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Revista Dr Plinio 64

Julho de 2003

Julho de 2003

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

culada. Não adianta um só passo, espera<br />

o Rei chegar ao ponto e, no momento<br />

de se pronunciar, apenas diz:<br />

— Não posso. Quanto a isso, dependo<br />

do Papa.<br />

Vem a saída débil do Rei:<br />

— Eu lá preciso do Papa para me<br />

dizer se estou em pecado ou não?<br />

De fato, ele só necessitava do Papa<br />

para anular o seu casamento. E o<br />

diálogo composto pelo roteirista do<br />

filme está primorosamente tecido, de<br />

maneira a caracterizar os personagens.<br />

Então o Rei faz o cerco dele,<br />

uma verdadeira guerra de nervos bem<br />

planejada: ora agrados exagerados,<br />

ora ameaça de chacal; ora se mostra<br />

como tendo grande esperança numa<br />

solução, ora com uma forte tentação<br />

de desespero. E a personalidade do<br />

rei é inteira calculada nessa perspectiva<br />

de antagonismos, é um homem<br />

todo feito de contradições.<br />

Elementos de grandeza e<br />

sacralidade<br />

Outros interessantes aspectos do<br />

filme merecem ser considerados.<br />

Rei à casa de Tómas Morus. O barco<br />

que traz o monarca é estupendo, de<br />

madeira ricamente entalhada, tendo<br />

na proa a escultura de um animal mitológico<br />

que parece segurar toda a natureza<br />

com a mão, e por isso se acha<br />

Dentro do horror<br />

da apostasia, um<br />

“canto de cisne”,<br />

o perfume da última<br />

cerimônia católica<br />

na ponta como extraordinária figura<br />

dominadora. Henrique VIII vem sentado<br />

debaixo de um magnífico dossel,<br />

cercado pelos numerosos cortesãos<br />

que fazem sala para ele. Quando<br />

o barco aporta, o Rei se ergue, os<br />

remadores levantam os remos, que<br />

se pensava serem inteiramente brancos,<br />

e, de repente, vê-se que as extremidades<br />

espalmadas são vermelhas.<br />

Todos permanecem eretos até o soberano<br />

descer.<br />

Outro trecho igualmente muito bonito<br />

como decoração tradicional, evoca<br />

um episódio tristíssimo: o momento<br />

em que os bispos da Inglaterra<br />

aceitam a supremacia do Rei sobre a<br />

Igreja. Começa a tocar um sino, entram<br />

vários prelados em cortejo, paramentados<br />

de acordo com a sua dignidade,<br />

e se formam sobre um alto<br />

estrado. Atrás deles se vê um grande<br />

Crucifixo. Dali a instantes surge um<br />

arauto do Rei e anuncia que este exigia<br />

a separação de Roma. Nesse momento<br />

o filme focaliza os rostos dos<br />

bispos, com expressões de dúvida e<br />

hesitação...<br />

Do lado “Ambientes e Costumes”,<br />

esta cena de apostasia nos faz compreender<br />

a bela e dramática história<br />

da Igreja na Inglaterra. Assim<br />

como, segundo narram as lendas<br />

mitológicas, o cisne proferia a sua<br />

mais bonita canção no momento de<br />

morrer — o chamado “canto do cisne”<br />

— assim se pode dizer que aquele<br />

episódio foi o “canto do cisne”<br />

da Igreja na Inglaterra. Na hora de<br />

expirar, ainda deitava o perfume de<br />

sua última cerimônia, maravilhosamente<br />

linda, dentro do horror que<br />

se praticava.<br />

Tome-se, por exemplo, os trajes do<br />

Cardeal Wolsey. Enquanto tais, são<br />

de uma magnificência que exprime<br />

de modo esplêndido a dignidade cardinalícia<br />

e a nobreza dos que são os<br />

primeiros suportes do Papa.<br />

Bela também, sob diverso ponto de<br />

vista, é a mesma cena da chegada do<br />

A cena é de uma grandeza, de uma<br />

seriedade, numa palavra, de uma sacralidade<br />

verdadeiramente estupenda!<br />

Um “canto de cisne”<br />

O filme se “escurece”: o<br />

processo<br />

A partir do momento em que São<br />

Tómas Morus se demite do cargo de<br />

Chanceler do Reino, o filme passa a<br />

ser escuro, transcorrendo em ambientes<br />

pequenos.<br />

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