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Revista Dr Plinio 33

Novembro de 2000

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DONA LUCILIA<br />

Dª Lucilia compraziase<br />

em evocar fatos de<br />

sua vida passada,<br />

quando as famílias<br />

ainda conservavam<br />

traços patriarcais,<br />

criando em torno dos<br />

respectivos chefes um<br />

ambiente todo feito de<br />

respeito, tranqüilidade<br />

e benquerença, sob a<br />

bênção divina (ao lado,<br />

família e residência<br />

do Conde Álvares<br />

Penteado)<br />

prios. Seus numerosos membros conviviam<br />

muito entre si, pois se viajava<br />

pouco, e a vida familiar girava em geral<br />

em torno da casa do respectivo<br />

“patriarca”. Este, por vezes, chegava<br />

a reunir à sua volta gerações sucessivas<br />

de descendentes; mútuo respeito,<br />

cordialidade e atenção eram as notas<br />

tônicas do relacionamento entre eles.<br />

Nesse ambiente, coberto pela bênção<br />

de Deus, a serenidade fazia uma<br />

das alegrias da vida, a tal ponto que,<br />

ao se despedirem as pessoas, antes de<br />

se recolherem para dormir, não era<br />

raro ouvir-se:<br />

— Deus lhe dê uma noite tranqüila.<br />

Não era diferente a existência no<br />

palacete Ribeiro dos Santos. Por volta<br />

das cinco e meia da tarde os homens<br />

retornavam do trabalho e ficavam no<br />

living da casa, ou então no terraço,<br />

lendo o jornal e conversando distendidamente<br />

sobre tudo e sobre nada,<br />

enquanto desfrutavam a fresca brisa<br />

do entardecer.<br />

<strong>Dr</strong>. João Paulo, esposo de Dª Lucilia,<br />

junto com um cunhado ou algum<br />

irmão de sua sogra, saíam a passear a<br />

pé, após a refeição, enquanto as senhoras<br />

iam fazer tricot. Ao voltarem<br />

os homens, ficavam todos ainda longo<br />

tempo em conversa na sala, até que o<br />

relógio fazia soar lentamente dez badaladas,<br />

lembrando que o serão caminhava<br />

para seu fim.<br />

Que monotonia! será alguém levado<br />

a pensar, e talvez com certa razão.<br />

Porém, era essa mesma calma que proporcionava<br />

ao espírito humano condições<br />

para a reflexão, para o operar<br />

do pensamento, do qual brotariam as<br />

grandes realizações. Um dos frutos<br />

dessa tranqüilidade foi sendo destilado<br />

ao longo dos séculos, e resultou<br />

em precioso licor, que os homens civilizados<br />

degustavam agradados, e cujo<br />

segredo o infeliz habitante da babel<br />

contemporânea perdeu de todo: a<br />

arte de conversar.<br />

Nesta habilidade também se distinguiu<br />

Dª Lucilia, que a herdou de seus<br />

maiores e a soube cultivar de um modo<br />

tal que, ainda na extrema ancianidade,<br />

sabia como ninguém cativar<br />

seus enlevados ouvintes...<br />

(Transcrito e adaptado da obra<br />

“Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)<br />

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