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Gesta marial de um varão católico<br />
Como nasceu a arte da<br />
oratória em <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> - I<br />
Remontando às suas experiências de infância em torno da escolha<br />
entre as alegrias proporcionadas pelo embalo e os gáudios inerentes<br />
à serenidade, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos revela a fonte de onde emanaram suas<br />
qualidades de orador e escritor, as quais, utilizadas com prudência,<br />
serviram-lhe de importante e eficaz instrumento de apostolado.<br />
Antes de iniciarmos uma caminhada juntos, é<br />
prudente acertarmos bem os relógios. Assim,<br />
comecemos por nos entender a respeito da palavra<br />
embalo 1 .<br />
O gosto da velocidade e a perda<br />
da noção de finalidade<br />
Imaginemos alguém que esteja correndo a cavalo para<br />
levar uma mensagem muito importante, de uma cidade a<br />
outra, dentro de um determinado espaço de tempo. Tendo<br />
em vista o cumprimento do dever como, por exemplo,<br />
a realização de uma missão apostólica, a pessoa cavalga<br />
rapidamente. Em certo momento ela começa a ter sua<br />
atenção voltada não mais para a finalidade — a obra de<br />
apostolado —, mas para o gosto de correr a cavalo.<br />
Esse gosto toma apenas a periferia e não o íntimo da<br />
alma, e atinge sua sensibilidade mais baixa, embora legítima.<br />
E o espírito superficial considera aquilo uma delícia.<br />
De repente, quando se dá conta, a pessoa está no fundo<br />
de um precipício. Ela correu demais e o cavalo rolou<br />
abismo abaixo. Ambos estão quebrados e ela não sabe<br />
onde a mensagem foi parar. A finalidade foi prejudicada.<br />
A essa pessoa faltou prudência. O embalo levou-a à<br />
imprudência, e a imprudência, ao desastre.<br />
O que significa, na minha terminologia, a palavra embalo?<br />
No tempo em que aprendi a linguagem correntemente<br />
usada por mim, embalo indicava o gosto por um<br />
ritmo exagerado pelo qual o indivíduo perdia a noção da<br />
finalidade e o aspecto raciocinado da atividade, ficando<br />
entregue à mera fruição.<br />
Então, por exemplo, estaria na linha do embalo o caso<br />
de uma pessoa que começa a contar um caso e, para<br />
tornar a narração mais atraente, diz uma pequena mentira.<br />
E os ouvintes manifestam interesse: “Ah, foi assim?!”<br />
A pessoa, então, aumenta a mentira: “Não foi só assim,<br />
mas vou contar mais.” E, pelo embalo de causar cada<br />
vez mais admiração, ela acaba numa mentirada da<br />
qual não sabe sair. Embalo!<br />
Não há coisa que embale mais do que a megalice 2 . O<br />
indivíduo chega numa roda e dá ares de que é um grande<br />
senhor, e os outros lhe fazem uma reverência. Ele pensa:<br />
“Ah, bom! se eu posso de tal maneira montar neles, vou<br />
fazê-lo ainda mais.” E termina por delirar, ou seja, tomando<br />
ares em que ninguém mais pode acreditar. E dão<br />
gargalhadas dele, dizendo: “Olha o mega 3 !”<br />
Portanto, o embalo é um ritmo, uma ênfase determinada<br />
por um deleite superficial inebriante que se multiplica<br />
por si mesmo até chegar ao absurdo. É uma forma<br />
de prazer inteiramente diferente de outros gáudios ordenados.<br />
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