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Revista Dr Plinio 33

Novembro de 2000

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DONA LUCILIA<br />

mo não havia ainda chegado a era da<br />

fotografia, mandava ao Imperador<br />

medalhões em esmalte, reproduzindo<br />

as fisionomias das pretendentes, para<br />

que o soberano escolhesse a noiva.<br />

Quando chegou às mãos do Imperador<br />

o retrato da Princesa Teresa<br />

Cristina, filha do Rei das Duas Sicílias,<br />

sua formosura o encantou desde<br />

logo, e ele decidiu casar-se com<br />

ela. O matrimônio realizou-se por<br />

procuração e o irmão da noiva, o<br />

Príncipe Leopoldo de Bourbon Parma,<br />

conde de Siracusa, representou o<br />

augusto consorte na cerimônia. Pouco<br />

depois a princesa embarcou para o<br />

Brasil.<br />

Logo que o navio aportou no Rio<br />

de Janeiro, D. Pedro II, acompanhado<br />

da corte, foi a bordo receber, com<br />

toda a pompa, a esposa. Ao vê-la de<br />

longe caminhando em direção a ele, o<br />

monarca notou desde logo que ela<br />

mancava, e ao lograr discernir-lhe os<br />

traços do rosto, perdeu a fala. Em nada<br />

se parecia com a fisionomia do<br />

medalhão!<br />

Pelo protocolo, uma vez chegada<br />

diante dele, ela devia fazer uma reverência,<br />

a ponto de quase se ajoelhar.<br />

E, por sua vez, ele deveria segurá-la e<br />

beijar-lhe a mão. D. Pedro II, de tão<br />

aturdido, deixou que Dª Teresa Cristina<br />

tocasse com o joelho no chão...<br />

Naqueles bons tempos de honra e<br />

de compromisso sério, um matrimônio<br />

realizado, ainda que simplesmente<br />

por procuração, não mais era desfeito.<br />

Principalmente se os consortes<br />

fossem de Casas Reais. Assim, D. Pedro<br />

II se conformou com o irremediável<br />

drama que se estabelecera na vida<br />

de ambos. Por seu lado, quanto a Imperatriz<br />

desejaria que seu esposo jamais<br />

houvera tido aquela desilusão!<br />

O sofrimento de Dª Teresa Cristina<br />

crescia de intensidade por ocasião das<br />

festas na Corte, pois, devido a seu defeito<br />

físico, julgava que lhe era impossível<br />

dançar, não podendo portanto<br />

ser a alma daquelas solenidades sociais.<br />

Numa noite de baile no Palácio Imperial,<br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel — avô de Dª Lucilia<br />

— então deputado por São Paulo,<br />

Em razão de<br />

seu defeito físico,<br />

a Imperatriz<br />

Teresa Cristina<br />

costumava se<br />

isolar durante os<br />

bailes na Corte...<br />

ao percorrer aquelas belas e luxuosas<br />

dependências, encontrou Dª Teresa<br />

Cristina sozinha, meio tristonha, sentada<br />

no sofá de uma pequena sala, enquanto<br />

no salão vizinho todos participavam<br />

alegremente da dança, ao som<br />

de melodiosa orquestra.<br />

Ao vê-la ali isolada, dela teve pena.<br />

Aproximou-se, fez uma reverência,<br />

ela lhe deu a mão a beijar e o convidou<br />

a sentar-se numa cadeira ao lado.<br />

Com o incomparável dom da conversa<br />

que possuíam os Ribeiro dos Santos,<br />

em pouco tempo <strong>Dr</strong>. Gabriel proporcionou<br />

à Imperatriz a oportunidade<br />

de pensar noutros temas que não<br />

seus aborrecimentos. Em determinado<br />

momento, ele, que já observara como<br />

a soberana caminhava, surpreendeu-a<br />

com uma sugestão:<br />

— Se Vossa Majestade me der licença,<br />

posso tentar ensinar-lhe um<br />

modo de dançar...<br />

Dª Teresa Cristina, a princípio, não<br />

quis acreditar que fosse possível isso,<br />

mas <strong>Dr</strong>. Gabriel insistiu com muito<br />

respeito e lhe propôs fazer, naquela<br />

sala, uma experiência. A Imperatriz<br />

aceitou e ensaiou uns passos de dança.<br />

Ele ia explicando como apoiar<br />

com certo jeito o pé no chão, a fim de<br />

contornar a dificuldade, e ela rapidamente<br />

aprendeu como devia proceder.<br />

Ao perceber que já estava bem<br />

segura, Dª Teresa Cristina sugeriu a<br />

<strong>Dr</strong>. Gabriel entrarem no salão e dançarem<br />

na presença de toda a corte.<br />

Qual não foi a agradável surpresa dos<br />

presentes ao verem a Imperatriz, com<br />

toda a normalidade, constituir com<br />

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