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01 - Além da Inocência

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Tiamat World<br />

<strong>Além</strong> <strong>da</strong> <strong>Inocência</strong><br />

Beyond 1<br />

Emma Holly<br />

vestidos de viagem, seis vestidos de noite, outros seis mais apropriados para<br />

vela<strong>da</strong>s com baile e Deus sabe quantos coletes, blusas e sapatos. Um só par de<br />

sapatilhas de cetim teria sangrado a carteira de Florence, mas tia Hypatia não<br />

tinha a intenção de que a loucura se detivera ali.<br />

—Se os levar, compraremos mais — afirmou—. E as pessoas vão se<br />

lembrar do que ela estava usando.<br />

—Já me sinto como se tivesse suficiente — se queixou Florence—. Começo<br />

a compadecer do meu pobre marido. Sua mulher terá umas dívi<strong>da</strong>s<br />

arrepiantes.<br />

Tia Hypatia riu e estampou um beijo na testa, mas Florence não tinha<br />

falado em tom de brincadeira.<br />

No sábado foi o dia em que apresentou seus créditos. Ou, melhor dizendo,<br />

as cartas com os cartões <strong>da</strong> duquesa de Carlisle apresenta<strong>da</strong>s com o nome de<br />

Florence escrito mais abaixo. Um dos serventes habituais as entregou.<br />

—Só enviei trinta — disse tia Hypatia—. Estamos sendo seletas.<br />

A Florence, trinta parecia um número muito elevado, mas assentiu como<br />

se o julgasse pouco. Era aquela hora aprazível antes de se retirar a dormir.<br />

Estava senta<strong>da</strong> aos pés <strong>da</strong> duquesa em sua penteadeira, com suas novas saias<br />

de musselina ao seu redor, aju<strong>da</strong>ndo a enrolar uma mea<strong>da</strong> de lã de caxemira.<br />

Era curioso não ter outras tarefas. Os Fairleigh, inclusive em sua época mais<br />

esplêndi<strong>da</strong>, nunca haviam possuído serventes suficientes para eximir a<br />

Florence <strong>da</strong> tarefa noturna de lavar pratos, conduzir água ou alimentar e cui<strong>da</strong>r<br />

<strong>da</strong> luz. Agora não tinha outra coisa que fazer que ouvir tia Hypatia, admirar os<br />

tapetes orientais, as preciosas aquarelas e o brilho do fogo na lareira que<br />

alguém tinha acendido para manter as frias noites de maio à distância.<br />

Começava a se sentir cômo<strong>da</strong> aqui. Muito cômo<strong>da</strong>, para falar a ver<strong>da</strong>de.<br />

—Que tipo de seleção temos feito? —perguntou, voltando para fio <strong>da</strong><br />

conversação.<br />

—Os capitalistas — disse a duquesa—, e aqueles que são tão interessantes<br />

que não podemos resistir. Infelizmente, são dois círculos que estranha vezes se<br />

juntam.<br />

—Exceto em seu caso, tia Hypatia.<br />

A duquesa recompensou sua provocação com um golpezinho de seu leque<br />

—. Não sou eu quem te ensinou a dizer esse tipo de cumpridos.<br />

—Não, Excelência — se atreveu a dizer ela—. Não teve tempo de fazê-lo.<br />

Tia Hypatia afogou um risinho.<br />

—Ai, menina, que agradável é te ver sorrir. Quando tem medo, aparenta<br />

muito magra.<br />

—É preferível demonstrar que alguém está aterroriza<strong>da</strong>, conforme<br />

acredito.<br />

—Sim — disse a duquesa, com um suspiro apagado—. Assim é. Acariciou a<br />

bochecha de Florence onde o fogo não a tinha esquentado. Foi uma carícia<br />

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