), cultural(representação específica de não-reconhecimento ou negação de direitos) esocial (ruptura de vínculos societários e, por vezes, comunitários)”. Essa novaexclusão, se constitui de grupos sociais que perderam qualquer função produtivaou inseri<strong>do</strong>s marginalmente no processo produtivo e que se tornam, assim, umpeso econômico para a sociedade e para os governos, sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>seconomicamente desnecessários e socialmente ameaça<strong>do</strong>res, ou seja a suarepresentação social é a de constituída por indivíduos que são perigosos(2000:68-69).Escorel, se pergunta se essa categoria de análise, exclusão, poderia ser aplicadaa uma sociedade, como a brasileira, que se pensa relacional e inclusiva. E afirma,ser a categoria pertinente em tal sociedade quan<strong>do</strong> a mesma é...abordada como um processo e não apenas em oposição àintegração social, pois as múltiplas formas em que se expressarevelam precisamente que seus elementos integrantes “não estãopolariza<strong>do</strong>s mas contraditoriamente combina<strong>do</strong>s” (Martins, J.S.,1993). A ‘combinação para<strong>do</strong>xal de formação e ruptura de vínculossociais possibilita compreender uma realidade que se apresentafragmentada (e não dualizada) envolven<strong>do</strong> diversas modalidades deprocessos de integração/exclusão social. A acentuação da exclusãosocial como um processo não lhe retira a característica de tambémdesignar um esta<strong>do</strong>, mas este coexiste e está conjuga<strong>do</strong> a diversasoutras situações de vulnerabilidade e fragilização de vínculos que71
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