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ENTREVISTA<br />
Março 2017<br />
9<br />
sicos, sei também que sou um grande executante<br />
do cavaquinho e bandolim, sei que me<br />
desenrasco a cantar (pró que vejo por aí até<br />
nem canto nada mal) e as pessoas adoram<br />
ver bons músicos e bons executantes em<br />
palco. Concluindo e resumindo, o melhor é<br />
assistirem aos espectáculos para confirmarem.<br />
LZ— Disse há algum tempo que “90% dos<br />
chamados artistas, o sítio deles era no lixo”.<br />
Mantém a afirmação?<br />
ZZF— Não, infelizmente e com muita pena<br />
minha enganei-me, e assumo e corrijo o erro.<br />
90% dos “tais” que alguém (com muita lata<br />
e sem vergonha na cara) chama de artistas,<br />
agora são ainda em maior número, e andarão<br />
pela casa dos 95% ou até muito mais.<br />
Claro que estou a falar do pessoal que anda<br />
a sujar, emporcalhar e assassinar a área da<br />
música de inspiração tradicional e as verdadeiras<br />
tradições do nosso Portugal. Neste<br />
momento basta tocar uma concertina, juntar<br />
uns ritmos de kizomba, kuduro, forró ou<br />
cópias de música da América latina e já está<br />
o sucesso garantido. Somando as raparigas<br />
que pensam que são bailarinas e vão para os<br />
palcos quase vestidas ou quase despidas, já<br />
nem sei o que aquilo é, até parecem umas<br />
prostitutas, então é que é a confirmação do<br />
projecto. As prostitutas que me desculpem<br />
mais uma vez esta comparação, mas para as<br />
pessoas perceberem tinha mesmo que fazer<br />
alusão à vossa mais antiga profissão do<br />
mundo. Peço perdão. E tudo isto acontece,<br />
com total cobertura duma grande editora<br />
discográfica, e o “bolo em cima da cereja” é<br />
a apresentação dominical na nossa querida<br />
televisão privada. Eu, até já nem sinto tristeza<br />
por não aceitar convites de alguns canais<br />
de televisão. Como diz o meu grande amigo<br />
e jornalista António Luís Fernandes, “Está<br />
lindo, está”.<br />
LZ— A digressão 2017 está prestes a ter início,<br />
qual é o roteiro?<br />
ZZF— O roteiro, e como dizia o grande João<br />
Pinto (FC Porto), só gosto de falar no fim.<br />
Neste momento a agenda ainda está em fase<br />
de construção, apesar de já ter muita coisa<br />
agendada, mas ainda faltam várias datas já<br />
habituais que irão ser preenchidas. Posso<br />
dizer que arranca no dia 11 de Março, em<br />
Zurique, no Centro Lusitano de Zurique, e<br />
fazemos uma pausa em Novembro, para retomar<br />
em Fevereiro de 2018. e vai ser uma<br />
tour de dois anos em grande. Além de correr<br />
o pais de um lado a outro, como já é habitual,<br />
iremos também às ilhas, e claro está, à Suíça<br />
e resto do mundo. O que tenho marcado são<br />
realmente, e disso me posso orgulhar, boas<br />
festas. Esperem pelo arranque a 11 de Março<br />
da tour “Uma casa portuguesa”.<br />
LZ— É habitual os artistas lamentarem sempre<br />
o panorama musical português. O que<br />
pensa disso, é mesmo assim tão mau?<br />
ZZF— Em grande parte já respondi anteriormente,<br />
mas é normal os artistas lamentarem,<br />
e com toda a razão. Eu gosto de dividir o panorama<br />
musical português em dois: artistas<br />
dum lado, e os “tais” que andam na música<br />
porque alguém os deixou ou pôs lá, do outro.<br />
Quem anda a fazer a maior fatia de concertos<br />
em Portugal e diáspora portuguesa, e<br />
até me custa dizer o nome, são os chamados<br />
“tais” que andam na música porque alguém<br />
os deixou ou pôs lá. Então na emigração ainda<br />
é mais gritante, mas aí culpo as televisões,<br />
porque a pouca música que mostram aos<br />
emigrantes é precisamente a “tal”. E depois,<br />
mesmo lamentando a falta de qualidade da<br />
música que há “para comer”, levam os “tais”<br />
numa tentativa de mostrar e manter as tradições<br />
do Portugal que tanto amam. Acontece<br />
depois que os verdadeiros artistas, os que<br />
cantam, tocam e compõem temas musicais<br />
de excelência, não têm concertos, não têm<br />
suporte financeiro para manter a carreira e<br />
a casa. E o mais grave é que ninguém tenta<br />
fazer nada para inverter essa horrível tendência.<br />
Depois o pessoal não se a<strong>dm</strong>ire do<br />
estado do nosso país, que diga-se de passagem<br />
está muito lindo.<br />
LZ— O Mundo está a fervilhar, fala-se a toda<br />
a hora da crise, da terceira Guerra Mundial,<br />
há descrença e insegurança quanto ao futuro.<br />
Quer descrever o que pensa sobre a<br />
situação política e financeira actual, tanto a<br />
nível nacional, como internacional?<br />
ZZF— A terceira Guerra Mundial já nós a vivemos<br />
mal saímos da segunda, basta fazer<br />
uma análise muito rápida ao que tem acontecido<br />
pelo mundo desde aí: guerra fria,<br />
guerras grandes, guerras pequeninas, guerrinhas<br />
aqui e acolá, terrorismos, ódios étnicos,<br />
ódios religiosos, etc, etc, etc.<br />
Além disso, temos vivido uma época em que<br />
o capitalismo é rei e daí tiramos todas as<br />
consequências. Nunca o dinheiro valeu tão<br />
pouco e não chega para nada o que provoca<br />
insegurança familiar, ansiedade, nervosismo,<br />
tensão, inquietação, infelicidade, e até<br />
nos casos mais extremos, o suicídio. Tenho<br />
uma ligeira impressão de que já valeu a pena<br />
isto… e aqueles que dizem que caminhamos<br />
para a destruição estão bem enganados, já lá<br />
estamos, digo eu.<br />
LZ— Sei que será difícil concretizar-se, é<br />
utópico, mas se tivesse o poder durante um<br />
dia, o que mudaria neste mundo?<br />
ZZF— Esta é daquelas perguntas que todo<br />
o artista gosta de responder para fugir um<br />
pouco à rotina das perguntas da sua actividade,<br />
mas eu não vou estar aqui a dizer o<br />
que fazia porque, “o segredo é a alma do negócio”,<br />
e tenho isso já pensado para quando<br />
realmente tiver esse poder. E olha que já estive<br />
mais longe.<br />
Digo-te só que fazia tanta coisa para bem do<br />
mundo que antes do almoço desse mesmo<br />
dia já os “chefes do mundo” (Money, Money,<br />
Money...) andariam à minha procura para<br />
me darem dois calduços. Há até quem diga,<br />
que me matariam, mas quanto a isso ainda<br />
estou para ver o primeiro que me apareça<br />
pela frente com essa vontade. Não pratico<br />
rugby à toa. Já agora, e não querendo fazer<br />
publicidade, treino no CRAV – Clube de Rugby<br />
de Arcos de Valdevez que até já está a<br />
merecer uma reportagem aqui nesta vossa<br />
grande <strong>revista</strong>.<br />
LZ— Para finalizar, quer deixar uma mensagem<br />
de esperança aos nossos leitores?<br />
ZZF— Vou falar da minha área que é a música,<br />
e mais precisamente do folclore e das<br />
tradições da minha terra e do nosso Portugal.<br />
Como grande parte dos leitores estão<br />
emigrados, prefiro que sejam precisamente<br />
os emigrantes que enviem mensagem de esperança<br />
para a música portuguesa. Quando<br />
lutam anos a fio para manter as tradições<br />
portuguesas no vosso país de acolhimento,<br />
só peço para serem um bocado mais selectivos.<br />
Não escolham os “tais” só porque vão à<br />
televisão ao domingo, aliás, nem tudo o que<br />
dá na televisão é bom. Há um montão de<br />
pessoal que não vai às televisões que é mesmo<br />
muito bom. Se querem realmente ser<br />
fieis e manter as verdadeiras tradições portuguesas,<br />
não será certamente com os “tais”<br />
que cantam com ritmos de kizomba, kuduro,<br />
forró ou cópias de música da América latina<br />
que estarão no caminho certo.<br />
Eu sei que estou a ferir certas susceptibilidades,<br />
e que até tenho sido bastante penalizado<br />
na minha carreira por dizer o que me<br />
vai na alma, mas eu pelo menos sou sincero<br />
e verdadeiro no sentimento que nutro pelo<br />
nosso Portugal. Eu sou assim, quando subo<br />
a um palco não vou só, levo a paixão pela minha<br />
terra, pelo meu Minho e pelas tradições<br />
de todo o meu país. Há mais de 25 anos.