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Dona Lucilia nas décadas de 1910, 1940 e 1960<br />
brilho todo redundava em desprezo<br />
para quem era menos, retira sua<br />
simpatia por não poder concordar<br />
com a falta de doçura. Assim, poderíamos<br />
dar incontáveis exemplos. É<br />
uma montanha de derrotas da Contra-Revolução<br />
por causa disso. Derrotas<br />
potenciais: antes de travada a<br />
batalha, a Contra-Revolução já perdeu<br />
terreno.<br />
Bondade hierárquica<br />
Dona Lucilia se<br />
apresentava com uma<br />
autoridade definida e<br />
firme, mas exercendo-a<br />
com doçura<br />
Apresentei os aspectos psicológico e tático; devo mostrar<br />
agora o caráter mais profundo, que atinge a própria<br />
ordem do ser e a própria natureza de Deus. Para um revolucionário,<br />
aquele que é maior do que nós não pode<br />
nos querer bem, mas nos despreza e deseja esmagar-nos<br />
para conter a nossa rebeldia.<br />
O conceito de luta de classes é este: O maior querendo<br />
sempre esmagar o menor, e o menor necessariamente<br />
se revoltando contra o maior. A concórdia entre as classes<br />
sociais, nunca; sempre a luta como desfecho. Segundo<br />
esta ideia, o Deus transcendente representa para a<br />
criatura humana uma classe diferente, e o homem deve<br />
tomar para si um outro deus — amigo, camarada, igual,<br />
o deus de todas as igualdades — e deixar de lado o Deus<br />
hierárquico considerado mau precisamente por ser sumo<br />
e hierárquico.<br />
Então este problema que, num primeiro<br />
momento, parece apenas psicológico,<br />
e depois, aprofundado, mostra<br />
também o aspecto tático possantíssimo,<br />
de fato é uma questão metafísica<br />
que se apresenta assim: É bom<br />
ou não que o homem seja inferior a<br />
Deus? Quem nos criou inferiores a<br />
Ele fez-nos um favor ou arranjou-nos<br />
uma prisão? Mas tudo envolve a questão<br />
da doçura: Terá faltado doçura a<br />
Ele ou não?<br />
A mentalidade revolucionária não acredita na harmonia<br />
como condição normal do trato humano. Ela crê apenas<br />
no interesse individual ou coletivo. Essa forma de<br />
afeto que consiste em sentir a harmonia ontológica entre<br />
uma pessoa e outra, a Revolução não tem; e Dona Lucilia<br />
transbordava disso. E daí vinha o fato de ser hierárquica<br />
sua bondade.<br />
v<br />
(Extraído de conferência de 20/2/1982)<br />
1) Emmanuel Joseph Sieyès (1748-1836). Eclesiástico, político<br />
e escritor francês imbuído das ideias revolucionárias. Votou<br />
pela morte de Luís XVI.<br />
2) Sistema social e político aristocrático em vigor na França<br />
entre os séculos XVI e XVIII.<br />
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