Chicos 49
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<strong>Chicos</strong> <strong>49</strong><br />
Sem dúvida um autor que “ transforma num<br />
retrato em que nossa humanidade se reconhece”,<br />
como afirma Sérgio Fantini na apresentação<br />
da obra<br />
Por isso, Luiz Roberto Guedes está a merecer<br />
um lugar de destaque no cenário da literatura<br />
contemporânea brasileira, numa época em que<br />
mediocridades são incensadas sem pudor e autores<br />
de elevado nível estético hibernam nas gavetas<br />
ou são criminosamente negligenciados pela<br />
crítica rendida e a mídia vendida nesse mercado<br />
editorial massacrante e avassalador, com suas<br />
hegemonias e monopólios vergonhosos.<br />
Excertos:<br />
Deixou-se levara para fora da praia, e enveredaram<br />
juntos por um arvoredo cerrado, trotando<br />
na escuridão, em meio à cantoria de grilos, sapos<br />
e pererecas. Então ele ouviu música em<br />
crescendo, um tango estilizado de Piazzolla, e<br />
avistou com alívio a grande casa iluminada, com<br />
portas e janelas abertas. O lamento do bandoneón<br />
vinha do galpão nos fundos do terreno. O<br />
bicho largou o braço e latiu.<br />
(...)<br />
O professor conheceu a garota no quilômetro<br />
330 da via Anhanguera, quando voltava de um<br />
fim de semana chatíssimo no interior. A chuva<br />
de vento chacoalhava tanto seu carrinho popular,<br />
que ele resolveu parar num posto de gasolina.<br />
Tomando seu café espresso, observou-a pela<br />
vidraça. Imóvel, de camiseta e saia jeans, ela<br />
suportava o frio, os braços cruzados no peito,<br />
olhar fixo no céu fechado, a boca entreaberta. A<br />
estátua do estupor. Dezoito anos, no máximo.<br />
Leia um trecho do livro:<br />
Miss Tattoo estava em dia com os modelitos:<br />
um piercing na narina esquerda e um pino prateado<br />
trespassado no canto do supercílio direito –<br />
hum, aquilo devia ter doído paca. O vestido preto,<br />
justo e curto, dava pinta de uma falsa magra,<br />
com um belo par de peitos e pernocas de ginasta<br />
olímpica, apertadas numa meia arrastão. Enquanto<br />
ela arranhava o refrão de um rock da dupla,<br />
o tal Van Zyl tocava uma air guitar, rosnava<br />
um riff, sacudia o corpo e praticamente tilintava,<br />
de tanta argolinha pendurada na fuça. Mucho<br />
loco, bicho. Acho que senti, nesse primeiro<br />
contato, tanto repulsa quanto atração. Miss Tattoo<br />
& Mr. Monster pareciam ser o que havia de<br />
mais moderno na cena ‘rock horror show’.<br />
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