REVISTA GALERIA POR MÁRCIA TRAVESSONI - EDIÇÃO 05

Gabriela tinha apenas 6 anos quando soube que a mãe,
a médica Niedja Bezerra, perderia os cabelos. Mesmo
contrariada com a novidade, como se descobrisse que
a vida vai além do seu controle, ela não deixou cair
uma lágrima sequer dos olhos encharcados. Engoliu o
choro não chorado e partiu para consolar a mãe, que a
essa hora já desabava com a força da filha. “Não tem nada, não,
mamãe, tu vai continuar linda”, disse a pequena.
A história da nova Niedja Bezerra começou em janeiro de
2014, quando decidiu fazer uma mamoplastia e, por meio de
exames, percebeu-se uma alteração no baço, que mais tarde seria
denominada de linfoma pelos médicos. Um tipo de câncer. Mesmo
tendo feito a cirurgia para a retirada do tumor que já estava com
20 cm, ela ia passar por sessões de quimioterapia mensalmente,
em São Paulo. Foi quando ela se deu conta de que o cabelo cairia.
Ainda criança, todos os cortes de cabelo de Niedja eram
escolhidos pela mãe, Nadja Parente, que gostava da filha com o
famoso chanelzinho. “Eu sempre a arrumava, prendia, colocava
fivela. Ela concorreu algumas vezes à rainha da turma e ganhava
nessas brincadeiras de colégio. Sempre teve um cabelo muito
bonito”, lembra Nadja. Aos 13 anos, ela recorda que Niedja passou
a escolher os próprios cortes de cabelo e decidiu deixá-los crescer.
Assim como resolveu, na adolescência, que eles seriam longos,
decretou, décadas depois, que não esperaria o efeito agressivo
da quimio. Cortou e ganhou uma peruca e vários lenços do
esposo, Prisco Bezerra.
O cabelo foi uma parte relevante no processo de desnudar-se
e reconstituir-se de Niedja, ao longo do câncer. Um paralelo que
ela faz com a vida de uma borboleta. “É duro, eu tinha condições,
tive uma peruca, nunca usei de uma forma verdadeira porque eu
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