LEAL, Victor Nunes. Coronelismo Enxada e Voto
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municípios em partes iguais, excluídos, porém, os das capitais.113<br />
No plenário, duas emendas, assinadas por mais de 120 representantes de vários partidos,<br />
propuseram que a divisão se zesse entre os Estados e os Territórios, em partes iguais, para que cada um<br />
deles distribuísse a cota respectiva, também em partes iguais, por seus municípios. Foi o critério adotado<br />
pelo projeto revisto que manteve as capitais excluídas do rateio. Na votação nal, por emenda de Alcedo<br />
Coutinho, cou decidido que a repartição se faria diretamente entre os municípios, menos os das<br />
capitais, em igualdade de condições. A ideia de mandar aplicar pelo menos metade desse acréscimo da<br />
receita municipal em “benefícios de ordem rural” foi do deputado Paulo Nogueira. Entendia como tal<br />
abrir estradas, construir escolas e hospitais etc.114<br />
TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO DO NOSSO ATUAL “ENTERNECIMENTO MUNICIPALISTA”<br />
Quem compara os minguados produtos da campanha municipalista na Assembleia de 1933-34 com<br />
o êxito que essa mesma campanha obteve em 1946 não deixa de experimentar certa surpresa ante a<br />
relativa rapidez com que a ideia de fortalecer as finanças das comunas amadureceu e frutificou.<br />
É evidente que a anemia nanceira das municipalidades aumenta a sua dependência em relação aos<br />
governos estaduais e, consequentemente, favorece a submissão política dos chefes locais. Não faltariam,<br />
portanto, motivos de interesse, razões de poder, que contribuíssem anteriormente para manter a penúria<br />
orçamentária dos municípios. Mas buscar uma explicação puramente política para o fato seria atribuir<br />
ausência total de espírito público aos nossos homens de partido. Seria, além do mais, incoerente, porque<br />
muitos dos parlamentares que tiveram assento na Assembleia de 1946 também, foram constituintes em<br />
1934 e militaram na política da República Velha. Parece, pois, evidente que, além de motivos políticos,<br />
que deve ter havido, outros fatores terão concorrido para que, anteriormente, não se desse maior<br />
importância ao problema das nanças municipais. Do mesmo modo, em nossos dias, outros fatores, que<br />
não os políticos, terão contribuído para criar essa consciência difusa, mas atuante, de que era necessário<br />
aumentar a receita dos municípios, como instrumento de elevação do nível de vida das populações do<br />
interior.<br />
Essa consciência generalizada, a que aludimos, constituía o ambiente social propício, cuja falta, em<br />
1933, impedia que a Assembleia de então extraísse consequências concretas dos comovidos discursos,<br />
que à época se pronunciaram, da própria tribuna parlamentar, em favor da nossa desamparada gente do<br />
sertão; impedia até que aqueles mesmos oradores chegassem às conclusões objetivas que treze anos depois<br />
pareceriam mais ou menos óbvias.115<br />
Até agora, não temos feito outra coisa senão drenar a receita pública do interior para os maiores<br />
centros urbanos. O que toca aos municípios, dentre os tributos que seus habitantes pagam, ca muito<br />
abaixo do que é carregado para os cofres estaduais e federais.116 Ainda que não dispuséssemos de<br />
estatísticas, bastaria considerar que a última Constituinte achou demasiado atribuir aos municípios<br />
metade do excesso das rendas estaduais sobre as municipais arrecadadas em seu território; este simples<br />
episódio poria m a qualquer dúvida. Recebendo a União e os Estados a maior parte do que pagam os<br />
municípios do interior, a aplicação desses recursos tem revertido principalmente em benefício das capitais