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DONA LUCILIA<br />
mo não havia ainda chegado a era da<br />
fotografia, mandava ao Imperador<br />
medalhões em esmalte, reproduzindo<br />
as fisionomias das pretendentes, para<br />
que o soberano escolhesse a noiva.<br />
Quando chegou às mãos do Imperador<br />
o retrato da Princesa Teresa<br />
Cristina, filha do Rei das Duas Sicílias,<br />
sua formosura o encantou desde<br />
logo, e ele decidiu casar-se com<br />
ela. O matrimônio realizou-se por<br />
procuração e o irmão da noiva, o<br />
Príncipe Leopoldo de Bourbon Parma,<br />
conde de Siracusa, representou o<br />
augusto consorte na cerimônia. Pouco<br />
depois a princesa embarcou para o<br />
Brasil.<br />
Logo que o navio aportou no Rio<br />
de Janeiro, D. Pedro II, acompanhado<br />
da corte, foi a bordo receber, com<br />
toda a pompa, a esposa. Ao vê-la de<br />
longe caminhando em direção a ele, o<br />
monarca notou desde logo que ela<br />
mancava, e ao lograr discernir-lhe os<br />
traços do rosto, perdeu a fala. Em nada<br />
se parecia com a fisionomia do<br />
medalhão!<br />
Pelo protocolo, uma vez chegada<br />
diante dele, ela devia fazer uma reverência,<br />
a ponto de quase se ajoelhar.<br />
E, por sua vez, ele deveria segurá-la e<br />
beijar-lhe a mão. D. Pedro II, de tão<br />
aturdido, deixou que Dª Teresa Cristina<br />
tocasse com o joelho no chão...<br />
Naqueles bons tempos de honra e<br />
de compromisso sério, um matrimônio<br />
realizado, ainda que simplesmente<br />
por procuração, não mais era desfeito.<br />
Principalmente se os consortes<br />
fossem de Casas Reais. Assim, D. Pedro<br />
II se conformou com o irremediável<br />
drama que se estabelecera na vida<br />
de ambos. Por seu lado, quanto a Imperatriz<br />
desejaria que seu esposo jamais<br />
houvera tido aquela desilusão!<br />
O sofrimento de Dª Teresa Cristina<br />
crescia de intensidade por ocasião das<br />
festas na Corte, pois, devido a seu defeito<br />
físico, julgava que lhe era impossível<br />
dançar, não podendo portanto<br />
ser a alma daquelas solenidades sociais.<br />
Numa noite de baile no Palácio Imperial,<br />
<strong>Dr</strong>. Gabriel — avô de Dª Lucilia<br />
— então deputado por São Paulo,<br />
Em razão de<br />
seu defeito físico,<br />
a Imperatriz<br />
Teresa Cristina<br />
costumava se<br />
isolar durante os<br />
bailes na Corte...<br />
ao percorrer aquelas belas e luxuosas<br />
dependências, encontrou Dª Teresa<br />
Cristina sozinha, meio tristonha, sentada<br />
no sofá de uma pequena sala, enquanto<br />
no salão vizinho todos participavam<br />
alegremente da dança, ao som<br />
de melodiosa orquestra.<br />
Ao vê-la ali isolada, dela teve pena.<br />
Aproximou-se, fez uma reverência,<br />
ela lhe deu a mão a beijar e o convidou<br />
a sentar-se numa cadeira ao lado.<br />
Com o incomparável dom da conversa<br />
que possuíam os Ribeiro dos Santos,<br />
em pouco tempo <strong>Dr</strong>. Gabriel proporcionou<br />
à Imperatriz a oportunidade<br />
de pensar noutros temas que não<br />
seus aborrecimentos. Em determinado<br />
momento, ele, que já observara como<br />
a soberana caminhava, surpreendeu-a<br />
com uma sugestão:<br />
— Se Vossa Majestade me der licença,<br />
posso tentar ensinar-lhe um<br />
modo de dançar...<br />
Dª Teresa Cristina, a princípio, não<br />
quis acreditar que fosse possível isso,<br />
mas <strong>Dr</strong>. Gabriel insistiu com muito<br />
respeito e lhe propôs fazer, naquela<br />
sala, uma experiência. A Imperatriz<br />
aceitou e ensaiou uns passos de dança.<br />
Ele ia explicando como apoiar<br />
com certo jeito o pé no chão, a fim de<br />
contornar a dificuldade, e ela rapidamente<br />
aprendeu como devia proceder.<br />
Ao perceber que já estava bem<br />
segura, Dª Teresa Cristina sugeriu a<br />
<strong>Dr</strong>. Gabriel entrarem no salão e dançarem<br />
na presença de toda a corte.<br />
Qual não foi a agradável surpresa dos<br />
presentes ao verem a Imperatriz, com<br />
toda a normalidade, constituir com<br />
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