Foto: Polly do Amaral MATERNIDADE | <strong>por</strong> Cecília Alvim “O parto é da mulher” Movimentos denunciam a violência e propõem mudanças para promover o parto ativo e humanizado 30
Mírian Siqueira, instantes depois do nascimento na água de seu filho de 4 quilos, Luiz Guilherme, em julho de 2012 Lucimary Alves de Brito, 33 anos, desejava que sua segunda filha chegasse a esse mundo da forma que havia escolhido: através do parto normal. Desde o pré-natal manifestava ao médico essa decisão. No sétimo mês soube que estava com diabete gestacional, que foi controlado com cuidados extras. Grávida de sete meses, em uma consulta, foi informada que teria que desembolsar R$ 4.890,00 pelo parto, valor que poderia ser pago com uma entrada e um cheque. Estranhou, <strong>por</strong>que sabia que seu plano de saúde tinha cobertura para parto. Disse então ao médico que iria checar essa informação e que se fosse esse o caso, iria optar em ter a assistência de um médico plantonista. Na consulta seguinte, disse ao médico que sabia do seu direito de não ter que fazer o tal pagamento. O pré-natal prosseguiu e na consulta da 36ª semana, numa segunda-feira, foi pega de surpresa pelo médico que determinou que o parto teria que ser cesárea, <strong>por</strong> conta do diabetes, e que iria marcar para a sexta da mesma semana. Alegou que isso era necessário para que o bebê não corresse riscos. “Ele disse que eu poderia perder o neném, e fez um terror comigo e com meu marido. Assustados e preocupados com a saúde da nossa filha, acabamos consentindo”. Ela se submeteu à cesariana, a contragosto, em dezembro de <strong>2013</strong>. Ficou dois dias no hospital, onde soube que o mesmo médico realizou mais 11 cesáreas no mesmo dia, e que uma colega de enfermaria, que tinha passado <strong>por</strong> isso naquele dia, estava também com 37 semanas, antes do tempo habitual do parto normal. “Infelizmente, eu percebi que muitos profissionais não se preocupam com o desejo e o bemestar dos pais e da criança. Estão interessados em resolver suas agendas e ganhar dinheiro”, relatou. Quando chegou em casa, Lucimary se sentiu limitada para cuidar de sua filha <strong>por</strong> conta das dores e da recuperação da cesárea. Lembra que se recuperou mais rápido e se sentiu mais feliz com o primeiro parto, que foi normal, incentivado <strong>por</strong> profissionais do SUS. Disse ter ficado frustrada em não ter tido o sonhado parto normal, e chateada com o médico, que mudou de conduta na última hora, fez pressão psicológica pela cesárea agendada, não deu os esclarecimentos necessários, e, principalmente, <strong>por</strong>que não levou em conta seu desejo e decisão. Dias depois, em uma consulta, outra médica informou que o caso dela não era para indicação expressa de cesárea, ainda mais com 37 semanas. Ela chorou. Depois disso, ela considera que todo esse processo deixou marcas doloridas, justo num momento tão sublime: a chegada de uma nova vida… Violência sutil Ao longo da história, a mulher foi vítima de inúmeras formas de exploração e desrespeito <strong>por</strong> parte dos homens, reflexo de uma cultura de submissão e dominação patriarcal. Felizmente, essa situação tem mudado com o protagonismo crescente das mulheres no mundo atual. As mulheres já ocupam espaços iguais no mercado de trabalho, postos de comando e poder, além de chefiarem suas famílias, e cuidarem da casa e dos filhos. Nesse contexto de superação, no entanto, começa a se revelar uma triste realidade, um novo tipo de violência contra a mulher que se manifesta na gravidez e no parto. A mulher que gera um filho em seu ventre, e dedica um tempo-espaço significativo de sua vida para essa espera, cria uma grande expectativa quanto ao momento do nascimento. Acontece que esse momento do parto está sendo cada vez mais estigmatizado, pois tem sido negado à mulher o direito à escolha sobre o tipo de parto que deseja e, ainda, o direito à assistência humanizada <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2013</strong> 31