01 - Além da Inocência

Tiamat World
Além da Inocência
Beyond 1
Emma Holly
que podia levar um homem a tratar o seu cabelo como se corresse o perigo de
se converter em um selvagem? O que aconteceria, Florence se perguntou, se
ele o deixasse crescer?
A pergunta, certamente, não fazia sentido, e a resposta não era assunto
seu. Decidida a não continuar pensando nisso, curvou as mãos por diante e se
preparou para saudá-lo.
Ele se apresentou com sua habitual rígida inclinação de cabeça e cenho
franzido, um cenho que se voltou mais profundo quando dedicou um olhar ao
seu vestido cor adamascada de cintura baixo. Florence levava um de seus
novos espartilhos franceses, ajustado só um pouco mais do que era habitual. A
cor a favorecia, como favorecia o encaixe de seda que adornava o pescoço e as
mangas. O busto era modesto, a curva de sua polonesa não mais extravagante
do que poderia levar qualquer mulher de sua idade. Seu chapéu era uma
maravilha de simplicidade: um sombreiro de cetim inclinado com uma só
pluma branca no bordo, tão pequena que ficava presa de seu penteado em alto
como um pires a uma taça. Freddie tinha sofrido uma espécie de êxtase ao vêla
e tinha declarado que superava a algo inventado pelos pintores. E Freddie
sabia de moda. Por isso, Florença se recusou a acreditar que o cenho franzido
de Edward era devido a seu vestido.
Por dedução, isso significava que o cenho estava dirigido a ela.
—Florence— Edward disse, e não disse mais nada, depois ele se virou para
servir de escolta a sua tia.
A desilusão que ela sentiu quando ele desviou o olhar dela foi
completamente inexplicável.
—Tem certeza que quer vir? —sussurrou no ouvido de Freddie quando,
como o resto da multidão, começaram a subir a escadaria dupla que dava ao
salão—. Eu acho que você não tenha nunca ameaçado?
—Quem, eu? —Freddie abriu os olhos cheios de surpresa—. Deus, não. Eu
não poderia deixar de . Edward é um autêntico patrão das artes. Espera e
observa. Todo mundo começará a fofocar sobre como vai vestido cada qual e
quem corteja a quem, e já verá que nosso velho Edward fica olhando os
quadros. Ao parecer, Freddie pertencia aos grupos da fofoca. Assim que
entraram no salão, Florence o perdeu entre um grupo de homens que riam. Fez
gestos para que se aproximasse, mas ela não quis ir, não só porque seus
companheiros pareciam um tanto superficiais, mas sim porque desejava ver a
exposição. Isso era, para ela, o atrativo que tinha Londres. Não as festas, nem
as cartes de visite, a não ser se afundar no coração da arte e cultura. Quando
não divisou Edward nem à duquesa, se resignou a dar uma volta sozinha.
E, felizmente, ninguém prestou a menor atenção enquanto visitava uma
sala atrás de outra. Cada parede requeria um comprido momento de reflexão,
porque os quadros estavam pendurados uns em cima de outros, até o teto.
Para Florence não importava a confusão. Fascinava ver aquelas obras em
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