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Revista Dr Plinio 180

Março de 2013

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Dona Lucilia<br />

podiam-se ver os manacás floridos. Muitas vezes a viagem<br />

era feita de dia, e mamãe se punha em pé junto à janela<br />

do vagão e ficava sem conversar, extasiada, com os<br />

olhos fixos no panorama que se desenrolava.<br />

Com frequência se notava, de pontos muito altos da<br />

montanha, irromperem pedras que eram como “pães de<br />

açúcar”, e via-se um olho d’água, uma fonte a escorrer.<br />

Aquilo abria um rasgão dentro da floresta e a água descia<br />

como uma espécie de cortinado luminoso sobre a pedra,<br />

e naturalmente, chegando embaixo, seguia seu curso<br />

rumo ao mar. E mamãe gostava muito de ver isso.<br />

Quanto mais do alto cai a água, tanto mais ela tem<br />

energia e pureza para penetrar depois nas capilaridades<br />

das raízes das plantas no chão. De maneira que o muito<br />

elevado convida a entrar no profundo e, num certo<br />

sentido da palavra, no muito baixo. Esta ação da doçura<br />

quando vem do alto, os antigos entendiam bem. Mas<br />

a Revolução fez perder esta noção completamente, e a<br />

substituiu, quando muito, por uma forma comercializada<br />

de doçura.<br />

Elevadas cogitações<br />

Isso se sentia em Dona Lucilia. Tratando-se com ela<br />

percebia-se de que elevação procediam suas cogitações.<br />

Por exemplo, quando ela descia a serra, via-se que<br />

não era como alguém que simplesmente faz do panorama<br />

um hobby, mas uma pessoa que, sem comentar, pelo<br />

olhar, pela seriedade, pela forma sacral do entusiasmo<br />

etc., chegava a altas considerações, de grande repercussão<br />

afetiva, sobre a obra de Deus, a beleza daquilo em si,<br />

porque tinha isso intenso dentro da alma.<br />

E porque sua alma estava nesse píncaro, quando chegava<br />

a hora de tratar com um filho ou com outra pessoa,<br />

tanto mais aquela doçura era penetrante quanto mais alto<br />

o cume de onde procedia.<br />

Nos campos em que possuía autoridade como mãe,<br />

patroa, dona de casa ou irmã mais velha, Dona Lucilia tinha<br />

certa liderança para alguns efeitos e sempre se apresentava<br />

com uma autoridade definida e firme, mas exercendo-a<br />

com doçura. Via-se que, se fosse preciso, ela fecharia<br />

a questão, mas tinha certeza de que, na maior parte<br />

dos casos, onde não conseguia pela severidade, por<br />

meio da bondade ela moveria. E isso formava uma interpenetração<br />

que tornava delicioso o convívio com ela.<br />

Um sofisma revolucionário<br />

Na minha educação deparei-me com o sofisma revolucionário<br />

segundo o qual a autoridade é incompatível com<br />

a doçura, a elevação conduz ao desprezo e a fraternidade<br />

só se encontra no mundo da liberdade e da igualdade<br />

entendidas conforme os conceitos da Revolução Francesa.<br />

Para os defensores desta falsa concepção, aquela Revolução<br />

foi uma irrupção da doçura no mundo, depois da<br />

tirania dos reis e do desprezo dos nobres.<br />

No começo da Revolução Francesa, o Abbé Sieyès 1 ,<br />

deputado dos Estados Gerais, definia a ordem de coisas<br />

do Ancien Régime 2 como uma “cascata de desprezo” que<br />

descia dos reis para os príncipes até atingir o povo.<br />

Esta visão errada se difundiu e se impôs ao mundo.<br />

Por isso muita gente é favorável à Revolução e, em geral,<br />

contrária a toda autoridade que queira se afirmar, por<br />

maior que seja sua doçura. A crítica feita à autoridade<br />

vai nesse sentido: “Em você falta caridade, bondade, doçura!”.<br />

Portanto, mais ou menos da Revolução Francesa para<br />

cá, grande número de autoridades que recuam e não<br />

cumprem seu dever procedem assim pelo pavor de serem<br />

increpadas como não tendo doçura, como sendo<br />

orgulhosas, más etc. E muita gente simpática ao aparato<br />

do Ancien Régime, uma vez convencida de que aquele<br />

Um sofisma revolucionário<br />

segundo o qual a autoridade<br />

é incompatível com a doçura,<br />

a elevação conduz ao<br />

desprezo e a fraternidade<br />

só se encontra no mundo da<br />

liberdade e da igualdade<br />

Reparação feita a Luís XIV pelo Doge<br />

de Gênova Francesco Maria Lercari<br />

Imperiale - Castelo de Versailles, França<br />

Carolus<br />

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