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A tal ponto que quando almocei na “Folha”, há algum<br />
tempo atrás, eu tinha diante de mim dois repórteres<br />
e, em certo momento, dirigi a palavra a eles. Um<br />
disse para o outro: “Olhe que curioso, ele fala exatamente<br />
como escreve!” Eu tive vontade de dizer: “Não,<br />
eu escrevo exatamente como falo.” Mas não quis dar a<br />
ideia de um beliscão, de uma réplica; fui cordial e deixei<br />
passar.<br />
Mas eu tenho consciência de que meus artigos, comparados<br />
aos artigos de outros jornalistas, entretanto<br />
eméritos, são mais conversados. E hoje me dou conta de<br />
que a conversa, pelo fato de ser muito dirigida e moldada<br />
para exprimir-se em termos atraentes para os outros, começava<br />
a derivar para conferência, e da conferência para<br />
o discurso, do discurso para o artigo e para o livro. Porque<br />
essas coisas se prendiam uma à outra e tinham na<br />
raiz a questão do embalo.<br />
Esse empenho de assim modelar a palavra para a conversa<br />
— mas entre dois meninos de 12, 13 anos; e que<br />
continuei mantendo até os 72 — se chama prudência,<br />
porque é a utilização das palavras tendo em vista os riscos<br />
e as vantagens de cada vocábulo, e o seu emprego<br />
orientado a um determinado fim.<br />
O desejo de me comunicar vinha já do tempo em que<br />
eu, sendo criança, subia na mesa da copa de casa e fazia<br />
discursos, dava aulas de Catecismo para os empregados<br />
etc. Quer dizer, havia uma tendência natural a falar,<br />
a me expandir, a me comunicar, que eu atribuo à procedência<br />
nordestina de meu pai.<br />
Essa tendência me levava a conversar com qualquer<br />
um, e eu falava muito. E a prudência consistia precisamente<br />
em modelar esse falar para atingir meu objetivo:<br />
influir para a vitória da Contra-Revolução.<br />
A Providência preparou-me e ajudou-me a exercer esse<br />
papel não só por alguma coisa que me deu, mas também<br />
por muito do que me recusou.<br />
v<br />
Continua no próximo número.<br />
(Extraído de conferência<br />
de 11/7/1981)<br />
1) Jovens discípulos de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> pedem-lhe que discorra sobre<br />
a relação existente entre oratória, embalo e prudência.<br />
2) Assim denominava <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> o defeito de quem se imagina<br />
superior, dotado de qualidades que não possui ou que exagera<br />
as qualidades que tem.<br />
3) O que tem megalice (ver nota anterior).<br />
4) Discurso feito por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no Congresso Eucarístico de<br />
1942, em São Paulo.<br />
5) “Folha de São Paulo”, diário de maior circulação no Brasil,<br />
para o qual <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> passou a escrever a partir de 1968.<br />
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