Revista Dr Plinio 64
Julho de 2003
Julho de 2003
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alma e, ou a elevam pela humildade e pelo auxílio da graça<br />
de Deus até as alturas de uma contrição, ou a abatem,<br />
pelo desespero, até os extremos a que Judas chegou.<br />
Imagine-se, entretanto, que nesta alma desgraçada,<br />
pouco a pouco, os remorsos vão desaparecendo, até se<br />
transformarem em um vago rumor, que só de quando em<br />
vez perturba a consciência, logo abafado pelos ruídos das<br />
distrações mundanas. Evidentemente, o desaparecimento<br />
do remorso gera o desaparecimento da luta espiritual,<br />
e uma tranqüilidade embrutecida e opaca baixa sobre esta<br />
alma em que os últimos lampejos de virtude se extinguiram.<br />
Nesta alma haverá novamente<br />
tranqüilidade.<br />
Mas uma tranqüilidade<br />
que, sendo o triunfo da<br />
desordem, constitui uma<br />
desgraça mil vezes maior<br />
do que a intranqüilidade<br />
das torturas de consciência, e se encontra no extremo<br />
oposto da tranqüilidade ordenada e feliz, em uma palavra,<br />
da paz de consciência autêntica, do homem limpo e<br />
reto de espírito.<br />
O risco é estabelecer a injustiça<br />
como regra fundamental<br />
de ação e norma básica<br />
das relações entre os povos<br />
Para resumir: a tranqüilidade da ordem é um grande<br />
bem, e só ela merece o nome de paz. A luta gerada pela<br />
desordem é um mal incontestável; mas o maior dos males<br />
será, certamente, a tranqüilidade da desordem, a tranqüilidade<br />
das consciências embrutecidas no vício, dos corpos<br />
desmaiados pela moléstia, dos cemitérios onde a morte<br />
campeia como soberana [...].<br />
Só haverá paz no mundo com a obediência à<br />
Lei de Deus<br />
Estes conceitos merecem ser transpostos para o plano<br />
internacional. Só merece<br />
o nome de verdadeira paz<br />
a tranqüilidade decorrente<br />
da ordem das relações<br />
entre as nações. E como<br />
a ordem supõe obediência<br />
a Deus, só haverá ordem<br />
internacional quando<br />
houver obediência à Lei de Deus nas relações entre<br />
os povos. [...]<br />
Evidentemente, violações da Lei de Deus sempre as<br />
houve e sempre as haverá, com freqüência maior ou menor,<br />
na História da humanidade. Mas que se transforme<br />
a violação em direito, a desordem em hierarquia legítima<br />
e permanente, e se arvore como princípio básico e fundamental<br />
aquilo que é a negação radical e absoluta de toda<br />
a Lei de Deus, há nisto uma desordem monstruosa e profunda,<br />
com a tendência de se tornar definitiva, que deve<br />
apavorar todo espírito em que ainda bruxuleiam alguns<br />
lampejos, já não direi de senso católico, mas de simples e<br />
reta razão natural. Com efeito, o risco a que aludimos<br />
não consiste em uma simples injustiça. É na glorificação<br />
da injustiça como tal. É na consolidação da injustiça como<br />
regra fundamental de ação e norma básica das relações<br />
entre os povos.<br />
A paz internacional será uma paz autêntica, se ela for<br />
a conseqüência da aplicação dos princípios da Lei de<br />
Deus à vida internacional. Realmente, a Lei cumprida<br />
gera a ordem, e a ordem gera a tranqüilidade, e esta tranqüilidade<br />
da ordem será a paz.<br />
Será uma desgraça, já é agora uma desgraça catastrófica,<br />
que a tranqüilidade da ordem seja violada, e que esta<br />
violação traga lutas cruentas como aquelas que atualmente<br />
assistimos. A humanidade contemporânea pode ser<br />
comparada a um homem doente que se contorce tragicamente<br />
nos paroxismos da dor. E este espetáculo não pode<br />
deixar de concitar à piedade e à prece os espíritos compassivos.<br />
(Excertos de artigo publicado no “Legionário” de<br />
29/12/1940. Título e subtítulos nossos.)<br />
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